Um meio de mobilidade com recursos assegurados é praticamente invisível frente à existência local. Com o foco apontado para a realidade, é notória a complexidade do transporte na região metropolitana e no sistema rodoviário do Rio Grande do Norte: Difícil integração entre as cidades da região metropolitana e a capital; muitas áreas sem, se quer, transporte público digno; e a degradação, de maneira geral, na operação do sistema, devido à invasão de clandestinos.
Midiaticamente falando, os empresários fizeram uma mágica, apresentando a proposta de uma grande licitação envolvendo toda a região metropolitana de Natal. Lógica e prática, a necessidade de deslocamento atualmente para os municípios próximos a capital é imensa e as dificuldades ainda maiores, o que seria suprido pelo novo sistema, único, e extremamente eficaz para atender um entorno que fatalmente ‘incha’ mais a cada dia e enfrenta entraves banais de mobilidade. A maior contrapartida do governo do estado seria a estruturação do DER – Departamento de Estradas e Rodagens – para um grande Órgão Gestor, que teria que ter plena capacidade de gerir o novo sistema. E o maior problema seria uma briga política que, neste caso, falaria mais alto. Hierarquicamente, os estados são maiores que os municípios, e o país maior que os estados (e, logicamente, também sobre os municípios). Um pode, nesta ordem, intervir o outro. Recentemente, a mídia local cogitou a possibilidade do Governo do Estado realizar as obras de mobilidade de Natal, frente à falta de ação da Prefeitura de Natal. A governadora foi cautelosa, alegando que o governo só interviria se a prefeita pedisse. Certamente ela não quer enfrentar a briga política.
O exemplo das obras pode ser trazido também para a questão do transporte. Assim como há uma fé implícita da população em que o governo faça a coisa ‘sair do papel’, a licitação metropolitana se torna mais complexa porque a necessidade e praticidade são maiores que qualquer obra para a Copa do Mundo em 2014; Ou seja: Se, por um acaso, a prefeitura de Natal não conseguir realizar as obras, a Copa acontecerá sem as mudanças na cidade. A integração metropolitana é mais complexa porque independe de Copa do Mundo de futebol, é uma necessidade. O primeiro ponto levantado para a licitação metropolitana é o fim das secretarias de transportes dos municípios, que seria, no novo sistema, geridos pelo DER. Neste caso, as secretarias de transportes dos municípios da região metropolitana de Natal se voltariam exclusivamente para o setor de trânsito, já que todo o transporte seria responsabilidade do Governo. As prefeituras não deverão ver isto com bons olhos, principalmente pela questão financeira – boa parte dos impostos arrecadados pelas prefeituras é proveniente dos serviços de transporte. O governo iria, praticamente, ‘dar uma facada’ nas prefeituras e, certamente, as lista de inimizades cresceria significativamente.
Para que tudo continue bem – até mesmo com a pretensão de melhorar – será apresentado o projeto do Metrô da região metropolitana de Natal. Assim, gerido pelo DER, o meio se mostrará um transporte eficaz, ágil e, o que mais interessa aos governantes, continuará ‘cada um no seu quadrado’, nenhum governante mexe com nenhum outro. Uma estratégia perfeita do governo, diga-se de passagem. O metrô – mais que qualquer outra coisa, uma carta na manga da gestão estadual – ofuscará a extrema falta de ação do DER para com o transporte e o sistema falho e degradado – comum em todo Brasil – de trens metropolitanos. Seguindo tendências nacionais, o metrô será apresentado como o grande salvador da mobilidade em nossa região metropolitana que poderá ter, no máximo, uma integração com os sistemas urbanos das cidades para o contínuo deslocamento dos usuários, pelo justo problema do não poder atender todas as localidades. É muito e será bem vindo, mas não extingue os atuais e futuros problemas que um grande sistema operado por ônibus extinguiria.
No mais, a prefeitura que quiser que realize sua licitação, e a população, que é quem deveria usufruir dos avanços do lugar onde vive, mais uma vez é ofuscada pelos interesses políticos. Mais que isso, a prioridade para o transporte público é também deixada de lado, como se fosse apenas um meio de transporte, e não o principal meio de transporte da população.