Petrobras diz que não vai mudar política de preços

Do Valor Econômico
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, afirmou ontem que não há nenhuma mudança na política de preços da estatal. O executivo fez a declaração horas depois de o presidente Jair Bolsonaro ter reclamado publicamente do preço dos combustíveis.

Em cerimônia dos mil dias do governo, Bolsonaro disse que ontem pela manhã teve conversa com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, para discutir o que poderia ser feito para diminuir o preço dos combustíveis na ponta. O presidente afirmou que gostaria que o litro da gasolina estivesse a R$ 4.

À tarde, Silva e Luna chamou entrevista coletiva e falou sobre os preços: “Continuamos trabalhando como sempre trabalhamos, acompanhando os preços [internacionais] para cima ou para baixo”, afirmou. O presidente da Petrobras disse que a empresa é de economia mista, sujeita a uma “rigorosa” governança. “Temos olhos presentes permanentemente acompanhando todas nossas ações”, disse.

O mercado recebeu bem as declarações da Petrobras. As ações ordinárias da estatal fecharam o dia a R$ 27,99%, alta de 1,56%, e os papéis preferenciais encerraram a R$ 27,14%, aumento de 0,89%.

Segundo Silva e Luna, há um conjunto de fatores que impactam diretamente a empresa “quase como uma tempestade perfeita”, em referência à elevação de preços no mercado internacional e à crise hídrica que atinge o país. O executivo disse ainda que “muitas vezes” a contribuição da estatal para a sociedade brasileira passa despercebida.

Ao detalhar a composição dos preços na bomba, Silva e Luna afirmou que o ICMS potencializa a volatilidade quando há aumento de preços. “Há muito tempo o Brasil pensa em como simplificar tributos, mas essa agenda não cabe à Petrobras.” O ICMS é o segundo maior peso individual na composição de preços da gasolina, atrás do valor de venda da Petrobras nas refinarias. Especialistas dizem que, como a alíquota incide sobre o valor final, acaba havendo bitributação, pois é calculada sobre o preço acrescido de outros tributos.

Sobre o atual patamar de preços dos derivados, o executivo ressaltou que a cotação do barril do tipo Brent, negociado em Londres, sinaliza elevação, o que indica a necessidade de a empresa fazer “algum movimento” nos preços.

O diretor-executivo de comercialização e logística da Petrobras, Cláudio Mastella, confirmou que a estatal avalia reajustes: “A mudança estrutural nos preços hoje é o aumento da demanda por diesel, que é sazonal, pela chegada do inverno no hemisfério Norte”, disse.

Mastella evitou falar da evolução dos preços dos derivados no país, alegando que o assunto é “bastante especulativo”, pois depende de variáveis como o preço do petróleo e o câmbio. “Temos evitado repassar volatilidades minuto a minuto, dia a dia, para o mercado interno”, disse o diretor.

O último reajuste anunciado pela Petrobras foi em 5 de julho, quando a estatal aumentou o preço do litro do diesel em 3,7%, para R$ 2,81, e reajustou o litro da gasolina em 6,3% para R$ 2,69. A sinalização de um novo aumento ocorre em momento em que concorrentes apontam uma defasagem nos preços praticados pela empresa em relação aos preços internacionais. Segundo a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), o preço do litro do diesel nas refinarias da estatal estava, em média, 14% abaixo da paridade internacional no fechamento de sexta-feira, déficit que era de 10% para a gasolina.

Para o analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, a sinalização de comprometimento da administração da companhia com os preços internacionais foi positiva, mas eventuais novos reajustes não devem ser suficientes para acabar com as defasagens. “A companhia vai realizar uma suavização do repasse dos preços internacionais, mas com um limite. Segue não muito claro como a empresa diferencia movimentos estruturais dos conjunturais para realizar os repasses”, disse.

Na avaliação da XP Investimentos, reajustes nas magnitudes necessárias para zerar as defasagens teriam impacto de 0,26 ponto percentual no IPCA deste ano.

Sobre eventuais subsídios aos preços do gás de cozinha, o presidente da Petrobras afirmou que o tema cabe ao governo, e não à companhia: “Quando é convidada, a Petrobras participa das discussões sobre subsídios, mas não capitaneia esses movimentos”.

O executivo reafirmou que a maior contribuição da Petrobras à sociedade é com o pagamento de tributos e dividendos e disse que há potencial para o aumento, este ano, do aporte de pagamentos aos acionistas. Silva e Luna disse ainda que cabe ao governo decidir a melhor forma de utilizar os recursos que recebe da estatal.

Em relação à falta de chuvas, que afeta os reservatórios das hidrelétricas e levou à necessidade de acionamento das térmicas, Silva e Luna afirmou que as termelétricas da companhia representam cerca de 3% da matriz energética do país, mas afirmou que, mesmo assim, a empresa vem agindo desde o ano passado para ampliar a oferta de gás ao país. O Brasil vive o período seco com o menor volume de chuvas dos últimos 91 anos.

Entre as ações para atenuar a crise, Silva e Luna afirmou que a Petrobras triplicou a oferta de gás em 12 meses. Além disso, o diretor-executivo de refino e gás natural da Petrobras, Rodrigo Costa Lima e Silva, ressaltou que este ano, até julho, o volume de gás regaseificado pela companhia chegou a 21 milhões de metros cúbicos por dia.

Lima e Silva também confirmou que a empresa deve concluir nesta semana o gerenciamento dos efeitos da parada para manutenção do gasoduto Rota 1, que estava afetando a geração de térmicas da companhia e de terceiros. O duto é responsável por levar para a costa gás natural produzido no pré-sal da bacia de Santos. (Colaborou Marta Watanabe, de São Paulo)

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