Do The Guardian – UK
Foto: Via Vincenzo Monti, Milão – ER’s Eyes – Our planet is beautiful / Visualhunt – Ilustração
Milão implantará um dos esquemas mais ambiciosos da Europa ao realocar o espaço das ruas destinadas a carros para o uso da bicicleta e do caminhar, em resposta à crise do coronavírus.
A região da Lombardia, cuja capital é Milão, está entre as áreas mais poluídas da Europa, e foi especialmente afetada pelo surto de Covid-19.
Sob quarentena rigorosa, como forma de evitar o contato social, o congestionamento provocado pelo tráfego de automóveis caiu de 30% a 75%, e com ele a poluição do ar. As autoridades da cidade esperam evitar um ressurgimento do uso de carros, já que os moradores retornam ao trabalho procurando evitar o transporte público movimentado.
Milão anunciou que 35 km de ruas serão transformadas durante o verão, com uma rápida expansão experimental para o ciclismo e para pedestres, como forma de proteger os moradores quando suspensas as restrições do Covid-19.
O plano “Strade Aperte” (Rua Aberta), anunciado nesta terça-feira, 21 de abril de 2020, inclui ciclovias temporárias de baixo custo, pavimentos novos e ampliados, limites de velocidade de 30 km/h e ruas prioritárias para pedestres e ciclistas.
Os locais incluem um bairro de baixo tráfego no local do antigo Lazzaretto, um refúgio para vítimas de epidemias de peste nos séculos XV e XVI.
Marco Granelli, vice-prefeito de Milão, disse: “Trabalhamos durante anos para reduzir o uso de carros. Se todo mundo dirige um carro, não há espaço para as pessoas, não há espaço para se movimentar, não há espaço para atividades comerciais fora das lojas”.
“É claro que queremos reabrir a economia, mas achamos que devemos fazê-lo de maneira diferente da anterior”.
“Pensamos que temos que reimaginar Milão nessa nova situação. Temos que nos redesenhar; é por isso que é tão importante defender uma parte da economia, apoiar bares, artesãos e restaurantes. Quando acabar, as cidades que ainda têm esse tipo de economia terão uma vantagem, e Milão quer estar nessa categoria”.
Milão é uma cidade pequena e densa, com 15 km de ponta a ponta, e 1,4 milhão de habitantes, 55% dos quais usam transporte público para chegar ao trabalho. O deslocamento médio é inferior a 4 km, tornando possível a troca de carros para modos ativos de viagem para muitos residentes.
As obras podem começar em um trecho de 8 km do Corso Buenos Aires, uma das ruas comerciais mais importantes da cidade, no início de maio – com uma nova ciclovia e calçadas ampliadas. O restante do trabalho será concluído até o final do verão, dizem as autoridades.
Janette Sadik-Khan, ex-comissária de transporte da cidade de Nova York, está trabalhando com cidades como Bogotá e Milão em seus programas de recuperação de transporte. Ela diz que Milão, que está um mês à frente de outras cidades do mundo na trajetória da pandemia, poderia fornecer um roteiro para as outras cidades.
“Muitas cidades e até países foram definidos pela forma como responderam às forças históricas, seja a reconstrução política, social ou física”, diz ela.
“O plano de Milão é muito importante porque apresenta um bom manual de como você pode redefinir suas cidades agora. É uma oportunidade única na vida poder dar uma nova olhada em suas ruas e garantir que elas estejam definidas para alcançar os resultados que queremos alcançar: não apenas movendo carros o mais rápido possível do ponto A ao ponto B, mas possibilitando que todos se movimentem com segurança”.
“Eu sei que vamos olhar para Milão recebendo orientação do que foi feito na cidade de Nova York.”
Pierfrancesco Maran, outro vice-prefeito de Milão, disse: “Deveríamos aceitar que por meses, ou talvez um ano, teremos uma nova normalidade e precisamos criar boas condições para viver essa nova normalidade para todos”.
“Acho que no próximo mês em Milão, na Itália, na Europa, decidiremos parte do nosso futuro para a próxima década. Antes, planejávamos 2030; agora, estamos chamando a nova fase de 2020. Em vez de pensar no futuro, temos que pensar no presente”.
No Reino Unido, na segunda-feira, 20, Brighton começou a abrir parte da orla marítima, Madeira Drive, apenas para pedestres e ciclistas das 8h às 20h. Em Barnes, Londres, empresas e moradores diminuíram uma parte da rua no setor de lojas para expandir o espaço para pedestres e assim ajudar os compradores a manterem distância um do outro.
Enquanto isso, na República da Irlanda, Dublin suspendeu áreas de carga e descarga, e vagas de estacionamento, para aumentar o espaço para o distanciamento social, usando separadores de plástico removíveis.