O cerco ambiental se fecha cada vez mais para o automóvel

Da Revista AutoBus
Foto: Marcopolo Colômbia/Colombia Bus

A cúpula do Clima, puxada pelos americanos, sob o comando do presidente Joe Biden, está propondo ações mais efetivas contra os gases de efeito estufa e obrigando os diferentes governos mundiais a assumirem compromissos mais firmes e concretos com relação as emissões.

Reduzir as emissões líquidas em pelo menos 55% até o final da década em relação aos níveis de 1990 e atingir zero emissões líquidas até 2050 é o que propõe o acordo que a União Europeia fechou no final de abril contra as mudanças climáticas, com novas e mais rígidas metas para gases de efeito estufa no centro de todas as políticas do bloco. Ainda dependendo de aprovação pelos parlamentos e governos dos 27 países, esse acordo deve acelerar o ritmo de redução das emissões de CO2 na próxima década em 2,5 vezes.

Infelizmente, enquanto isso, o setor automotivo brasileiro debate e tenta adiar por mais dois anos a entrada da norma PROCONVE 8 (equivalente à Euro VI, em vigor na Europa desde 2014). A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) sugere – uma breve readequação de prazos, em função dos atrasos provocados pela pandemia nos cronogramas de desenvolvimento, testes e homologações – para poder atender às novas normas na totalidade dos veículos produzidos no Brasil. “A segunda onda de Covid-19 no País acentuou os atrasos, em função dos protocolos sanitários necessários à proteção da vida de engenheiros, técnicos e pilotos de teste. Não fosse a pandemia, não haveria essa demanda da indústria, de caráter excepcional.”

Somos um dos maiores fabricantes mundiais de veículos automotores, incluindo automóveis, caminhões, ônibus e máquinas agrícolas, e o maior do continente. Mas não podemos produzir veículos que atendam níveis de emissões que a Europa já exige há sete anos, como vamos poder reduzir as nossas emissões nos prazos anunciados e ter um País mais limpo, sustentável e saudável?

É verdade que, de maneira geral, a nossa matriz energética é mais limpa e renovável, mas em matéria da implementação de veículos movidos a combustíveis sustentáveis, estamos atrás de vários outros com mercados até dez vezes menores que o nosso, como Chile e Colômbia, por exemplo. E a partir de 2025, a União Europeia passará a exigir a norma Euro VII e o rigor será muito maior, o que já fez com que muitos fabricantes anunciassem que não produzirão mais veículos com motores convencionais, exclusivamente alimentados por gasolina, gasóleo ou qualquer combustível fóssil.

A indústria mundial já dispõe de tecnologia para atender às novas normas, com a eletrificação e hibridização de veículos, e, nos últimos anos, alcançou uma redução impressionante nas emissões. Claro que isso implica e implicará no aumento ainda maior no preço dos veículos devido à quantidade de novos equipamentos e tecnologias para minimizar as emissões.

A Mercedes-Benz AMG e a Garrett Motion, líder em tecnologia e soluções para aprimorar a eficiência e desempenho dos veículos, apresentaram o primeiro Electric Turbo (E-Turbo) do mundo para veículos de passeio. O modelo da Garrett vai equipar os novos modelos híbridos da marca alemã e acelera as tendências globais de eletrificação.

O E-Turbo representa um marco importante e uma tecnologia-chave para que as montadoras superem os desafios da indústria para maior eficiência energética e novas metas regulatórias de emissão, como o Euro VII, por meio da eletrificação e da tecnologia híbrida que atende às demandas dos consumidores por melhor desempenho do veículo.

A tecnologia Electric Turbo da Garrett é um forte exemplo de como a indústria automobilística mundial está pronta para colaborar com as metas globais para redução de emissões. Por que então, optamos como País, por “ficar mal na foto” e aceitamos receber e produzir tecnologias ultrapassadas ou que, conscientemente, sabemos que não fazem bem para a sociedade e nem para o planeta? Lei do mercado?

Por José Carlos Secco
Diretor da Secco Consultoria de Comunicação

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