Do UOL
Foto: Claudio Olivares Medina/VisualHunt – Ilustração
Uma das tendências do retorno à vida pós-confinamento é a bicicleta como meio de transporte, principalmente porque permite o distanciamento social.
Muitas pessoas estão com medo de usar os transportes públicos quando a volta ao trabalho for inevitável. Poucas cidades na Europa têm condições de suportar mais engarrafamentos em um cenário pós-pandemia.
Além do mais, pesquisadores da Universidade de Harvard estabeleceram a primeira ligação entre ar poluído e o novo coronavírus. Segundo o estudo, pacientes de áreas muito poluídas antes da pandemia que contraíram a Covid-19 têm mais probabilidade de morrer do que as pessoas infectadas que moram onde o ar é mais limpo.
Então, nesta equação a bicicleta ganha do carro. E com isso, as principais cidades europeias estão aproveitando a crise do coronavírus para repensar a mobilidade urbana.
Ações concretas
Antes da crise do coronavírus, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, havia prometido que cada rua da cidade teria uma faixa para ciclistas até 2024. Com a chegada da pandemia, os políticos foram forçados a repensar mudanças rápidas e eficazes no sistema de mobilidade.
O medo do contágio nos transportes públicos fez a prefeitura liberar € 22 milhões para a criação de ciclovias temporárias. A partir de 11 de maio, a primeira fase de abertura da quarentena na França, os parisienses vão poder usufruir de 650 quilômetros de ciclovias pela cidade.
Em Bruxelas, a bicicleta também está sendo incentivada como alternativa ao metrô, ônibus e bondes. Desde o início da semana, 40 quilômetros de faixas para carros e estacionamentos foram transformadas em novas ciclovias nas principais vias da capital belga. Iniciativas semelhantes estão sendo criadas em Barcelona e Milão. Na Alemanha, o país dos automóveis, pedalar é um verbo cada vez mais conjugado em cidades como Berlim.
O futuro sobre duas rodas
Em um mundo pós-pandemia, o transporte coletivo vai precisar de mais tempo para encontrar uma solução segura para os passageiros. Neste momento, quando as ruas estão vazias, os governos estão tendo a oportunidade ideal para repensar mudanças no espaço público. Talvez as ciclovias temporárias possam se tornar permanentes.
Em um futuro mais sustentável, as calçadas e zonas de pedestres poderiam ser ampliadas e os centros de algumas cidades seriam desmotorizados, como em Oslo, capital da Noruega. “Da mesma forma que já é normal não fumar em ambientes fechados, em alguns anos, o uso desnecessário do carro será uma relíquia do passado”, comenta o governo norueguês.
“Paraíso dos ciclistas”
A Holanda tem 17 milhões de habitantes e 23 milhões de bicicletas. Um número que só comprova uma das tradições mais enraizadas do país desde o início do século XX. Até mesmo no pós-guerra, entre os anos 1950 e 1960, quando o carro era a promessa do futuro, ainda assim 20% da circulação era de ciclistas.
Mas como o país se tornou um exemplo de mobilidade urbana? Foram os protestos contra o alto número de mortes causadas por acidentes de trânsito o estopim para a mudança. Era início dos anos 1970, onde ativismo e desobediência civil estavam em ascensão. Na época, cerca de 3.300 pessoas das quais 400 crianças perderam a vida nas ruas das cidades holandesas.
Além disso, a crise do petróleo que quadruplicou o preço do produto fez as pessoas adotarem um novo estilo de vida para economizar energia. Aos poucos, os políticos começaram a entender a importância de investir em infraestrutura, educação e legislação para priorizar a bicicleta.
Hoje, a Holanda tem 35 mil quilômetros de ciclovias. Em Amsterdã, quase 65% dos habitantes pedalam todos os dias, o que não deixa de ser uma explicação para a fama de “paraíso dos ciclistas” que o país ganhou.