“Acreditamos que podemos ficar ricos ficando verdes”, diz embaixador britânico

Do Valor Econômico
Foto: Reprodução

“Independentemente do que os governos fizerem, investidores irão colocar seu dinheiro onde puderem conseguir emissões líquidas zero em 2050 e irão deixar de investir em quem não agir assim. É um sinal muito poderoso da comunidade financeira que está dizendo “não podemos tolerar mais esse nível de risco’”. A mensagem é de Peter Wilson, embaixador britânico no Brasil, que traduz o recado do mercado financeiro aos países que não têm metas de corte de emissões ambiciosas e bem estruturadas.

O Reino Unido sedia a CoP 26, a nova rodada de negociações das Nações Unidas em novembro, em Glasgow. É considerada evento tão importante para mudar o rumo da crise climática como foi o encontro em Paris, em 2015.

Há algumas cúpulas antes de Glasgow que podem adiantar a agenda. A do G-7, dia 11 de junho, que reúne as sete economias mais fortes do mundo e é presidida pelo Reino Unido, pode chegar a algum consenso sobre a taxa de carbono que a União Europeia pretende aprovar em breve e os Estados Unidos consideram, embora não a curto prazo. O Reino Unido tem abordagem pragmática sobre o tema. “Nossa ênfase tem sido no preço do carbono e no mercado como ferramentas fundamentais para descarbonizarmos a economia até 2050”, diz Wilson.

Um ponto importante é fechar a promessa dos países ricos de mobilizar US$ 100 bilhões ao ano, em clima, para o mundo em desenvolvimento, a partir de 2020. Até hoje não aconteceu – estima-se que estes recursos estejam em US$ 80 bilhões entre doações e empréstimos públicos e privados.

O embaixador alerta, contudo, que a despeito das decisões dos governos, o mundo está mudando de qualquer forma. Investidores, diz, evitam “países e empresas que desmatam irresponsavelmente”. E há uma tendência clara de se abandonar os combustíveis fósseis e limpar a matriz global de energia.

O Reino Unido, em 2012, tinha 40% da energia baseada no carvão. Hoje o percentual é menos de 2%. O país se tornou o maior produtor mundial de energia eólica offshore em 20 anos. Este movimento reduz o preço de energia no país. “Se o Brasil criar uma regulamentação para energia eólica offshore, poderemos investir”, avisa. “Queremos ser o país mais rápido entre os do G-7 a descarbonizar o transporte individual. Acreditamos que podemos ficar ricos ficando verdes”.

Há um recado sutil, mas claro, ao Brasil, nas negociações em torno do artigo 6, dos mercados de carbono. A estratégia britânica é “criar um mercado global dando preço ao carbono”, diz Wilson. “Se conseguirmos fazer isso, países como o Brasil irão se beneficiar maciçamente porque têm reservatórios gigantes de carbono.”

O porém fica por conta da integridade desses créditos e dos compromissos climáticos. “Empresas olharão para os melhores investimentos possíveis. Se houver dupla contagem em um país ou se houver metas de carbono de baixa qualidade, o mercado irá evitá-los e buscar créditos mais qualificados.” Na última CoP, em Madri, o Brasil foi acusado de defender uma proposta que possibilitava a dupla contagem de emissões.

Confira a entrevista completa. Clique aqui.

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