O reconhecimento da bicicleta como modo de transporte avançou um passo importante esta semana nos Estados Unidos: a cidade de Cambridge, na região de Boston (Estado de Massachusetts), aprovou um decreto que determina a implantação de ciclovias segmentadas (protegidas) em todas as ruas que passarem por obras de melhorias previstas no planejamento urbano.
Cambridge, cidade universitária com mais ciclistas nos EUA. Créditos: Cambrige CDD |
O decreto, provavelmente o primeiro do tipo nos EUA, foi aprovado pelo conselho da cidade na segunda-feira (8), e permite que Cambridge – uma cidade universitária que já tem parcela excepcionalmente alta de ciclistas – se torne uma das cidades mais favoráveis à bicicleta do país.
Pela nova lei, qualquer via na cidade que seja reformada, ampliada ou reconfigurada, a partir de agora terá também que construir barreiras de proteção ao ciclista, ciclovias com faixas segmentadas entre a bicicleta e os carros, como estabelecido no Plano de Bicicletas de Cambridge. Exceções, somente em “circunstâncias excepcionais”, quando o gestor da cidade deverá citar em pormenor quais são as restrições físicas ou financeiras.
Planejamento urbano
Os responsáveis pela portaria dizem que isso não significa a cidade ter, de uma hora para outra, que fazer uma revolução, e transformar as ruas em canteiros de obras para a execução das ciclovias. As faixas permanentes para bicicletas aparecerão conforme a cidade for avançando no planejamento de sua infraestrutura viária, o que pode significar um processo de mudança até lento. Como o jornal Cambridge Day destaca, no ano passado a cidade construiu apenas cerca de 1.600 metros de novas ciclovias.
Ao mesmo tempo, os defensores das ciclovias dizem que continuarão pressionando para que a cidade implemente seus planos de infraestrutura o mais rapidamente, declarou Sam Feigenbaum, membro da Cambridge Bicycle Safety.
A aprovação de uma lei que, em qualquer caso de reforma da infraestrutura viária, exige também a obra de ciclovias segmentadas, é encarada como uma estratégia política que evitará que se tenha de rediscutir o assunto e criar polêmica toda vez que, por exemplo, um novo gestor é eleito, ou que moradores e comerciantes protestem, façam barulho, pela instalação de uma ciclovia nas proximidades. Em vez de negociar caso a caso, a lei apenas vai facilitar o cumprimento do plano de bicicletas que já existe na cidade.
Mas o fato é que, até agora, não houve na cidade protestos contra o decreto.
De acordo com os resultados da pesquisa bianual de Cambridge, cerca de 60% dos moradores dizem que querem ciclovias mais protegidas. E a lei pode ser replicada mesmo em cidades sem tanto entusiasmo pelo ciclismo, diz Feigenbaum.
Como mostram as pesquisas, o incentivo ao ciclismo pode gerar benefícios e atrair mais adeptos para a prática de pedalar. E, apesar de objeções por parte de comerciantes serem frequentes – e no Brasil não é diferente – há evidências de que as bicicletas também são boas para ajudar nos negócios. O investimento político de Cambridge até pode ser restrito a uma cidade, mas a expectativa é que renda benefícios também a outras localidades.
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