Ônibus a hidrogênio pode ser alternativa para reduzir poluição

Diariamente, 17 mil ônibus circulam pela Região Metropolitana do Rio. No fim deste ano, esses barulhentos veículos terão emitido nada menos do que 1,7 milhão de toneladas de carbono na atmosfera. O que significa mais poluição e mais gastos em saúde. Embora já exista tecnologia alternativa, as discussões sobre a necessidade de “limpar” a matriz energética do transporte no Rio não avançam. Apresentado há um ano na Rio+20, o ônibus movido a hidrogênio e energia elétrica do Laboratório de Hidrogênio da Coppe/UFRJ continua na garagem da Ilha do Fundão. Não dá mais tempo de os cariocas pegarem carona na nova tecnologia para a Copa, conforme chegou a ser anunciado pela Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Rio (Fetranspor-RJ).
Para o coordenador do Laboratório de Hidrogênio da Coppe, Paulo Emílio de Miranda, há sim a possibilidade de o Rio substituir a frota movida a diesel por tecnologia 100% nacional. Mas ele observa que há ainda muita resistência dos empresários, que se assustam com alto custo inicial do novo modelo. Há ainda outras barreiras, como o desenvolvimento de estações de abastecimento de hidrogênio e a qualificação de mão de obra.
Especialistas defendem energia limpa, mas divergem sobre modelos: O protótipo da Coppe/UFRJ roda com hidrogênio, energia elétrica e com um processo que transforma a energia cinética — a do movimento — em elétrica. Silencioso, o ônibus tem 90% de eficiência energética. Isso significa que quase toda a energia fornecida é aproveitada. Nos veículos movidos a diesel, a eficiência cai para 20%, segundo a Coppe.
“É plenamente possível a gente avançar para a era do hidrogênio. Isso é inclusive inexorável. Ao longo dos séculos, da queima da madeira ao uso do gás natural, temos visto uma redução significativa de dióxido de carbono e um avanço do teor de hidrogênio das fontes de energia. Se o Rio trocasse toda a sua frota de ônibus, haveria uma economia de R$ 600 milhões por ano em saúde pública”, afirma Miranda.
Para o secretário municipal de Transportes, Carlos Roberto Osorio, apenas uma articulação nacional será capaz de limpar a matriz energética do setor. De acordo com o secretário, o maior desafio é a viabilidade econômica dos novos modelos movidos a energia limpa. “Sem escala de produção, não será viável. É necessário que os grandes fabricantes tenham incentivos. A aversão a custos e a letargia são naturais dos operadores dos sistemas. Em todo o mundo, os processos de mudanças de paradigmas são liderados pelo poder público com pressão da sociedade”, diz Osorio.
Perguntado se a prefeitura não teria desperdiçado uma chance de avançar em sustentabilidade ao adotar velhos ônibus a diesel nos corredores expressos, Osorio disse que o governo estuda importar veículos híbridos (eletricidade e biodiesel) da Suécia e Alemanha. Destacou que os quatro BRTs que estarão em funcionamento, nos próximos três anos, vão significar a retirada de 2.500 veículos de uma frota de 9 mil ônibus da capital: “O sistema BRT, por si só, vai nos ajudar nas metas de redução de emissão de gases”.
O descompasso entre o avanço da tecnologia e a aplicação dela no Brasil também incomoda Suzana Kahn, subsecretária de Economia Verde da Secretaria estadual do Ambiente: “No Brasil, não temos tradição de pegar a pesquisa e torná-la comercial. A logística do hidrogênio é cara, mesmo na Europa. Mas há alternativas, como o uso da biomassa da energia elétrica. O governo investe na pesquisa científica, mas na hora de desenvolver patentes não avança”.
A deputada estadual Aspásia Camargo (PV-RJ) lembra que o desenvolvimento de uma economia do hidrogênio abre espaço para avanços inimagináveis: “A Alemanha instituiu um circuito de ônibus a hidrogênio. É tecnologia de ponta”.
Foto: Ana Branco (Agência O Globo)

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