Caminhão terá emissão zero na UE até 2040

Do Valor Econômico
Foto: Ilustração

Com o compromisso europeu de descarbonizar a economia da região até 2050, todos os novos caminhões vendidos devem estar livres de combustíveis fósseis até 2040. Pela primeira vez, os fabricantes fixam sua própria meta para tornar o setor neutro em carbono e iniciam um plano em sintonia com a ciência. Para que seja cumprido, contudo, é preciso que os governos europeus invistam em uma grande estrutura de carregamento e reabastecimento de combustíveis limpos em todo o continente, desenhem políticas públicas e estabeleçam um preço para a tonelada de CO2 emitida que seja capaz de estimular a transição.

Esta rota para a neutralidade de carbono dos fabricantes de caminhões europeus foi selada esta semana em iniciativa inédita entre indústria e a ciência. CEOs das sete fabricantes de caminhões que atuam na Europa – Scania, Volvo, Daimler, Ford, Iveco, MAN e DAF – e a entidade que representa os 16 principais fabricantes de automóveis, vans, caminhões e ônibus da União Europeia, a Automobile Manufacturers Association (ACEA), assinaram uma declaração conjunta com um dos mais renomados institutos de ciência climática do mundo, o Potsdam Institute for Climate Impact Research (PIK).

“Esta é uma grande mudança tecnológica e 20 anos, para este setor, é um prazo curto. Significa que as decisões têm que ser tomadas agora. Os ciclos de inovação são de 10 anos, no mínimo”, disse ao Valor Johan Rockström, um dos maiores climatologistas do mundo e co-diretor do PIK.

Rockström lidera a iniciativa. Convidou, no meio da pandemia, os CEOs dos grandes fabricantes de caminhões na Europa para iniciar um diálogo. “Todos vieram”, diz. “Há um reconhecimento crescente que descarbonizar todo o setor de transporte é necessidade absoluta para termos qualquer chance de evitarmos impactos climáticos catastróficos”, diz.

“Para que o transporte rodoviário de mercadorias mantenha seu papel de servir à sociedade, precisa se descarbonizar rapidamente”, diz a declaração conjunta da indústria e dos cientistas. “Estamos convencidos que as novas tecnologias se tornarão a espinha dorsal do transporte rodoviário. Estamos investindo pesado em novas soluções, como combustíveis alternativos, baterias e hidrogênio”.

Para produzir caminhões zero carbono, a indústria diz que os governos precisam investir já em uma rede de “megacarregadores”. A infraestrutura de carregamento e abastecimento tem que ser “significativamente diferente daquela de passageiros”, continua a nota.

“Caminhões elétricos pesados têm alta demanda de potência e energia e exigem uma rede de megacarregadores para manter o fluxo de logística”, segue o comunicado. “Este não é um problema do ovo e da galinha. A infraestrutura tem que estar disponível agora”, cobra. “A transição começa agora, em 2020. Envolve uma reestruturação fundamental da indústria e da cadeia de suprimentos”.

Os fabricantes dizem que a parte fácil do quebra-cabeças é construir as estações de recarga. “Trata-se de equipar rodovias em toda a Europa, de Londres a Paris, de Berlim a Madri, de Madri a Roma”, diz Rockström. “A iniciativa irá falhar se os governos não indicarem o caminho com políticas”.

Segundo os fabricantes e os pesquisadores, um sistema sólido de preços ao carbono é um instrumento eficaz e necessário. Veículos com emissão zero não conseguirão decolar no mercado enquanto o diesel continuar barato.

O preço do carbono deve aumentar muito para que o setor consiga fazer a transição. A indústria pede ainda a inclusão no mercado de carbono europeu e taxas rodoviárias com base nas emissões de CO2.

“Este é o início de um longo processo”, diz Rockström. O que está em estudo agora é como a transição influencia a competitividade das empresas, quais são as políticas necessárias para ter sucesso, qual a infraestrutura que os investimentos necessitam, elenca.

“Precisamos nos afastar dos combustíveis fósseis o mais rápido possível”, diz Henrik Henriksson, CEO da Scania e presidente do Conselho de Veículos Comerciais da ACEA em nota à imprensa.

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