Do Expresso
Foto: Chris Helgren/ Expresso
Testes realizados pela Federação Europeia de Transportes e Ambiente apontam que emissões de CO2 dos carros híbridos ‘plug-in’ são o dobro do legalmente declarado
Um estudo da Federação Europeia de Transportes e Ambiente denuncia o “desastre ambiental” dos carros híbridos ‘plug-in’, que segundo comprovaram apresentam quase o dobro de emissões de dióxido de carbono (CO2) do legalmente declarado.
Os testes foram feitos “em condições reais” nos três modelos mais vendidos na Europa em 2019: BMW X5, Volvo XC60 e o modelo Mitsubishi Outlander.
Com base nas análises da Federação, a associação ambientalista Zero, de Portugal, a ela vinculada, soltou um comunicado divulgado no domingo (22) pedindo o fim dos benefícios fiscais àquele tipo de veículos (PHEV, na sigla em inglês).
Oito vezes mais CO²
“O estudo concluiu que, mesmo em condições de teste ótimas, em que os veículos são utilizados da forma mais moderada possível e com as baterias completamente carregadas, as suas emissões são 28% a 89% superiores às contabilizadas nos testes. Se forem utilizados em modo convencional, ou seja, usando exclusivamente o motor a combustão, estes carros emitem três a oito vezes mais CO2 do que aquilo que os testes indicam”, refere o comunicado da Zero.
A associação ambientalista acrescenta que “se adicionalmente o motor a combustão for utilizado para carregar as baterias – algo frequente antes de os condutores entrarem em zonas urbanas de emissões reduzidas – as emissões, de CO2 e em geral de poluentes com efeitos nocivos diretos na saúde, vão até 12 vezes acima das anunciadas oficialmente”.
Os testes constataram níveis de autonomia em modo elétrico inferiores aos informados pela fabricante, com o caso mais baixo correspondente “a uns meros 11 quilômetros”, além de concluírem que em condições reais de utilização “o recurso ao motor a combustão é constante”, o que significa que “estes automóveis só cumprem o anunciado nos catálogos em viagens muito curtas; por exemplo, numa viagem de 100 km, emitem até cerca de duas vezes mais do que o valor oficial”.
Emissões
Para a Zero, os testes que regulamentam oficialmente o nível de emissões destes veículos pecam por se basear “na suposição excessivamente otimista da parcela de utilização em modo elétrico, ou seja, o fator de utilização elétrica, resultando em valores de CO2 irrealisticamente baixos”.
Por isso, previsões mais de acordo com a utilização elétrica real colocariam os níveis de emissões em “valores oficiais entre 50% e 230% superiores aos atualmente em vigor”.
Truque de vendas?
A associação ambientalista refere o aumento de vendas de carros PHEV na Europa, com meio milhão de unidades vendidas em 2020, sendo que em Portugal foram vendidos até outubro 8.300 automóveis, “praticamente o dobro do que se vendeu no mesmo período de 2019”. Os novos limites em vigor na União Europeia obrigam os fabricantes a vender automóveis com baixas emissões.
A premissa do estudo era precisamente perceber se as emissões informadas correspondiam à redução para um terço das dos automóveis convencionais equivalentes, como os fabricantes anunciam, ou se “são um truque para cumprir os requisitos legais”.
Com base nos resultados, a Zero pede o fim dos benefícios fiscais e subsídios para a compra destes veículos, referindo que estes estão estimados em mais de 43 milhões de euros para 2020 em Portugal.
“Trata-se de um valor que está a ser desbaratado no apoio a uma tecnologia poluente e que por isso, recomendamos, deve ser canalizado sem demora para tecnologias verdadeiramente verdes”, defende a associação.
A Zero entende que estes apoios devem ser reservados para carros 100% elétricos, recomendando que numa fase transitória os apoios e acesso a subsídios sejam concedidos para veículos com uma autonomia mínima de 60 km e “acesso comprovado” a pontos de carregamento.
A nível europeu a Zero pede que deixem de ser atribuídos “supercréditos” à venda de carros PHEV e que os testes passem a ter por base condições reais de utilização. Sugere ainda que a Comissão Europeia legisle para que sejam contabilizadas as emissões reais, apuradas com base no uso registado no computador de bordo do veículo.