Do PORTAL UNIBUS
Foto: Reprodução (Folhapress / Folha de S. Paulo)
Enquanto cidades como São Paulo enfrentam desafios na expansão de suas frotas de ônibus elétricos, Bogotá emerge como um exemplo de sucesso nesse movimento. A capital colombiana já ostenta a segunda maior frota de ônibus elétricos na América Latina, ficando atrás apenas de Santiago.
Com um total de 1.486 veículos elétricos em operação, Bogotá representa um significativo avanço nesse setor. Esse número corresponde a 14% da frota total de 10,6 mil coletivos da cidade. Em contraste, em São Paulo, apenas 0,9% da frota atual é elétrica, contando com 118 veículos desse tipo entre os 13.289 coletivos.
A TransMilenio, empresa pública responsável pela gestão do transporte coletivo na cidade, desempenha um papel crucial nesse processo de eletrificação. Segundo Deysi Rodríguez, diretora de planejamento da entidade, os 1.486 coletivos elétricos em operação geram uma redução anual de 94 mil toneladas de gás carbônico.
Entretanto, os desafios persistem em São Paulo, onde a gestão enfrenta dificuldades para cumprir a promessa de encerrar o ano com 2.600 modelos de ônibus movidos a bateria, o que corresponderia a 20% da frota. A falta de garagens com infraestrutura adequada para carregar os veículos tem sido apontada como um dos principais entraves.
A Enel, concessionária de energia que atende o município, é apontada como responsável pela demora nesse processo em São Paulo. Em contraste, em Bogotá, o contrato com a Enel já inclui a responsabilidade da construção da rede de distribuição para o carregamento dos ônibus, além da aquisição dos veículos.
Especialistas apontam que o poder público brasileiro falhou ao não incluir a implementação da infraestrutura nos contratos com as concessionárias firmados em 2019. Somente em setembro de 2023 foi feito um aditivo para a subvenção da compra de ônibus elétricos em São Paulo.
Para Rafael Drummond, planejador urbano, “Não há qualquer compromisso, seja das operadoras, seja da prefeitura ou da Enel, de como e quando será feita essa implementação. Isso está criando uma barreira à entrada de novos veículos no sistema, pois a prefeitura proibiu a incorporação de veículos a diesel.”
A abordagem adotada por Bogotá e Santiago, que assumiram a responsabilidade da eletrificação e separaram todas as etapas dos contratos, tem sido destacada como um modelo eficaz. Em São Paulo, no entanto, a prefeitura espera que o setor privado resolva o carregamento ao invés de ter um projeto próprio, conforme aponta Rafael Calabria, coordenador de mobilidade urbana do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor).
Bogotá possui nove garagens com frota 100% elétrica, além de uma mista que abriga também ônibus movidos a diesel ou gás natural. A maior delas, da Green Móvil, tem 40 mil quilômetros quadrados e abriga 406 veículos, transportando diariamente 80 mil passageiros.
Inaugurada em abril de 2022, essa garagem custou R$ 100 milhões e conta com 119 carregadores com 381 dispensadores de energia que podem funcionar simultaneamente. Segundo Andres Cerquera, diretor de infraestrutura da Green Móvil, cada ônibus roda em média 210 quilômetros por dia, com autonomia para 266 quilômetros.
Outra solução inovadora foi a construção de uma garagem com sistema de carregamento aéreo, permitindo o carregamento simultâneo de 196 ônibus em uma área de 28 mil metros quadrados. Este projeto, propriedade da empresa La Rolita, é rodeado por um morro na divisa de Bogotá com a cidade de Soacha. O local conta com 21 supercarregadores em um mezanino de ferro, capazes de alimentar 183 mangueiras de abastecimento.
O tempo de recarga pode variar de duas a seis horas, dependendo da quantidade de veículos sendo carregados simultaneamente. Um supercarregador tem energia suficiente para abastecer cinco ônibus ao mesmo tempo.
Essas iniciativas têm colocado a Colômbia no radar das principais montadoras do setor. A chinesa BYD, por exemplo, fabricou 1.473 dos 1.486 ônibus de Bogotá, enquanto os outros 13 foram produzidos pela também chinesa Yutong.
Lara Zhang, gerente regional da BYD no país, destaca que Bogotá oferece segurança jurídica nas licitações e incentivos fiscais para importações de veículos, o que tem atraído investimentos significativos nesse setor.
Com uma abordagem focada na eletrificação e infraestrutura adequada, Bogotá está se consolidando como um exemplo a ser seguido não só na América Latina, mas também em outras partes do mundo onde a transição para a mobilidade elétrica é uma prioridade.