PE: Desconforto no transporte público do Recife traduzido em números do Idec

A rotina dos dois milhões de usuários do transporte público da Região Metropolitana do Recife poderia ser melhor se medidas simples fossem adotadas em respeito ao cidadão.
Olhar o serviço do transporte público sob o olhar do passageiro é a proposta da pesquisa que o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) está realizando em 11 capitais brasileiras. Depois de São Paulo e Belo Horizonte, agora é a vez do Recife e do Rio de Janeiro entrarem na berlinda. A pesquisa apontou 490 irregularidades nas duas capitais e muitas vão além do transporte propriamente dito.
Falta de iluminação adequada nas paradas, sujeira nos terminais integrados, infiltrações nas paredes dos terminais, freadas bruscas, circular com portas abertas e ônibus parando no meio da via para o usuário entrar ou descer são algumas das irregularidades.
Mas há ainda aquelas “imbatíveis”: superlotação, atrasos e falta de informações. Durante duas semanas de março, um pesquisador utilizou o transporte público da capital pernambucana das 7h às 10h e das 17h às 18h e deixou as suas impressões em relatório.
Mas para quem já é acostumado a cumprir os mesmos trajetos todos os dias já não são mais apenas impressões. “A superlotação é o que mais me incomoda. Dificilmente consigo lugar para sentar”, contou o eletricista Durval Lima, 65 anos, na linha PE-15/Boa Viagem. Para a auxiliar de serviços gerais Taciana Torres, o aperto é a pior parte. “Tem hora que falta até ar para respirar”.
A pesquisa antecede o lançamento da campanha #chegadeaperto, que o Idec vai realizar em junho no Recife. Mais do que alertar sobre a superlotação, a ideia é chamar atenção para a cadeia que integra o transporte. “O transporte público deve ser prioridade. Pagamos pelo serviço”, ressalta o coordenador da pesquisou, João Paulo Amaral.
A interrupção da viagem e os atrasos deveriam se reverter, segundo o pesquisador, na restituição da passagem. O metrô do Recife chega a ter 15 evacuações dos trens por mês e em alguns casos, os usuários completaram o percurso a pé. “O Código de Defesa do Consumidor garante direito de devolução. Na pesquisa, não identificamos funcionários do metrô do Recife treinados para fazer isso”, detalhou Amaral.
Dados entregues ao poder público para melhorias: Os critérios para avaliar o transporte público foram divididos em quatro eixos: estrutura das estações ou paradas; estrutura do meio de transporte; qualidade da viagem e atendimento ao usuário. De acordo com o Idec, os resultados foram encaminhados às prefeituras e órgãos responsáveis pela gestão do transporte nas duas capitais.
Em nota, o Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano ressaltou o compromisso do governo do estado em oferecer transporte público seguro e de qualidade. E cita a licitação das linhas de ônibus como forma de regulamentar a prestação de serviço por meio de contrato, que poderá ocasionar penalidades para empresas que descumprirem normas.
A pesquisa, no entanto, vai além da responsabilidade dos empresários do setor e chama atenção do estado em relação à estrutura de estações e paradas. Com relação à segurança, o Grande Recife informou que dentro dos veículos há câmeras que detectam qualquer infração que venha a ocorrer internamente e que elas são encaminhadas à Secretaria de Defesa Social (SDS).
De acordo com a assessoria de imprensa do metrô do Recife, o órgão não recebeu nenhum relatório do Idec referente à pesquisa. Ainda segundo a assessoria, os trens foram reformados e climatizados e as novas estações do metrô foram construídas dentro das normas de acessibilidade. Sobre os atrasos e interrupção das viagens do metrô, o gerente de comunicação Salvino Gomes disse que a empresa não adota a política de devolução de dinheiro.

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