Rainoldo Uessler, administrador judicial nomeado para o gerenciamento do patrimônio da Busscar enquanto não se tem uma decisão judicial definitiva sobre a falência ou não da Busscar parece extremamente satisfeito com a volta da fabricação de ônibus na linha de produção da empresa. São cerca de 500 funcionários que foram chamados para voltar a ativa e trabalhar na produção de novas carrocerias. E o ritmo de trabalho começou intenso, pois a Busscar tem em mãos um pedido de 52 carrocerias de ônibus para serem entregues.
Essas 52 encomendas partiram de empresas que tem grande afeição pelos produtos da Busscar, que entraram em contato com o novo administrador depois de 31 de outubro de 2012, dia em que ficou estabelecido, mesmo que de maneira provisória, a decretação da recuperação judicial da encarroçadora. De lá para cá, após contornar todos os problemas pertinentes de reintegração de funcionários e de abastecimento de peças e componentes para retomar a produção, os colaboradores se empenham em turno único, horário normal, para dar conta de atender no prazo previsto a entrega dos novos ônibus.
Como o nome Busscar é forte, tem imenso apreço no Brasil e exterior, até porque as fabricantes concorrentes estão com suas carteiras de pedidos abarrotadas e demandando prazo de entrega bastante elástico, novos pedidos estão em negociação pela equipe de vendas da Busscar. Entre eles, o mais vistoso em termos de números, é o Projeto Guatemala. São 800 ônibus com valor estimado em R$ 130 milhões. É uma aquisição de grande porte que demanda contornar uma burocracia grande, mas a esperança do administrador judicial Uessler é fechar o negócio em breve, pois a Busscar tinha tradição no fornecimento de carrocerias para países da América Central e do Sul.
A retomada de pedidos, mesmo após seis anos da última remodelação (face-lifting) dos produtos do portfólio da Busscar, que foi em 2008, demonstra claramente que os ônibus da empresa ainda são competitivos e considerados modernos, com relação custo/benefício aprazível. O que já se tem de concreto em mãos, que são 52 ônibus na fase de montagem, desde os micro-ônibus aos Panoramico DD (dois andares), garantirá ao caixa da fabricante joinvilense R$ 25 milhões. Com isso em mãos, há dinheiro suficiente para garantir a normalidade, o dia a dia, como pagamento de fornecedores, impostos e a folha de pagamento. Mas, olhando para um horizonte mais amplo, a Busscar precisa de R$ 100 milhões na forma de capital de giro para fazer frente a todas as mazelas que a cercam, como a imensa dívida com os credores, que de uma forma ou outra precisarão ser quitadas.
No planejamento orçamentário feito pela equipe comandada por Rainoldo Uessler, levando-se em conta os contatos já feitos no final de 2013, 1.818 ônibus serão fabricados neste ano de 2014. Como a Busscar não tem condição de pleitear junto a bancos empréstimos ou vendas a prazo perante fornecedores de matéria prima, o jeito encontrado para retomar a atividade fabril foi a venda de um grande terreno em Joinville, próximo a fábrica, que pertencia ao grupo e também estava sob guarda do administrador judicial. A venda dele possibilitou o ingresso de R$ 6,2 milhões no caixa da empresa. Foi com este valor que se deu o passo inicial de retomada da produção. De lá para cá, a seriedade da nova direção, além das 52 carrocerias vendidas e do Projeto Guatemala, a expectativa do mercado é da recuperação gradativa da capacidade contábil da Busscar em gerar recursos para amortizar todos os seus débitos. Clóvis Squarezi Mussa de Moraes, advogado da ERS Consultoria & Advocacia, tem atuado firme e com objetividade na recuperação judicial da empresa.
São duas frentes de trabalho. Em São Paulo, Euclides Ribeiro Junior, sócio da ERS, batalha diuturnamente na negociação de dívidas e novos pedidos de ônibus. Se todas as previsões de vendas de ônibus se concretizarem para 2014, grande parte dos 1.100 funcionários que ainda não foram dispensados pela Busscar, pois não há recursos para o pagamento da rescisão contratual e depósito do dinheiro do FGTS, serão chamados de volta para trabalhar. E olha que eram 3.500 os colaboradores antes da crise econômica da antiga gestão.
O administrador judicial já entregou à Justiça a nova revisão das dívidas do grupo, com todos os valores corrigidos. Na primeira prestação de contas, os valores aferidos da dívida somavam R$ 623 milhões. Cerca de 1,5 vez o faturamento bruto anual da Busscar em 2004, pico da produção e faturamento da companhia, quando Edson Andrade ocupava a diretoria e era o principal gestor do grupo. É uma dívida possível de se pagar sim, pois os produtos Busscar tem nome no mercado. Os primeiros passos já foram dados. O primeiro foi a suspensão, através de Liminar conseguida junto ao Tribunal de Justiça, TJ/SC, dos efeitos da assembléia geral dos credores, que votaria o novo plano de recuperação judicial, que estava marcada para o próximo dia seis de fevereiro.
A desembargadora Cláudia Lambert de Faria considerou que o juiz da 5ª Vara Cível de Joinville, Marco Augusto Ghisi Machado, ao decretar a falência da Busscar, desconsiderou a decisão do próprio TJ, instância superior, de que o tempo hábil para apresentação da nova proposta de recuperação da empresa era pequeno demais, além de não ter convocado uma consulta aos credores para decidir quem seria o novo gestor do grupo. É o que diz a Lei 11.101, com texto alusivo a recuperação judicial e falência. Então, o que ocorre, é que esta assembléia que estava marcada para o dia 6.2.2014 está anulada, pois os credores precisam primeiro escolher um novo gestor e este tem 60 dias para apresentar um plano de recuperação judicial.
No texto da Liminar, a desembargadora considerou que o prazo concedido pelo juiz era exíguo, pois não considerou os feriados de Natal e Ano-Novo para a apresentação da nova proposta. Com isso, nem sequer tem-se a data marcada para a assembléia que elegerá o novo gestor da Busscar. A conquista da Liminar no TJ/SC foi uma vitória pessoal do advogado Euclides Ribeiro Junior (tinha de ser um Ribeiro, rsrsrs). Só para esclarecer, o juiz da 5ª Vara Cível, de Joinville, que tinha assinado a petição que decretava a falência da Busscar, em setembro de 2012, tinha dado prazo até sete de janeiro desse ano para a apresentação do plano de recuperação judicial e que a assembléia dos credores seria no próximo dia seis.
Rainoldo Uessler, o atual administrador judicial, permanece no cargo de gestor até que o TJ/SC determine a nova data da assembléia dos credores e julgue o mérito do processo, da suspensão da assembléia. Como decisões da Justiça demandam tempo devido a burocracia e ao excesso de recursos que podem ser protocolados, inclusive com recursos junto ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal, em Brasília, a Busscar seguirá o seu planejamento desse ano, onde consta a produção de quase dois mil ônibus.
O certo é que apesar dos atuais produtos fabricados pelos concorrentes, Marcopolo, Comil, Irizar, Mascarello, Caio e Ciferal conterem atualizações tecnológicas feitas de 2008 para cá, mesmo assim as carrocerias Busscar parecem manter-se competitivas e prontas para disputar o mercado de igual para igual em qualquer segmento do mercado, desde os micros, minis, leves, MD, HD, LD e DD, além dos urbanos. Sua fama e know-how obtido ao longo dos anos na fabricação de carrocerias com boa relação custo/benefício, longa vida útil e excepcional conforto aos passageiros mantém-se inalterada.
Precisará de breve face-lifting e de atualização do portfólio de produtos? Sim, com certeza. Mas seus ônibus ainda têm design atraente, moderno e “punch” suficientes para enfrentar a G7 da Marcopolo, os novos Roma da Mascarello, os Irizar e também as carrocerias urbanas, onde a Caio e a Comil avançaram sobremaneira sobre os clientes que um dia já foram Busscar, já foram Urbanuss. Não foi a Marcopolo com os seus Viale que abocanhou a fatia de mercado que era da fabricante de Joinville e sim a Caio e a Comil.
Fonte: Mobilidade em Foco