Serviços de carona paga como Uber e Lyft transformaram a vida das cidades, quebrando o monopólio de motoristas particulares e empresas de táxi. Mas as duas empresas de tecnologia já foram alvo de ataques de administrações municipais por prejudicar o tráfego e reduzir a viabilidade do transporte coletivo. Agora, a maior cidade dos EUA – Nova York – promete iniciar uma guerra contra esses apps.
Nova York está prestes a se tornar a primeira cidade americana a ter uma estatística confiável sobre o total de carros dedicados a serviços de carona. Uma nova legislação impedirá a concessão de novas licenças enquanto um estudo de um ano analisará os efeitos dos aplicativos para o tráfego.
Não se trata da primeira cidade a brigar com os serviços de carona. Londres não renovou a licença do Uber no ano passado, embora tenha finalmente cedido no último mês de junho. Austin, no Texas, expulsou o Uber e o Lyft após esses serviços se recusaram a seguir medidas de segurança municipais – ambos retornaram em 2017. E também não se trata da primeira ofensiva de Nova York: em 2015, o prefeito Bill de Blasio tentou limitar serviços de carona. Desde então, o total de carros do gênero circulando pela cidade quase dobrou, atingindo 100 mil unidades.
Balança. Caso Nova York tenha êxito em limitar o Uber e o Lyft, outras cidades devem segui-la. O Uber e o Lyft dizem que seus serviços reduzem gastos em viagens de carros privados. Mas um novo estudo de Brune Schaller, um analista de transporte, mostra que os aplicativos adicionaram um total de 6 bilhões de milhas rodadas nas nove cidades incluídas no levantamento. Isso ocorre porque, em 60% das vezes que as pessoas usam esses apps, as pessoas teriam usado transporte público, ido a pé ou de bicicleta até seu destino. Em outros casos, elas simplesmente não teriam se deslocado.
Em áreas onde há pouco tráfego e o acesso a transporte é limitado, a ampliação do total de carros nas ruas não pesaria mais do que a redução de preço trazida pelos apps. Mas, em grandes cidades americanas e europeias, o Uber e o Lyft causam problemas, engarrafando as vias e tirando clientes do transporte público, que, para compensar a redução de usuários, precisa aumentar preços – alimentando ainda mais a demanda pelos apps.
Mas o que esses limites ao Uber e ao Lyft significam para o passageiro? No curto prazo, mais espera e preços mais altos. Mas, no longo prazo, haverá benefícios, como redução do trânsito e do tempo das jornadas, além de um transporte público mais sustentável. Ainda é uma incógnita se as vantagens duradouras serão suficientes para compensar o incômodo imediato. Pelo menos até as ameaças como as de Nova York se tornarem realidade.
O Estado de SP / Economist