Na rotineira tarefa de conduzir de carro seus filhos à escola, pais e mães de todo o Reino Unido estão enfrentando pesadas restrições das autoridades locais, o que inclui até multas. A pressão faz parte de ações cada vez mais restritivas que vêm sendo assumidas por conselhos de comunidades locais nas áreas de trânsito e poluição.
À medida que o novo ano escolar começa, uma pesquisa feita nos conselhos distritais e municipais mostra que muitos estão aplicando leis que impedem que os carros parem fora dos portões da escola. Para fiscalizar as regras, estão usando câmeras CCTV e veículos móveis de monitoramento para reprimir os pais infratores.
No entanto, alguns estão indo mais longe, o que envolve fechar o tráfego nas ruas vizinhas às escolas durante o horário escolar. Em alguns casos, os pais podem sofrer multas de até £ 130 (mais de R$ 700) por dirigir nas zonas restritas.
Outras autoridades estão considerando “zonas sem marcha-lenta” com multas para pais e cuidadores que deixam os motores dos carros ligados enquanto saem para levar (ou buscar) seus filhos nos portões das escolas.
Em Solihull, município de quase 100 mil habitantes localizado no centro da Inglaterra, um programa piloto de “ruas escolares” está restringindo o trânsito nas ruas em torno de três escolas no início e no final do dia escolar, impedindo que pais e cuidadores parem seus carros para deixar as crianças.
Ted Richards, da equipe local de transporte, disse: “Sabemos que a maioria das pessoas dirige de forma responsável, mas isso muitas vezes pode ser caótico fora das escolas em horários de entrega e retirada de crianças”. Segundo ele, o objetivo do programa “ruas escolares” é criar “um ambiente mais seguro e mais agradável para todos em torno das escolas”.
Croydon, no sul de Londres, também criou restrições para o trânsito nas ruas fora de três escolas no início e no final do dia escolar. As câmeras automáticas que reconhecem as placas digitalizam os veículos que passam pelas áreas de restrição, e aqueles que não têm permissão de circular – válida apenas para os moradores e seus visitantes – enfrentam uma penalidade de £ 130 (mais de R% 700), ou £ 65 (cerca de R$ 350) caso a multa seja paga no prazo de uma quinzena.
Stuart King, membro da equipe local de transporte e meio ambiente, disse: “As câmeras temporárias de reconhecimento de placa ajudarão nossos gestores a tomarem uma decisão justa sobre quem pode dirigir pelas zonas pedestres e quem não pode, permitindo que os residentes, seus visitantes, funcionários escolares e motoristas que fazem entregas possam realizar seus negócios como de costume”.
Em outros lugares de Londres, Hackney, um dos 32 buroughs (distritos) da capital, adjacente ao centro, está planejando implantar um programa piloto de rua escolar em torno de cinco escolas. Camden, outro burough da capital inglesa, está executando um projeto piloto em área escolar que fecha a rua em frente à escola com cones no início e no final do dia escolar.
Edimburgo, capital da Escócia, iniciou um programa de restrições viárias em torno de várias escolas em 2015.
E seguindo a orientação de órgãos de saúde, que propõem que os pais devem enfrentar multas por violar “zonas sem marcha lenta” para proteger as crianças contra a poluição, o conselho da cidade de Sheffield, a sexta cidade mais populosa da Inglaterra, está estudando a possibilidade de expandir essas multas para além das áreas das escolas.
Paul Whiteman, secretário-geral do NAHT (National Association of Head Teachers), sindicato que representa professores na Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte, disse que muitos pais levavam seus filhos no caminho do trabalho, e muitas escolas e ruas do entorno não estavam equipadas para esta realidade, levando ao congestionamento e problemas de poluição e segurança de trânsito.
Para o líder sindical “as multas são muitas vezes uma ferramenta contundente para as autoridades usarem, e podem causar uma cisão entre os pais e as escolas, mesmo que os professores não tenham o papel de administrar esta situação”.
Whiteman acredita que os conselhos municipais “devem trabalhar com as escolas e as comunidades locais para garantir que as ruas em torno das escolas funcionem para todos”.
O ativista ambiental da Ong Friends of the Earth (Amigos da Terra), Aaron Kiely, descreveu os esquemas para reduzir o tráfego fora das escolas como “um passo positivo para proteger a saúde de nossos filhos”.
De acordo com ele existem “muitas formas imaginativas” para levar as crianças à escola, incluindo walking bus (ônibus a pé) e patinetes.
Steve Gooding, diretor de pesquisa da Fundação RAC (The Royal Automobile Club Foundation for Motoring), saudou o fato das crianças estarem sendo encorajadas a caminhar para a escola, mas observou: “Muitos pais que fazem malabarismos para percorrer o percurso entre a escola e seu próprio trabalho têm pouca escolha além de sair de carro, particularmente porque cada vez menos crianças estão indo para escolas mais próximas de suas casas”.
Sam Jones, ativista do Cycling UK (Ong de ciclistas do Reino Unido), advertiu que, sem investimentos suficientes em rotas de ciclismo e de caminhada, multar os pais representa uma abordagem de “all stick and no carrots”, uma expressão inglesa que significa dar muitas punições sem oferecer nenhuma recompensa.
Tradução e adaptação por Alexandre Pelegi de matéria publicada pelo jornal inglês The Guardian, no dia 6 de setembro de 2017
The Guardian – UK