Em tempos em que as pessoas precisam enfrentar diariamente trânsito parado e demora para chegar ao trabalho ou à escola, faz-se necessário procurar opções que resultem em menos carros nas ruas. A carona solidária, no inglês carpooling, é uma alternativa, na prática, ainda pouco atrativa para muitos. No geral, as pessoas se mobilizam e procuram as caronas em momentos pontuais, como por exemplo, uma greve no transporte coletivo, a dificuldade em encontrar um táxi rapidamente, ou por um problema mecânico no seu veículo.
A carona solidária seria uma medida para estimular o uso do automóvel por mais de um passageiro, o que contribuiria para a diminuição do tráfego e do volume de poluentes veiculares, mas tem atraído também usuários do transporte de massa segundo a especialista em trânsito da Perkons, Idaura Lobo Dias.
Ela avalia que a medida pode tirar passageiros do transporte público e diminuir a lotação, mas não necessariamente irá contribuir para reduzir o número de veículos das ruas. Por isso, a medida não é uma solução para a melhoria das condições de mobilidade isoladamente, e sim uma alternativa junto a outras. “Mostra-se mais efetiva quando estimulada nos entornos de grandes polos geradores de tráfego – como instituições de ensino, estádios de futebol e grandes empresas -, principalmente nas horas pico, concentradas nos horários de ida e retorno”, afirma.
Entre os motivos para muitos não aderirem à carona estão fatores como segurança, cultura e a participação de instituições e do governo. De acordo com Idaura, o envolvimento das instituições que são polos geradores de tráfego e seu papel no levantamento de cadastro de endereços de colaboradores e adoção de mecanismos para organizar as rotas e propor a adesão são fundamentais. “Para estimular a participação, as instituições podem estabelecer vagas especiais no estacionamento ou outros incentivos. Os órgãos gestores do trânsito podem favorecer o carpooling, destinando faixas de tráfego para quem tiver mais de um passageiro no veículo”, sugere.
A especialista destaca que a adoção da carona solidária requer adaptação e concessões do motorista e passageiro. “É importante que os participantes estejam conscientes quanto ao compromisso com o horário, à predisposição a realizar eventuais desvios de rotas ou de caminhar até um local combinado, que favoreça o trajeto de ambos, e quanto aos comportamentos apropriados – como direção segura, higiene, escolha da música e som alto, zelando pela boa convivência”, aconselha. Outra recomendação é buscar referências sobre demais participantes e estabelecer um acordo, ainda que verbal, de como funcionará a carona.
Sites especializados em carona solidária prezam pela segurança: Existem sites que promovem com segurança o contato entre os interessados na carona. Se não houvesse um site seguro, o publicitário Paulo Wolf, que há cerca de dois anos dá carona para duas pessoas que residem próximas à sua casa, não seria adepto da prática. “É uma maneira de me tornar útil para pessoas que moram perto e fazem exatamente o mesmo trajeto que eu. Além disso, num trânsito parado é menos estressante ir de um local a outro batendo papo”, diz.
O site utilizado por Paulo é o www.eco-carroagem.com.br, que funciona gratuitamente. O criador do projeto, Michel Mazard, explica que é feito um cadastro rigoroso para garantir a segurança das caronas. O primeiro passo é fazer a inscrição, que será liberada pelo superior imediato da empresa que o futuro cadastrado trabalha, pelo fato de conhecê-lo. “95% dos cadastrados trabalham. Foi a maneira que encontramos para dar segurança a quem pertence à comunidade. Após a terceira reclamação de um mesmo usuário, o site retira-o dos registros”, explica.
O site www.caronetas.com.br, com proposta semelhante, desenvolveu um sistema de milhagem como incentivo à prática. O usuário utiliza as milhas para dar ou receber carona. Os pontos acumulados pelo motorista podem ser trocados por produtos ou serviços, ou mesmo carregados num cartão de crédito.
O CEO do Caronetas, Marcio Nigro, avalia que entre os usuários do site há todos os tipos de pessoa. “50% dos usuários possuem carro. Há aqueles que se inscrevem para ter uma companhia e, dessa forma, se sentem mais seguros, e há outros que procuram sair do transporte público”, acrescenta.
Fonte e foto: Perkons