Patinetes elétricos: revolução no transporte ou novo pesadelo urbano?

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O boom das bicicletas compartilhadas tem levado cada vez mais “ciclistas eventuais” às ruas — inclusive no Brasil, onde esse meio de transporte se multiplica em capitais como Rio de Janeiro e São Paulo.
A oferta desse tipo de veículo cresce, assim como o número de adeptos.

Ao mesmo tempo, outro segmento ganha força de olho nesse nicho de mercado: é o dos patinetes elétricos, que avançam como opção prática e ecologicamente correta, despertando, simultaneamente, preocupações e restrições em alguns países.
A seguir, a BBC News mostra números e em que ponto está a discussão.
A ascensão dos patinetes
Os patinetes elétricos são vistos como uma opção mais prática de deslocamento pela cidade e também mais “limpa”, ou seja, menos poluente do que o carro ou uma moto, por exemplo.
O compartilhamento desses veículos, também chamados de e-scooters, é considerado o mais recente fenômeno de mobilidade urbana e sua ascensão tem sido vista como “meteórica”.
A Bird, primeira empresa a introduzi-los nos Estados Unidos, comemorou seu primeiro aniversário em setembro, registrando mais de 10 milhões de viagens realizadas em âmbito internacional.
O número de usuários chega a 2 milhões em cidades americanas e em capitais europeias. Mas não para por aí.
No mês passado, o produto foi lançado na Cidade do México e a chegada ao mercado brasileiro também está nos planos, com concorrência.
O sistema, no Brasil, já é oferecido, por exemplo, pela Yellow, que opera atualmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, e pela SCOO, que disponibiliza os veículos perto das principais ciclovias de São Paulo e anuncia no site que “em breve” estará em todo o país.
De vento em popa
A Bird contou em entrevista à Forbes que apenas dois meses após sua estreia em Paris, no verão, mais de 50 mil parisienses haviam aderido à novidade.
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Empresa afirma que em muitas cidades a maioria das viagens de carro é de curto percurso, o que abre um nicho para os patinetes (Foto: GETTY IMAGES)
Moradores da capital francesa agora podem escolher entre e-scooters Bird e Lime – empresa com mais de 13 milhões de viagens computadas em cidades que vão de Auckland, na Nova Zelândia, a Santiago, no Chile, passando por Portland, nos Estados Unidos e por Cingapura.
Start-ups do Vale do Silício, a Lime e a Bird estão avaliadas atualmente em US$ 1,1 bilhão (R$ 4,26 bilhões) e US$ 2 bilhões (R$ 7,75 bilhões), respectivamente.
O negócio parece andar de vento em popa no mundo desenvolvido, mas ele pode ganhar força também em outros lugares?
Potencial
A ascensão do sistema de compartilhamento de bicicletas mostrou o potencial de empresas que investem em mobilidade limpa, prática e alternativa para os viajantes urbanos.
De acordo com a consultoria de compartilhamento de bicicletas MetroBike, existem atualmente 18 milhões de bicicletas para uso público globalmente, acima dos 2,3 milhões registrados em 2016.
O site Bike-Sharing Map lista mais de 1.600 programas de compartilhamento de bicicletas, de Teerã a Havana, da Cidade do Cabo a Abu Dhabi.
Estima-se que apenas a China tenha 10 milhões de bicicletas espalhadas por mais de 300 cidades, em uma tentativa de limpar alguns dos ares mais poluídos do mundo.
Os patinetes elétricos querem uma fatia desse mercado, ajudando os passageiros a completarem o percurso.
Os usuários pagam por tempo pelo equipamento e os valores variam.
Vencendo o trânsito
A seu favor, a Bird diz que quase 40% das viagens de carro nas cidades são de menos de 5 km e, portanto, potencialmente substituíveis por uma forma alternativa de transporte.
A ascensão do sistema de compartilhamento de bicicletas mostrou o potencial de investimentos em opções alternativas de mobilidade (Foto: GETTY IMAGES)
No lançamento na Cidade do México, a empresa disse ter observado que os 20 milhões de habitantes da capital “sofrem com os piores congestionamentos e poluição do mundo” – com os motoristas avançando no trânsito a uma velocidade média de 10 km/h e levando 2,5 horas para chegar ao trabalho.
Além de ajudar a vencer o trânsito, os e-scooters são fáceis de estacionar.
Empresas que oferecem o serviço adotam o modelo “dock-free”, o que significa que não há um local específico para pegar ou deixar o patinete. Você o deixa em qualquer lugar que quiser depois do passeio e encontra o mais próximo usando um aplicativo para celular que também serve para desbloquear o veículo.
Essa tecnologia já é usada nos mais modernos sistemas de compartilhamento de bicicletas e é apontada entre as vantagens que levaram esse tipo de serviço a um boom na China.

Vantagem ambiental
Outro argumento a favor desses patinetes é ambiental.
A Bird afirma ter evitado a emissão de mais de 5.500 toneladas de CO2 (dióxido de carbono) na atmosfera — um dos gases causadores do aquecimento global — o que equivale a mais de 1 mil carros dirigidos por um ano.
Enquanto isso, a Lime se comprometeu a tornar toda a sua frota completamente “livre de carbono”, comprando créditos de energia renovável para compensar o carbono que é liberado quando suas e-bikes e e-scooters são recarregados.
Críticas e restrições
Mas nem tudo são flores no caminho dos patinetes elétricos. Em alguns locais essa onda tem enfrentado críticas e restrições.
Autoridades de várias cidades dos Estados Unidos, como Miami, São Francisco, Washington e Denver, limitaram o número de e-scooters nas ruas e até suspenderam os programas de compartilhamento dos veículos até encontrar uma maneira de regulamentá-los.
Questionado pela BBC News Brasil sobre as regras no país para o uso dos patinetes elétricos – ou seja, onde trafegar com eles é permitido, onde é proibido, qual a velocidade permitida e os equipamentos de segurança exigidos – o Ministério das Cidades informou, sem detalhes, que o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) ainda não possui normas específicas para esse tipo de transporte.
“A Câmara temática de engenharia (CTE) está estudando a possibilidade de inserir esse novo modal e suas regras para circulação no manual de mobilidade, mas o trabalho ainda não está concluído (nem há prazo definido para isso)”, disse o Ministério.
O órgão também informou que algumas companhias de engenharia de tráfego no país não consideram o patinete elétrico um veículo regulamentado, assim como ocorre com os skates, mas que monitoram a circulação deles nas ruas.
“(Elas) fiscalizam, por exemplo, a postura do condutor: caso ele não cruze a via na faixa de segurança.”
Ainda de acordo com o Ministério, “será necessário o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) verificar uma regulamentação específica e estabelecer, em função de suas características: o peso, a velocidade e a potência de sua bateria para que eles possam circular em ciclofaixas e ciclovias”.
Oferta excessiva
Turbinado com dinheiro de investidores e sem ter que arcar com os custos de estruturas físicas para atracação dos patinetes, o sistema é barato para as empresas, o que favorece uma oferta excessiva desse meio de transporte alternativo.
E aí também surgem críticas.
Em agosto, Madeline Eskind, funcionária do Twitter na Califórnia, publicou uma foto de Scooters da Bird abandonados em Los Angeles, chamando a imagem de “remake 2018 de ‘Os Pássaros’ de Alfred Hitchcock” – um trocadilho com o nome da empresa, que significa pássaro em português.
O clássico filme de suspense a que ela fez referência gira em torno de milhares de pássaros que se instalam em uma cidade e começam a atacar os moradores.
A brincadeira de Eskind viralizou, inspirando posts semelhantes nas redes sociais e criando uma saia justa para a empresa.
Riscos
Não muito tempo atrás, imagens de montanhas de bicicletas empilhadas – em uma espécie de “cemitérios de bicicletas” na China – sinalizaram que o marketing em torno da mobilidade compartilhada pode ser exagerado. E que o excesso de oferta pode ser um problema.
No caso dos patinetes elétricos, nem todo mundo está satisfeito com a ascensão deles.
Em Paris, onde viajar em calçadas estreitas a velocidades de até 25 km/h com esses veículos pode ser um risco aos pedestres, foi apresentado um projeto de lei que proíbe o uso deles nesses espaços.
Alexandra Ossola, editora do site Futurism, disse que eles podem ser até divertidos para alguns, mas não para todos.
“Os scooters podem parecer divertidos para quem está usando, mas eles são horríveis para todos os outros”, escreveu ela.
A julgar pelo bom começo que teve, o serviço de e-scooters poderia se tornar parte do cenário de mobilidade urbana compartilhada do futuro.
Mas se o coro achando esses veículos mais incômodos do que práticos aumentar, eles podem acabar se tornando só mais uma moda passageira.
BBC Brasil

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