Milhares de estudantes britânicos faltaram às aulas nesta sexta-feira para participar de protestos nos quais afirmaram que os adultos não estão fazendo o suficiente para combater a crescente ameaça das mudanças climáticas e para exigir mais ação para proteger seu futuro.
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“Vamos voltar para a escola quando vocês esfriarem o tempo”, dizia cartaz na Praça do Parlamento em Londres, um dos mais de 60 locais em que ocorreram manifestações no Reino Unido, informou a “Youth 4 Climate” (jovens pelo clima, numa tradução livre), que organizou os protestos.
Os jovens manifestantes – alguns em seus uniformes de escola – assobiaram, cantaram e exibiram cartazes, e eventualmente fecharam o trânsito, do lado de fora do Parlamento britânico, e em dado momento subiram num dos tradicionais ônibus de dois andares da capital do país demandando “mudança agora!”.
Orla de Wardener, 10 anos, disse ter sido inspirada pelo exemplo de Greta Thunberg, estudante sueca de a 16 anos cujas manifestações contantes do lado de fora do Parlamento da Suécia ajudaram a espalhar o movimento internacional de estudantes.
– Fiquei totalmente fascinada por ela. Ela é demais – disse Wardener, aluna da Escola Primária de Weston Park, perto de Finsbury Park, no Norte de Londres, contando ter lido sobre a jovem sueca numa revista de ciência para crianças.
Os adultos não agem contra as mudanças climáticas porque “estão ligados demais ao seu dinheiro e seu trabalho. Eles não se importam”, avaliou Wardener vestindo um chapéu com um urso polar e segurando um cartaz colorido à mão com os dizeres “Seu fracasso, nosso futuro”. Já os políticos, afirma, “vivem sua e vida e não veem muito por que lutar pelo futuro”.
Iris Adderley, sua colega de nove anos, diz estar preocupada com a aceleração das extinções na natureza, e com o risco de elevação do nível do mar, o que pode inundar o país.
– Os adultos simplesmente não pensam o bastante nisso – opinou.
Já Nora Mackay, 15 anos, estudante na Escola Graveney, em Tooting, Sul de Londres, disse que a direção de seu colégio desencorajou os jovens a participarem do protesto, “mas mesmo assim todo mundo está aqui”.
– Meus pais me disseram para eu vir para a manifestação. O futuro do mundo é mais importante que um dia de aulas – acrescentou entre dezenas de colegas de sala com cartazes na praça.
Christiana Figueres, que era chefe da área de clima da ONU quando o Acordo de Paris foi assinado em 2015, disse esperar que os políticos ouvissem “a comovente voz dos jovens e estudantes, que estão tão preocupados com seu futuro”. Segundo ela, o fato de as crianças sentirem ser necessário fazer uma greve para chamar a atenção para o problema “é um sinal de que estamos fracassando em nossa responsabilidade de protegê-las dos piores impactos das mudanças climáticas”.
John Sauven, diretor executivo da organização ambiental Greenpeace UK, disse que os estudantes estavam entrando em ação porque “os jovens sabem que suas vidas vão ser mudadas radicalmente pelos impactos das mudanças climáticas”.
“Os riscos que os mais velhos pensam que vão driblar são os problemas que os jovens vão herdar”, alertou Sauven em um comunicado. “Estamos fracassando em trazer as mudanças que os jovens vão precisar, então não podemos culpá-los por agirem por si mesmos”.
As temperaturas globais estão na rota de uma elevação de 3 a 5 graus Celsius neste século, muito além da meta de limitar o aumento em 2 graus Celsius ou menos, lembrou a Organização Mundial de Meteorologia, ligada à ONU. Isso aumenta o risco de ocorrência de eventos climáticos extremos – inclusive piores secas, inundações, incêndios florestais e tempestades –, assim como ameaça piorar a fome, a pobreza e a falta de água.
Limitar estes riscos vai requerer “mudanças rápidas, amplas e sem precedentes” nos sistemas de energia do mundo e no comportamento humano, alertaram os cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) em relatório divulgado em outubro passado.
Os protestos desta sexta-feira no Reino Unido foram apenas os últimos em uma série de manifestações de jovens pedindo mais esforços dos governos para proteger as futuras gerações, muitas delas encabeçadas por pessoas novas demais para votar.
Organizadores dos protestos britânicos disseram que suas demandas incluem mais informações sobre a atual “crise ecológica” no currículo nacional, a declaração de uma “emergência climática” nacional e redução da idade para votar para 16 anos.
Muitos dos estudantes na Praça do Parlamento contaram estar agindo por conta própria para reduzir as emissões causadoras do aquecimento global, desde comer menos carne a voar menos de avião e andar ou usar bicicletas para se movimentarem.
Muitos disse que eles mesmos e colegas estão escolhendo escrever discursos e ensaios sobre as mudanças climáticas como parte de seus trabalhos escolares, e que viam a questão como um assunto importante nas mídias sociais. Muitos dos protestos desta sexta foram organizados pelas redes sociais, onde os participantes também informaram ter lido sobre as mudanças climáticas.
Zakiyya, 14 anos, que estuda na Academia para Meninas Clapton, em Hackney, no Leste de Londres, e que pediu para não ter o sobrenome divulgado, disse ter virado vegana no ano passado depois de saber como a produção de carne e laticínios gera emissões ligadas às mudanças climáticas.
– São nossas vidas, nosso futuro. Queremos viver, então precisamos de mudanças agora – contou, segurando um cartaz que dizia “estamos com medo. Escutem-nos!”.
Bruno Olliffe, de Norwich, no Leste da Inglaterra, disse que ele e sua família adotaram a reciclagem, mas que acha que a maneira mais poderosa de trazer mudanças é convencer os parlamentares da necessidade de agir – uma das razões de ter ido a Londres para os protestos com sua mãe.
– Agora eles estão muito ocupados com o Brexit – disse o jovem de 12 anos, acrescentando que quando o assunto são as mudanças climáticas “eles não percebem o quão ruim elas estão. Mas nós sim”.
Segundo o jovem, os discursos de Thunberg e do famoso naturalista britânico David Attenborough deixaram claro que “os impactos atingirão todo mundo, cada canto dele”.
– É o meu futuro, e eu não quero que ele seja arruinado – concluiu.
O Globo