Muito tem sido falado sobre crises no transporte, nas mais variadas esferas. Mas, parece-me que há outra crise – quase silenciosa – que é negligenciada por muitos, e esta envolve uma categoria que outrora fora valorizada e muito respeitada, com direito a status. Se você pensou nos motoristas de ônibus, acertou.
Tenho notado o quanto esses profissionais, que trabalham no eleito pior emprego do Brasil, vêm andando no limite. Repare bem que a maioria anda com semblante abatido, fora o já companheiro estresse. Eles mesmos já se encontram com uma autoestima baixíssima, sendo possível ouvi-los dizer: “não estudei, agora estou aqui”.
Honestamente, vejo os motoristas de ônibus com os mesmos olhos que vejo os médicos, por exemplo. Ora, sem ambos, há caos. Quando eles entram em greve é uma agonia só! A cidade para e tem sua rotina completamente alterada. Inclusive é justamente durante a greve que eles são finalmente percebidos pela população.
E também é difícil não enxergar o quanto eles são explorados em algumas empresas de ônibus, cumprindo dupla função, dobrando a escala, entre outras ações que geram graves consequências para as sanidades física e mental do trabalhador. A quantidade de motoristas que vão para a perícia é uma prova.
Há solução? Sim, claro! Alguns problemas podem ser resolvidos a curto prazo, como as condições de trabalho; outras, como a recuperação do prazer no trabalho e o aumento na autoestima, vêm com o tempo. O fato é que é preciso que os gestores, públicos e privados, deem mais atenção a esse ofício tão bonito, tão importante, que é transportar vidas.
Por Rossano Varela