Michael Melo/Metrópoles |
Um dia após ser proibida de rodar pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) em todo o país, a Transbrasil continua operando normalmente. Na manhã desta sexta-feira (5/5), funcionários da empresa seguiam vendendo passagens para o transporte interestadual de passageiros, em Brasília e Goiânia (GO), e despachando ônibus para outros estados.
As atividades da empresa foram suspensas por meio de uma portaria da ANTT publicada no Diário Oficial da União dessa quinta-feira (4). A medida foi tomada pelo superintendente de Serviços de Transporte de Passageiros da ANTT, Ismael Souza Silva, e é resultado de um processo administrativo instaurado pela agência após a reportagem especial do Metrópoles, Transbrasil, um embarque para o crime nas rodovias brasileiras, publicada no dia 26 de março deste ano.
Além da publicação no Diário Oficial da União, a Transbrasil será notificada para que regularize as suas atividades. A empresa também pode ser alvo de fiscalização. Os ônibus da companhia que insistirem em transportar passageiros, enquanto a medida estiver vigente, poderão ser apreendidos por transporte pirata, avisa Ismael Silva.
Na manhã desta sexta-feira (5), a reportagem tentou “comprar” passagens da empresa e não encontrou dificuldades. Um bilhete de Goiânia para Teresina (PI) foi anunciado por R$ 250. Na compra de três, o valor caiu para R$ 240. Por telefone, o funcionário, que se identificou como Fábio, garante que o ônibus é confortável, com acesso à internet, ar-condicionado e encosto para os pés. O embarque, segundo ele, seria feito na Rodoviária de Goiânia.
Os tíquetes também são vendidos em um guichê do terminal rodoviário de Taguatinga. Por volta das 11h, a reportagem flagrou passageiros embarcando nos ônibus da empresa em dois terminais clandestinos da QNM 23/25 de Ceilândia. Por lá, eles também conseguiam adquirir os bilhetes.
O superintendente Ismael Souza Silva afirmou ao Metrópoles nessa quinta (4) que as denúncias feitas pela reportagem reforçaram irregularidades já detectadas pela inteligência da agência. “São muitas as infrações cometidas por esta empresa. Ela foi colocada no sistema por força de decisão judicial. A ANTT teve que aceitá-la. Agora, recorremos à suspensão cautelar por entender que os passageiros estavam em risco. É um artifício que usamos apenas em casos extremos”, ressaltou.
Até esta publicação, nenhum dos responsáveis pela Rodoviária de Goiânia tinham sido localizados para responder se os embarques da Transbrasil estão, de fato, ocorrendo no terminal.
Irregularidades
A reportagem produzida pelo Metrópoles ao longo de três meses de apuração e mais de 10 mil quilômetros percorridos mostrou as irregularidades cometidas pela empresa. Em Goiânia, por exemplo, a equipe flagrou a venda do “kit liminar”.
Acusados de participar do esquema comercializam a terceiros adesivos para “envelopar” os ônibus, talões de emissão das passagens, etiquetas de bagagem, uniforme e crachás de motoristas, além da inclusão no sistema de rastreamento, medida obrigatória pela legislação. Tudo com o nome e a logomarca da Transbrasil.
Com as liminares, ônibus sem as mínimas condições circulam país afora, fazendo vítimas como a família de Jardeli Miranda Nascimento, 24 anos. No dia 11 de outubro de 2016, ele, a mulher e a filha, de apenas 3 anos, ficaram feridos em um grave acidente na BR-226, durante viagem entre o Maranhão e o Distrito Federal, em um ônibus da Transbrasil. Além das marcas dos ferimentos, o casal carrega o trauma psicológico.
Fonte: Metrópoles