China promete ser neutra em carbono até 2060

Do Valor Econômico
Foto: Ilustração

O presidente chinês Xi Jinping surpreendeu ontem com o anúncio inesperado de que a China buscará ser neutra em carbono até 2060 e irá atingir o pico das emissões de gases-estufa antes de 2030. Foi a grande notícia da abertura virtual da Assembleia-Geral das Nações Unidas.

Xi afirmou que a pandemia “nos lembra que a humanidade deve lançar uma revolução verde e se mover mais rapidamente para criar um caminho verde de desenvolvimento e de vida”.

O maior emissor de gases-estufa do planeta prometeu aumentar seu compromisso no Acordo de Paris “adotando políticas e medidas mais vigorosas” em sua NDC, a sigla em inglês para a meta climática que os países adotaram voluntariamente no acordo.

Além disso, o presidente chinês convocou todos os países a seguirem o exemplo e “buscar um desenvolvimento inovador, coordenado, verde e aberto a todos, aproveitar as oportunidades históricas apresentadas pela nova rodada de revolução científica, tecnológica e industrial e alcançar uma recuperação verde da economia mundial na era pós-covid. E assim criar uma força poderosa e que impulsione o desenvolvimento sustentável”.

“Este anúncio de Xi Jinping vira o jogo”, disse ao Valor Mark Lutes, especialista em mudança climática do WWF Internacional. Até agora os grandes emissores, com exceção da Europa, resistiam a fortalecer suas metas climáticas como preconiza o Acordo de Paris. “Até agora, as intenções da China, o maior emissor de gases-estufa com um quarto das emissões globais, eram um mistério”, segue Lutes.

Ele observa que não se sabe, ainda, o que a meta revisada chinesa irá contemplar. “Com as enormes emissões chinesas, cada detalhe é importante”, registra. Mas Xi Jinping deu uma informação fundamental ao anunciar que o pico de emissões irá ocorrer antes de 2030. Os termos, no Acordo de Paris, eram mais vagos – “por volta de 2030”, diziam.

Esperava-se algo do gênero há alguns dias, em reunião de cúpula de Xi Jinping com a premiê alemã Angela Merkel, mas nada ocorreu.

“Este anúncio enviará ondas de choque positivas e deve suscitar maior ambição climática de outros emissores”, diz Helen Mountford, vice-presidente de Clima e Economia do World Resources Institute. Ela relativizou: “O diabo está nos detalhes. A China deve definir metas mais específicas, mas sua direção rumo a um futuro com carbono zero está entrando no foco.”

Ao FT, Li Shuo, especialista em política energética do Greenpeace em Pequim, disse que a promessa de Xi Jinping terá que ser detalhada e ter implementação concreta. “Como podemos conciliar a neutralidade em carbono com a expansão contínua do uso do carvão na China?”, ponderou.

De fato, a China procura estimular sua economia, afetada pela pandemia, com uma proposta forte de usinas a carvão, provocando a suspeita na comunidade internacional de que a retomada chinesa favorecerá as indústrias poluentes.

A decisão redesenhará a economia chinesa assim como a do bloco europeu, que quer ser descarbonizado em 2050. “A promessa de Xi Jinping é um movimento diplomático ousado que demonstra vontade política clara e o desejo de contrastar a postura climática da China com a dos EUA”, diz Li Shuo.

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