Violência pode impedir ônibus urbanos de circular na Copa, dizem empresários

Os empresários de transporte urbano temem um crescimento exponencial dos ataques a ônibus pelo país com a proximidade da Copa do Mundo e dizem que podem parar durante os jogos para evitar prejuízos maiores. No dia 08, no Rio, mais de 450 ônibus foram depredados e atos de vandalismo ocorreram também em outras grandes cidades do país, segundo os empresários.
Para a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), há uma disparada no número de ataques a coletivos no país, principalmente nos grandes centros urbanos. A NTU faz um acompanhamento permanente dos ônibus incendiados em todo país. Nos últimos dez anos, foram 755, dos quais 289 apenas neste ano – sendo 169 em abril. “Há um recrudescimento preocupante, porque temos aí a iminência da Copa do Mundo, que, com base no que ocorreu em manifestações no ano passado, elas devem ganhar mais intensidade (durante os jogos), o que está sendo largamente anunciado. É preocupante para o setor, porque esse prejuízo pode ser muito maior”, disse Otávio Cunha, presidente da NTU, nesta sexta-feira.
Os empresários ameaçam não levar os ônibus para as ruas, se houver piquetes nas portas das garagens das companhias e se não sentirem um nível de segurança suficiente para ir à rua. Segundo a NTU, se houver risco, as empresas vão pedir reforço de segurança pública nas garagens e esperar um arrefecimento dos ânimos.
“Evidentemente que, se houver piquetes nas garagens e propostas de depredação, o empresário tem de tomar medidas acauteladoras quanto a isso. Isso é reconhecido pelo poder público, até mesmo para evitar prejuízo maior no dia seguinte, que é ofertar o serviço em muito menor quantidade. Isso não é uma atitude rebelde das empresas, agora causa muita preocupação no setor, porque isso pode levar a uma paralisação mesmo da atividade. Há um risco muito grande, principalmente na Copa. Em um momento de crise, até para a autoridade pública, colocar o ônibus de qualquer jeito na rua é, de certa forma, irresponsável”.
Para Cunha, as entidades de segurança pública não têm atendido aos pedidos da NTU por providências para diminuir os impactos sobre o setor. Segundo ele, até a presidente Dilma Rousseff foi procurada desde o ano passado, mas, até agora, não houve providência em termos práticos. “Fica a atividade, que é essencial para a população, à mercê dessas manifestações, que tem todas as origem, como o crime organizado e os interesses políticos. Quem fica prejudicada é a população de uma forma geral com a menor oferta de serviços e os empresários que estão arcando com os prejuízos diretos disso”.
Para a NTU, os atos de depredação no Rio, “aparentemente”, ocorreram por conta de uma dissidência do sindicato local de Rodoviários. No entanto, foram percebidas ações parecidas em outras grandes cidades do país. “Mas, por trás disso, as informações que se tem é de um movimento político-partidário por trás. Mas, simultaneamente, uma ação que ocorreu no Rio se desdobrou para outras cidades, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza. Várias cidades tiveram ações semelhantes, também com depredações, mas percebemos que não é uma dissidência do sindicato do Rio que causou depredação em Santa Catarina”.
Mas, se as motivações são político-partidários e não se referem diretamente à atividade de transporte público, por que os ônibus urbanos foram escolhidos como alvo principal para essas manifestações no Rio e no país como um todo? “O ônibus dá mais visibilidade à ação. Um ônibus incendiado chama mais atenção do que uma agência bancária, e geralmente não é só um. Estamos banalizando essas ações de depredação (de ônibus)”, avalia o presidente da NTU.
O presidente da NTU reconhece, porém, que existe uma percepção popular média negativa com relação aos empresários do setor de ônibus. Nos últimos anos, eles estiveram no centro de polêmicas em grandes cidades como Rio e São Paulo e, mais recentemente, procuram se adaptar a relações mais formais com o poder público, por meio de contratos de longo prazo que inexistiam no passado.

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