Do The Wall Street Journal
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Eletrocombustíveis atraem investimentos das gigantes do petróleo. A meta é produzir gasolina, diesel e querosene e capturar o carbono emitido pelos escapamentos
O velho motor a combustão pode ter uma sobrevida. Grandes empresas de petróleo estão investindo bilhões de dólares para desenvolver projetos de novos combustíveis sintéticos como forma de “neutralizar” as emissões de aviões, navios e automóveis, sem ter que substituir seus motores tradicionais. Conhecidos como eletrocombustíveis ou e-combustíveis, esses sintéticos são feitos pela mistura de hidrogênio derivado de fontes renováveis com dióxido de carbono capturado para criar uma versão “virtualmente neutra em carbono” dos combustíveis tradicionais: gasolina, diesel e querosene.
Os fabricantes de automóveis também estão investindo na tecnologia, alguns afirmando que os e-combustíveis podem ser uma forma de manter os carros mais antigos em circulação, ao lado de veículos elétricos e híbridos, como uma forma de transporte mais limpa.
Barreiras de custo
A tecnologia não é nova. Quase um século atrás, os cientistas alemães Franz Fischer e Hans Tropsch inventaram um método, conhecido como síntese Fischer-Tropsch, que mistura monóxido de carbono com hidrogênio para criar petróleo sintético.
Os entusiastas da ideia dezem que os combustíveis sintéticos têm muitas vantagens: podem ser misturados com combustíveis convencionais – densidade e qualidade são semelhantes – ou substituí-los completamente sem alterar dutos, estações de recarga e motores existentes. E também podem ser facilmente transportados e armazenados por longos períodos.
O custo, no entanto, continua sendo um grande obstáculo. Neste estágio inicial de desenvolvimento, os eletrocombustíveis ainda são quatro a seis vezes mais caros de serem produzidos do que os combustíveis convencionais antes dos impostos, de acordo com o grupo comercial eFuel Alliance.
Muitos dizem que o futuro desses combustíveis pode depender de os governos adotarem ou aumentarem os impostos sobre as emissões de gases de efeito estufa – o que tornaria o combustível convencional mais caro – e estimular a produção de hidrogênio verde por meio de subsídios e fundos governamentais.
Se o fizerem, as empresas de petróleo e gás devem ser capazes de fornecer CO2 capturado suficiente para produzir os e-combustíveis. Espera-se que os combustíveis fósseis respondam por uma grande parte da matriz energética mundial mesmo em 2050 e, ao desenvolver a tecnologia de captura de carbono, as grandes empresas petrolíferas poderiam continuar a produzir combustíveis fósseis, respondendo aos apelos para lidar com a mudança climática.
Indústria do petróleo se move
Alguns gigantes do petróleo já estão fazendo apostas. Na Espanha, a Repsol está investindo 60 milhões de euros, o equivalente a cerca de 385 milhões de reais, na construção de uma usina de combustíveis sintéticos que usa o CO2 capturado em uma refinaria de petróleo próxima a Bilbao. A planta, que deve entrar em operação em 2023, produzirá 50 barris de combustível por dia durante a fase piloto e, em seguida, aumentará a escala para distribuição comercial ao setor de transportes.
A gigante americana Exxon Mobil também enxerga uma oportunidade nos e-combustíveis e se comprometeu a investir 3 bilhões de dólares (mais de 15 bilhões de reais) até 2025 – cerca de 3% a 4% de suas despesas de capital anuais planejadas – em tecnologias de baixa emissão, como captura e armazenamento de carbono. A empresa também começou a trabalhar com a Porsche para testar os combustíveis sintéticos em carros. É uma aposta e tanto para evitar a morte dos veículos a combustão.
*Artigo originalmente publicado no The Wall Street Journal.
Traduzido e adaptado por Marcos de Sousa, do Mobilize Brasil