Garagem.com: A Aventura de Seu João

João, nos idos de seus setenta anos, casado com a Maria, grande parceira ao longo de sua vida. Ele a conheceu ainda adolescente, quando ajudava o pai no roçado que tinha em Macaíba. Tempo de difícil, de muita pobreza. Juntos tiveram sete filhos, onde um já se foi e os outros moram no Sul.

Hoje é dia! Mesmo nessa idade, Seu João vai ter que ir ao Alecrim tirar o dinheiro de sua aposentadoria, além de aproveitar a feira e também rever alguns velhos amigos, pelo menos os que ainda estão vivos. Debaixo de sol, prefere sair de casa por volta das dez horas, pois tem menos gente andando de ônibus.

Assim, chega ele na Av. Mário Negócio, para esperar qualquer ônibus que passe pelo Alecrim. As opções são muitas. Seu João, Não se distraia olhando para o chão! Corra que já vem um ônibus! Vixe! Passou direto. Correr ficou no passado, quando pegar fruta nas quintas dos outros era possível. Que tempo bom!

Tudo bem, já no ponto, vem outro ônibus. Vem rápido! Mas felizmente para. Quem não para mesmo é a poeira, resultado do freio rápido do coletivo.Os óculos de seus sete graus em cada lente estãosujos, mas não há tempo para limpar. Há uma escada para escalar! Primeiro degrau, até parece que amarraram um saco de areia na perna de Seu João. Vai ter que ser um por vez.

Após algumas aceleradas do motorista, Seu João consegue subir os degraus do ônibus. Vixe, o povo anda muito mal humorado: todo mundo de cara fechada, e ainda na casa das dez horas, ainda tem gente dormindo! É Seu João, imagina se esse povo acordasse com o galo cantando?

Um jovem, porém, concede seu assento, já no meio do veículo. Nesse ínterim, as curvas fizeram Seu João lembrar seu tempo de mocidade, dos bailes que haviam. Dançava muito e ainda encontrava tempo para flertar com as moças.

Mas enfim, chega o Alecrim. Após vencer as escadas do ônibus mais uma vez, desce em direção ao banco, tirar esse merecido mas ainda soado dinheiro da aposentadoria.

O tempo mudou, muito! Menos o transporte, que tirando as cores, continua a mesma coisa dos anos oitenta. Mas as pessoas, ah, essas mudaram. Seu João respeitava os anciãos em sua juventude, e aguardava o mesmo quando sua vez chegasse. Mas agora, ele não é respeitado. É visto apenas como um fardo, um incômodo que atrasa os outros e que custa dinheiro para a sociedade. É Seu João, vá rever seus amigos, lembrar um tempo que nunca mais irá voltar.

Seu João é um personagem fictício, mas qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Por Rossano Varela

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