Se, entre taxistas, a chegada de aplicativos de transporte individual privado gerou ranger de dentes, nos ônibus, a implantação de uma bilhetagem eletrônica cada vez mais moderna põe em risco o emprego dos cobradores. O tema é polêmico e foi discutido no Seminário Nacional NTU. Debatedores do painel “Rumo à retirada de dinheiro?” disseram que as possibilidades ofertadas pela tecnologia já dão condições para extinguir o pagamento em espécie e melhorar a produtividade do transporte coletivo, mas reconheceram que as mudanças atingem aspectos socioculturais e devem ser aplicadas de forma planejada e gradativa.
Em algumas localidades do País, sistemas já operam sem cobrador, e não é de hoje. Sorocaba (SP) começou em 1991. Mundo afora, há o exemplo de Hong Kong, que já fala disso há 40 anos. Rafael Teles, da Transdata Smart, citou o caso de Londres, onde, há dez anos, 25% dos passageiros usavam dinheiro para pagar a tarifa. Em 2014, esse índice caiu para 1%. “Eles criaram facilidades, como cartões autocarregáveis quando chegam a um saldo mínimo, que foram levando as pessoas a mudar de comportamento. É preciso ter planejamento. A tecnologia não pode chegar antes do planejamento”, avaliou.
No mercado, já há ferramentas que possibilitam o uso de QR Code e cartões de crédito, débito ou pré-pagos para o pagamento da passagem a bordo. Os representantes das empresas de tecnologia, porém, admitiram que, antes de se pensar em extinguir o pagamento em espécie, é preciso dar as contrapartidas necessárias para que os passageiros tenham acesso às novas formas de pagamento.
“É preciso aumentar a capilaridade da rede de venda de créditos em pontos físicos e pela internet, além de investir em aplicativos que possibilitem essa venda. Mas destaco algo pouco praticado no Brasil: termos tarifas diferenciadas para quem usa o bilhete eletrônico”, afirmou Júlio Grilo, da Tacom.
Com informações: Folha PE