No Rio, obras no BRT Transbrasil e na Ciclovia Tim Maia são tratadas como prioridades para nova gestão da prefeitura

Do O Globo
Foto: Beth Santos/ PCRJ – Ilustração/Fotos Públicas

Entre os desafios que aguardam Eduardo Paes na prefeitura, dois são velhos conhecidos: o BRT Transbrasil e a Ciclovia Tim Maia. Grandes promessas na área da mobilidade, esses projetos saíram do papel em sua passagem pela administração municipal, mas não tiveram o desfecho esperado. O corredor Transbrasil, prometido inicialmente para 2016, não ficou pronto nem mesmo no fim dos quatro anos da gestão de Marcelo Crivella. Segue em obras, sem data prevista para conclusão. Já a ciclovia apresentou graves problemas estruturais: em abril de 2016, um trecho da pista desabou e duas pessoas morreram. Nos anos seguintes, outros três trechos ruíram e, atualmente, apenas 3,8 de seus nove quilômetros estão abertos. A solução desses problemas é algo tratado como prioridade em reuniões da equipe de transição.

Para a Avenida Brasil, a ideia é retomar as obras no primeiro trimestre de 2021. Futura secretária municipal de Infraestrutura, Kátia Souza inspecionou a via para diagnosticar onde estão os principais problemas e elaborar um relatório com os pontos que precisam ser atacados prioritariamente. O documento está em processo de finalização.

— Concluir a Transbrasil foi um compromisso de campanha do prefeito eleito Eduardo Paes e já iniciamos o nosso planejamento, buscando um entendimento com o consórcio responsável para que as obras possam ser retomadas no primeiro trimestre do governo — diz Kátia.

A entrega do corredor expresso fazia parte das promessas de campanha de Crivella. Entre as 41 propostas apresentadas em seu programa de governo, registrado junto ao Tribunal Regional Eleitoral, a de número 17 dizia: “Concluir as obras do BRT Transbrasil e garantir sua operação efetiva até o final de 2017”. A atual gestão diz que 90% das intervenções foram concluídas, e põe a culpa pelo atraso numa necessidade de readequação do projeto original.

A Secretaria municipal de Infraestrutura, Habitação e Conservação afirma que o BRT só iria do Centro até o Caju, sem os terminais, o que prejudicaria o funcionamento do sistema. “Não tinha funcionalidade e, exatamente por isso, a CEF inviabilizou por mais de um ano a liberação da verba. O que havia na Carta Consulta não era igual ao que foi contratado. A atual gestão teve que readequar todo o projeto para que houvesse a liberação da verba, além de garantir a funcionalidade da obra”, diz a pasta, em nota.

As obras do BRT começaram em 2014, ainda na gestão de Eduardo Paes. O projeto liga o Centro a Deodoro, na Zona Oeste, em um circuito com 39 quilômetros de extensão e 17 estações. A ideia é transportar 900 mil pessoas por dia. As obras foram licitadas por R$ 1,5 bilhão, mas os atrasos já causaram cerca de R$ 730 milhões de prejuízo aos cofres públicos, segundo um relatório do Tribunal de Contas do Município (TCM) do Rio.

Projeto abandonado

Acabar com os problemas da Ciclovia Tim Maia também era uma promessa de campanha de Crivella. A proposta de número 22 de seu programa de governo tratava da elaboração de um projeto para reforço da estrutura até o final de 2017, “garantindo total segurança aos ciclistas”. Em nota, o município afirma que havia a necessidade de fazer uma licitação para recompor os trechos comprometidos da pista e argumenta que o processo não foi concluído por causa da pandemia, que paralisou projetos. “O investimento previsto era de R$ 1,5 milhão, e a reforma previa a reposição de platôs em estruturas pré-moldadas que foram destruídos, além da substituição de grades metálicas de proteção, alvo constante de vandalismo”, argumenta a prefeitura, em nota.

Em entrevista ao GLOBO durante a campanha eleitoral, Eduardo Paes afirmou que não teria construído a ciclovia se soubesse do resultado. “Minha ideia é retomar, refazer o que está errado e botar para funcionar com um plano de contingência. Mas vou fazer uma consulta pública”, disse na ocasião. Por causa do primeiro trecho que desabou e provocou a morte de duas pessoas, 15 réus foram condenados, em agosto, a três anos e dez meses de prisão, por homicídio culposo. No entanto, a 32ª Vara Criminal da capital converteu as penas de detenção em restrição de direitos, multa e prestação de serviços gratuitos à comunidade ou a entidades públicas ou assistenciais. O TCM aponta gasto de cerca de R$ 44 milhões na construção da ciclovia.

Depois do desabamento de quatro trechos, um novo risco surgiu em agosto deste ano, quando o movimento Salvemos São Conrado alertou que o tabuleiro da ciclovia sobre as vigas havia se deslocado em um ponto e poderia cair a qualquer momento. Após especialistas confirmarem o perigo, a Geo-Rio o reposicionou.

Especialistas em transportes pedem investimento no corredor expresso

Diretor do Centro de Estudos FGV Transportes, o engenheiro Marcus Quintella alerta que, diante da frágil situação financeira do município, os problemas que causam mais transtornos à população devem ter prioridade.

— Em termos orçamentários, o problema hoje é muito grave. Não dá para dizer que vai fazer isso e aquilo, porque não há recursos. O prefeito não pode politizar a infraestrutura. O bom-senso vai dizer que ele tem que concluir o que está se arrastando há muito tempo, que é o BRT da Avenida Brasil — afirma Quintella.

O argumento da gestão de Crivella de que era necessário fazer uma readequação do projeto do BRT Transbrasil recebeu críticas do engenheiro de transportes Paulo Cezar Ribeiro. Professor da Coppe/UFRJ, ele chegou a ser chamado pelo atual prefeito para assumir a presidência da CET-Rio, mas acabou sendo desconvidado antes de assumir.

— Não dá para passar uma borracha e mudar tudo de uma vez. Muito dinheiro já foi investido. Talvez o que seja realmente necessário é repensar o sistema BRT como um todo — diz Ribeiro.

Engenheira de Transportes da Politécnica/UFRJ, Eva Vider tem a mesma opinião. Para ela, além de concluir as obras do corredor expresso da Avenida Brasil, é fundamental recuperar e modernizar todo o sistema BRT:

— Para que o sistema funcione de forma mais adequada, é preciso recuperar os corredores viários e adequar a oferta à demanda.

A readequação do sistema BRT também está no radar da equipe de transição de Paes. Na semana passada, a futura secretária municipal de Transportes, Maína Celidônio, reuniu-se com o consórcio responsável pelo BRT para planejar uma reabertura de estações.

— Nossa prioridade nos primeiros dias de governo será promover a reabertura de algumas estações do BRT e fazer com que a sua operação volte a ter a qualidade necessária — anuncia Maína, acrescentando que vem sendo discutida uma medida emergencial de aumento da frota em circulação, que hoje corresponderia a 50% do número considerado necessário. — Continuamos as negociações e até 1º de janeiro esperamos ter bons resultados para apresentá-los à população.

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