As rodoviárias do país ganharam um cenário diferente nas últimas semanas. Em meio ao movimento de passageiros locais, apareceram também alemães, franceses, americanos, japoneses e ganenses, entre outros.
São torcedores que preferem encarar até 32 horas dentro de um ônibus para apreciar as paisagens brasileiras. Ou economizar, pois evitam tanto o preço das passagens aéreas quanto podem cortar uma diária de hotel – ainda que passar a noite numa poltrona não tenha o mesmo conforto de uma cama.
Segundo o Ministério do Turismo, o fluxo de passageiros rodoviários deve aumentar 30% (para 1,1 milhão) durante a Copa do Mundo.
Nas rodoviárias, os estrangeiros têm alegrado o ambiente. Mas também reclamam das condições de algumas instalações e de estradas, além dos atrasos nos trajetos e da dificuldade para comunicação (funcionários em geral só falam português).
Turismo: Os alemães Clemence, 49, e Cristian, 46, decidiram usar o ônibus para ir de Salvador para Fortaleza (1.185 km) “para conhecer o interior”.
Outros compatriotas queriam driblar os preços salgados das viagens aéreas. O trecho entre a capital baiana e a cearense sai R$ 220 de ônibus ou até R$ 1.650 de avião. “É muito mais barato. O problema é que o ônibus não é pontual. E são apertados e não muito limpos”, afirmou o professor mexicano Misael Gusman, 27, que desembolsou R$ 47 na passagem de Fortaleza ao Recife.
A pontualidade também foi o ponto fraco citado pelos franceses Julian Lopes, 26, e Mickael Leger, 27, que embarcaram no Rio de Janeiro para uma viagem estimada em 24 horas até Salvador, mas que se estendeu por 32 horas – de avião, levaria duas horas. “O ônibus parou muito no caminho. De três em três horas parávamos em alguma cidade”, disse Mickael.
Lado bom: O clima de festa, porém, atenua o problema para alguns dos turistas. O escriturário de Los Angeles (EUA) George Domingues, 31, esperava viajar por 12 horas entre Fortaleza e Recife, mas o trajeto se estendeu por duas horas a mais. O ônibus quebrou. “Ao menos ganhamos duas horas de sono”, brincou.
“De avião é mais caro. Havia lido sobre a condição das estradas, mas não são tão ruins”, disse Domingues.
O japonês Ken Utsumi, 36, de Tóquio, tem opinião diferente sobre as rodovias brasileiras, após andar pelo Maranhão. “Foi terrível. O ônibus não parava de balançar, atrasou e só paramos para comer durante cinco ou dez minutos. Não dá tempo”, disse ele, funcionário de uma empresa de intercâmbio.
Festa: Em São Paulo, um festivo grupo de torcedores de Gana se tornou atração no terminal do Tietê na sexta-feira (20) enquanto esperava seu ônibus partir para Brasília. Com perucas nas cores de sua bandeira, camisetas da torcida oficial da seleção de Gana (“Misugha”) e roupões tradicionais, eram assediados para fotos e chamavam a atenção de quem passava.
“Quem diria que ia encontrar o clima da Copa logo aqui na rodoviária”, festejou uma das “tietes”, a modelo e atriz Aline Spagnolo, 28, que retornava de Limeira. “Não se vê isso no resto de São Paulo”.
O finlandês Christian Zambetakis, 26, funcionário da companhia de logística DHL, disse que prefere estradas pois pode aproveitar o deslocamento “para conhecer e apreciar” a paisagem. “Estamos aqui não só pelo futebol mas também por turismo”, disse.
Fonte: Folha de S. Paulo