Do Valor Econômico
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Ilustração
A Enel X, empresa de soluções energéticas do grupo italiano Enel, acaba de dar início ao seu primeiro grande projeto em mobilidade elétrica no Brasil, apostando num segmento ainda incipiente no país mas que tem atraído a atenção de grandes elétricas nos últimos anos. A companhia fechou acordo com a Estapar, de estacionamentos, para criar a primeira rede de carregamento de veículos elétricos semi-pública do país.
A parceria prevê a criação de vagas exclusivas para veículos elétricos em pontos “premium” da rede da Estapar. As chamadas “Ecovagas” serão equipadas com carregadores da Enel X, capazes de abastecer 80% da bateria de automóveis elétricos e híbridos “plug-in” em aproximadamente 3 horas. As instalações também contarão com assistência para gestão e manutenção dos equipamentos.
Numa primeira fase do projeto, serão instaladas 250 estações de recarga em cerca de 100 pontos da rede Estapar, em locais como shopping centers e aeroportos. Receberão o serviço 23 cidades das regiões Sul, Sudeste e Nordeste, além do Distrito Federal. A rede começa a ser montada neste mês e deve ser concluída até fevereiro de 2021.
Segundo as empresas, a ideia é se posicionar no “ecossistema” da mobilidade elétrica como provedores de infraestrutura para carregamento com abrangência nacional, atacando uma das principais dificuldades desse mercado hoje.
“Buscamos desenvolver um serviço completo ao cliente. Por ser um mercado novo, ainda desconhecido dos consumidores, a mobilidade elétrica precisa de simplicidade. Vamos trabalhar com um ‘ecossistema’, trazendo à mesa outras empresas do segmento para pensar numa solução completa”, afirma o presidente da Enel X no Brasil, Francisco Scroffa.
O modelo de negócio foi estruturado com foco no “B2B”, ou seja, em parcerias empresariais. A ideia é fechar acordos com diferentes agentes do mercado de mobilidade elétrica, como montadoras, locadoras e empresas de “car sharing”, para que elas possam oferecer gratuitamente aos seus clientes o carregamento na rede da Enel X e Estapar. A expectativa é firmar os primeiros contratos até o início de 2021.
“Estamos fazendo nosso dever de impulsionar o segmento. Hoje a demanda [por recarga elétrica] não é muito alta, mas acreditamos que em pouco tempo ela será”, afirma o CEO da Estapar, André Iasi. “Vemos cada vez mais o estacionamento como um ‘hub’ de mobilidade, ganhando mais funções além de parar o carro. Entrar nesse mercado, que será gigantesco, faz parte da estratégia da Estapar”, acrescenta.
Para os executivos, é indiscutível que o futuro do mercado automotivo será a eletrificação – e, dentro desse contexto, o mercado brasileiro terá um potencial enorme. “Além de ser líder em geração de energia renovável, o Brasil é muito forte na indústria automobilística, é o mercado mais relevante da América Latina. Também vemos determinação dos diferentes ‘players’ no sentido de consolidar o conceito de mobilidade elétrica”, destaca Scroffa.
No médio e longo prazo, a intenção das empresas é expandir a quantidade de “Ecovagas” oferecidas, incluindo instalações em restaurantes, outras redes de estacionamento e locais públicos.
A Enel X é uma das líderes globais em mobilidade elétrica, com cerca de 140 mil pontos de carregamento públicos e privados de veículos elétricos pelo mundo. No futuro, tecnologias já adotadas em outros mercados poderão ser trazidas ao Brasil – é o caso de soluções inteligentes para interação com a rede, permitindo que o cliente possa, por exemplo, reinjetar energia da bateria do carro na rede.
“A história está só começando, as possibilidades são infinitas”, diz o presidente da Enel X no país. Ele observa, porém, que a adoção de algumas soluções depende de regulamentação.
A mobilidade elétrica vem ganhando força nos últimos anos, com o surgimento de várias iniciativas a partir do programa de P&D da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A EDP Brasil está implementando uma rede de recarga ultrarrápida que cobre todo o Estado de São Paulo. A Neoenergia também está investindo num corredor de mobilidade elétrica “verde” no Nordeste. Já a CPFL criou um laboratório para pesquisas no setor junto da VW Caminhões e Ônibus.