Os atentados contra quatro vans do transporte alternativo em Natal, no último sábado, expuseram uma disputa interna entre entidades que representam os permissionários do serviço. A Polícia Civil ainda não começou as investigações para tentar identificar quem ateou fogo em dois veículos e tentou depredar outros dois. Não existem suspeitos nem testemunhas identificadas, mas sobram acusações entre a Cooperativa de Transportes Alternativos de Natal (Transcoop) e o Sindicato dos Permissionários de Transporte Opcional de Passageiros do Rio Grande do Norte (Sitoparn).
Dirigentes da cooperativa acusam – sem dar nomes ou apresentar provas – integrantes do sindicato pelos atentados. Diretores sindicais rebatem as acusações, afirmando – também sem nomes ou provas – que existem “outras entidades” por trás dos incidentes, interessadas em “desestabilizar a categoria e tentar barrar as conquistas do sindicato”. A referência sobre conquistas é a questão da unificação com os ônibus convencionais para a bilhetagem eletrônica.
Da defesa ao ataque, o Sitoparn acusa a cooperativa de estar “burlando” a lei com a parceria entre permissionários filiados e o Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros do Município do Natal (Seturn). O acordo, pelo qual alguns cooperados operam linhas que seriam das empresas de ônibus, estaria – segundo o Sitoparn – “prejudicando o sistema de transporte alternativo”. “A lei não permite que o carro seja arrendado ou descaracterizado, mas você vê por aí, em alguns locais, veículos com as cores e logotipo das empresas de ônibus. Isso é pela falta de gerência da Prefeitura, que permite isso”, criticou José Pedro Neto, diretor de comunicação do sindicato.
Após os atentados registrados contra quatro veículos alternativos, o clima de medo dominava os motoristas que fazem parte da Transcoop. No final da manhã de ontem, a Polícia Civil ainda não tinha dado início às investigações sobre o caso. Sequer a perícia nos locais dos atentados e nos veículos atingidos havia sido feita pelo Instituto Técnico-científico de Polícia do Rio Grande do Norte (Itep-RN). Os casos serão apurados pela 12ª Delegacia de Polícia, mas a Transcoop já tem suas suspeitas.
A entidade está certa de que membros do Sitoparn são os autores dos atentados que causaram o incêndio em dois veículos, o atentado a tiros em outro e a pedrada num quarto alternativo. “Tem três meses que eles [Sitoparn] ameaçam a gente e até agridem nossos motoristas. Tem diversos boletins de ocorrência e nada foi feito. Hoje (ontem), na Prefeitura, eles estavam dizendo que ‘iriam para o pau’. Então não há dúvidas que foram eles”, afirma a presidente da cooperativa, Maria Edileuza de Queiroz.
Segundo ela, sindicato e cooperativa, juntos, detêm 86 veículos circulando na capital, sendo que 72 deles são de cooperados. A Transcoop possui uma parceria com o Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros do Município do Natal (Seturn), e existe uma briga interna pelo controle da venda e gerenciamento da bilhetagem eletrônica no futuro sistema unificado que está sendo negociado com a Semob. “Somos a maioria e não queremos que o Sitoparn gerencie”, comentou Maria Edileuza.
Em resposta, a diretoria do sindicato afirma que não há interesse algum dos sindicalistas em depredar veículos de colegas de categoria. Quanto ao termo “ir para o pau”, o diretor de comunicação, José Pedro Neto, conta que se necessário, nas manifestações, a categoria vai para as vias de fato, mas que “de cara limpa”.
“Não precisamos nos esconder. Quando fazemos algo é de cara limpa e não às escondidas. O que acho é que tem de ser realmente apurado pela polícia. Não tenho dúvida que tem gente fazendo isso para nos complicar, confundir a população. Tem ‘peixe grande’ fazendo isso e tem que ser descoberto. Toda vez que vamos dar um passo grande, como esse da unificação bilhetagem, acontece algo”, comentou José Pedro.
SEMOB anunciará termos de licitação: A Semob se defende da acusação do Sitoparn de não agir quanto a legalidade do acordo operacional entre a Transcoop e o Seturn para operar linhas que seriam concessões das empresas. Para Clodoaldo Cabral, secretário adjunto, “não dá para se prender à legislação, visto que no momento não há como gerir o sistema, sem a renovação da licitação. Na semana que vem a Semob vai apresentar, numa coletiva de imprensa, os termos da nova licitação. “Por enquanto, a alternativa é fazer pequenas adequações para manter o sistema funcionando”, disse Cabral.
“Acontece que todas as licitações estão vencidas e precisamos de uma nova para ter embasamento jurídico e punir aqueles que não cumprem as normas definidas. O que não dá é, por causa da legalidade, prejudicar a população. Então, como estão vencidas temos de fazer algumas adequações, como remanejar linhas de alternativos, como já fizemos, e permitir essas parcerias [com as empresas de ônibus]”, acrescentou.
Cabral afirma que a Semob mantém a fiscalização para controlar os horários definidos ou mesmo os itinerários, além da própria operacionalidade dos veículos. De acordo com ele, sem os termos que regularizam o setor, muitas linhas deixaram de operar sem que a Semob fosse comunicada, o que gerou uma desordem no sistema.
No caso da linha 314 (Nordelândia/Boa Esperança/Igapó) – onde operava um dos alternativos que foram alvos dos atentados – a concessão foi abandonada pela empresa Riograndense, que anunciou falência. A partir daí, segundo Cabral, a Prefeitura precisou se adequar para que a população local não fosse prejudicada. Outras linhas também passaram pelo mesmo processo de adequação.
“Mais de 20 mil pessoas moram ali, não iríamos prejudicar essas pessoas, que até fizeram um abaixo assinado pedindo uma alternativa. Então, tudo foi documentado e analisado por nós e autorizamos a parceria. Inclusive a ordem da secretário [Elequicina Santos] é que se façam essas parcerias dentro do limite”, explicou Clodoaldo Cabral.
Foto: Junior Santos (Tribuna do Norte)
Fonte: Tribuna do Norte