Ônibus é o sistema perfeito, mas há poucos bons exemplos de evolução, dizem especialistas

Você já percebeu que quando alguém fala em andar de ônibus urbano ou metropolitano, logo muitos associam esta forma de deslocamento a uma situação nada agradável.
Isso porque, em boa parte dos sistemas, os serviços não são bons: veículos antigos ou mesmo novos, porém, pouco confortáveis, coletivos que ficam presos nos congestionamentos sem nenhuma prioridade no espaço urbano, motoristas e cobradores nem sempre com a educação mínima que deveria haver numa vida urbana e excesso de lotação são algumas das principais queixas dos cidadãos pagantes de uma tarifa cara para os passageiros, mas insuficiente para cobrir todos os custos.

O problema, entretanto, não é o modal ônibus em si, mas sim, a falta de investimentos e a operação e gestão pouco adequadas dos serviços.
O ônibus é considerado em todo o mundo um dos principais meios de transportes, inclusive nos países que têm grandes investimentos no setor metroferroviário.
Especialistas e estudiosos em transportes defendem a modernização dos sistemas de ônibus no Brasil om quanto antes.
“O ônibus é um sistema perfeito porque usa as ruas e as estruturas que já existem. É muito flexível…vai para a direita, vai para a esquerda, muda de rota” –  afirma o consultor em mobilidade, Eduardo Vasconcellos num bate-papo com o Canal Mova-se Mobilidade Urbana Sustentável.
Se muitas pessoas reclamam dos serviços de ônibus no Brasil, e com razão, também existem bons exemplos citados pelos especialistas que mostram que com um pouquinho a mais de investimento, o ônibus pode ter qualidade semelhante à do metrô.
Também consultor em mobilidade, Cláudio de Senna Frederico, lista alguns exemplos positivos de transporte por ônibus no Brasil, mas lamenta por serem minorias.
“Na área dos ônibus pouca coisa foi feita. Alguns BRT, a Metra aqui mesmo em São Paulo, no ABC, são exemplos que foram emulados de um processo do metrô. Mas é muito pouco de resto … e os trens que agora recentemente estão começando a fazer a mesma emulação” – disse Frederico. No entanto, ele destaca que o segredo não está na estrutura de obras civis e na tecnologia e sim na boa operação, caso contrário, todo investimento pode ser um desperdício.
“Qualquer projeto, de qualquer tecnologia de mobilidade tem [no Brasil] a ‘capacidade’ de ser pessimamente operado. Se isso acontecer é a pior hipótese de todas, porque você gastou um dinheirão naquilo e aquele ‘troço’ não vai produzir nenhum bom serviço.”
Eduardo Vasconcellos defende outros modais além do ônibus, mas diz que o transporte sobre pneus ainda será dominante.
“Nas áreas centrais tende a ser locais apropriados para os VLTs, em grandes cidades, mas o ônibus será dominante. Inclusive o Metrô também tem limite, com as exceções, na média os sistemas de Metrô  no mundo têm 7 ou  8 linhas”
Antes que as reclamações comecem a surgir, nenhum dos especialistas defende que o ônibus seja o único modal ou que o sistema metroferroviário seja abandonado  – mais do que ele já é, infelizmente. Muito pelo contrário, a expansão de linhas de metrô de fato é essencial para as cidades e o presidente da ANTP – Associação Nacional de Transportes Públicos, Ailton Brasiliense, diz que é justamente no uso de diversos modais que está o caminho para a solução da mobilidade urbana e a redução no tempo de deslocamento dos cidadãos.
“O sistema mais equilibrado do mundo é aquele que as pessoas usam o transporte público por muito pouco tempo: 10 minutos, 15 minutos, 20 minutos … mas não uma hora. Hoje o passageiro da CPTM [Companhia Paulista de Trens Metropolitanos] sobe e não desce mais. Então a intermodalidade é fundamental. São Paulo só não vive pior porque pratica de alguma forma a intermodalidade” – disse Brasiliense.
Cláudio de Senna Frederico complementa dizendo que o importante é deixar as atuais estruturas eficientes e humanizar os deslocamentos com o incremento da gentileza, o que é impossível pelo transporte individual.
“Uma das coisas que está precisando é um certo grau de incremento de gentilezas, o transporte individual não ajuda no processo da gentileza. A gentileza tem de ser buscada no transporte coletivo, onde as pessoas convivem de fato. O motorista não convive. O que mais está faltando para melhorar a mobilidade no Brasil é usar o sistema de transporte existente de uma forma gentil e eficiente, ou seja, arrumação de casa”
Os especialistas também conversaram sobre mobilidade a pé e bicicletas
Segundo o presidente da ANTP, Ailton Brasiliense, só 10% das calçadas em São Paulo têm condições minimamente ideais e que o quadro precisa ser mudado.
Os estudiosos também defenderam a ampliação do uso de bicicletas.
Segundo Eduardo Vasconcellos, a bicicleta existe há mais de 100 anos nos deslocamentos diários em São Paulo e região metropolitana, mas é ignorada.
Entretanto, pelas proporções de cidades como São Paulo, Cláudio de Senna Frederico diz que a bicicleta não é o grande elemento de solução para o problema de mobilidade urbana, mas as administrações têm o dever de respeitar o direito desse tipo de deslocamento.
Sobre o transporte individual, os especialistas concordaram que hoje há uma ocupação desproporcional pelos carros se forem levados em conta os benefícios e os custos deste tipo de veículo.
Segundo Eduardo Vasconcellos, hoje as cidades brasileiras não cobram o custo que os carros provocam. Os veículos de passeio ocupam 10% mais de espaço do que o usuário do transporte público e causam mais poluição.
Aliás, o nome carro de passeio não é à toa.
“O carro nasceu e era claramente identificado como um esporte. Era com o ter um barco. Ninguém tem um barco para se transportar, as pessoa têm um barco para se divertir [referindo-se aos modelos de lazer]. O automóvel também era assim. Havia antigamente o conceito de ‘vamos dar uma volta de carro?’ Você já viu alguém hoje em dia fazer um convite desse? Só se for para um inimigo”
Eduardo Vasconcellos defende que se a frota circulante para as viagens cotidianas fosse reduzida em 30%, haveria mais espaço para conforto e eficiência do transporte público. A cidade seria todos os dias como a circulação de um sábado, por exemplo.

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