Do O Globo
Foto: Alexandre Carvalho/A2img – Ilustração/Fotos Públicas
Embora estudos recentes realizados na Europa e na Ásia sugiram que o transporte público não é fonte significativa de transmissão do vírus, a preocupação existe. Hoje em dia, os trens – espaços fechados, muitas vezes lotados – são mais inquietantes que os carros. E para manter os passageiros e os funcionários seguros e ganhar a confiança do consumidor em um momento de queda no uso, tanto as companhias dos sistemas regionais como a Amtrak estão engajadas em grandes operações de combate ao coronavírus.
“Com a chegada da pandemia, a Amtrak, como todas as empresas do setor de transportes, foi seriamente atingida. Apesar disso, imediatamente tomamos todas as precauções para proteger a saúde e a segurança de nossos clientes e funcionários, reduzindo a capacidade”, declarou Steven Predmore, vice-presidente executivo e CSO da Amtrak, por e-mail.
Essa “ação imediata” tomada pelas companhias férreas em geral combina a obrigatoriedade do uso da máscara, regras e avisos de distanciamento social, vagão-restaurante só para pedidos para viagem ve filtragem do ar reforçada. Também tende a incluir alguma forma de higienização mais rigorosa – geralmente pela manhã ou no fim do dia –, além da limpeza regular, ao longo do percurso, dos banheiros e de outras áreas de grande circulação nos vagões e nas estações.
Mas você tem razão: as empresas de transporte não estão desinfetando cuidadosamente todos os trens em todas as estações, nem todos os assentos e superfícies antes da chegada de novos passageiros.
“Qualquer expectativa de que seja feito o contrário não é realista. É a mesma coisa quando se está no supermercado: mesmo que se faça uma limpeza profunda e cuidadosa, assim que o público entra já começa a prejudicar todo esse esforço. Não podemos achar que tudo vai ser e permanecer imaculado”, diz Tanjala Purnell, professora assistente de epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública Bloomberg da Universidade Johns Hopkins.
A Amtrak, porém, está limitando a capacidade de passageiros a aproximadamente 50 por cento (porcentagem que varia, dependendo da quantidade e do tamanho dos grupos que estão viajando juntos) e aumentou o número de trens e rotas com assentos que podem ser reservados (atualmente disponíveis na executiva do Acela e dos itinerários do Vermonter e Palmetto). A empresa também passou a encorajar publicamente os passageiros a fazer o que a grande maioria já faz há muito tempo, pelo menos disfarçadamente: pôr a bolsa ou sacola no assento ao lado para manter o espaço livre.
Nos meses de verão, a companhia promoveu seu programa Private Rooms, encontrado em alguns vagões-leito de alguns itinerários, no esquema dois por um.
“Nossa prioridade é a segurança dos funcionários e clientes. Estamos estudando e analisando para melhorar a experiência segura de viagem. Assim podemos dar o exemplo, oferecendo um novo padrão”, afirma Predmore.
A Amtrak também trabalha em parceria com cientistas da Universidade George Washington e especialistas e microbiólogos da RB, empresa controladora da Lysol, para reforçar seus protocolos de limpeza e desinfecção.
Enquanto isso, em algumas estações na Filadélfia e em sua periferia, a Autoridade de Transportes do Sudeste da Pensilvânia arregimentou voluntários para atuar como “Coaches de Distanciamento Social”, distribuindo máscaras aos passageiros que estiverem sem.
Outras melhorias foram promovidas na esfera tecnológica: a novidade no site e no aplicativo da Amtrak é o “Indicador de Capacidade”, que permite ao cliente ver, em tempo real, a lotação dos vagões. Os números são expressos em porcentagens, ajustados dinamicamente conforme as passagens vão sendo vendidas.
A Autoridade Metropolitana de Transportes (MTA, na sigla em inglês) – que administra o metrô, os ônibus e trens na Grande Nova York – incluiu uma função de dados de ocupação no TrainTime, aplicativo que monitora a situação do serviço em tempo real. Atualmente, está disponível para o Long Island Rail Road e deve ser lançado ainda este mês no Metro-North Railroad. O passageiro agora pode ver quais os trens que têm mais chances de estar vazios (ou cheios), baseado na média dos números das sete viagens anteriores. Segundo sua porta-voz, o órgão gastou quase US$ 232 milhões com medidas de combate à Covid-19 até meados de setembro.
O que nos leva à segunda parte da sua pergunta: o que deve fazer o passageiro mais ressabiado? Segundo Purnell, quem tiver uma tolerância média a riscos e não tem problemas que lhe comprometam a saúde pode fazer valer algumas medidas simples.
“O segredo é entrar preparado para aplicar as mesmas práticas e os mesmos protocolos que você usaria mesmo se não soubesse nada sobre as novas medidas da empresa – usar máscara, higienizar os braços das poltronas e outras superfícies com lenços umedecidos desinfetantes, e lavar as mãos (ou usar álcool em gel) regularmente durante a viagem”, diz ela.
Cuidados na hora de adquirir bilhetes
Purnell também recomenda adquirir bilhetes e check-in sem contato manual (como no aplicativo da Amtrak e no eTix da MTA), ficar ao ar livre (em alguns casos é possível chegar à plataforma sem passar pela estação), evitar se aproximar dos outros no embarque e viajar fora dos horários de pico quando possível. (De qualquer forma, as tarifas dos horários intermediários para todos os trens da Metro-North e da Long Island Rail Road já estão em vigor.)
“Mesmo antes da Covid, esses sempre foram os períodos mais fáceis. Para quem tiver flexibilidade, agora são uma opção ainda mais tentadora. Em relação aos melhores assentos, não há solução perfeita”, afirma Purnell. Os funcionários e passageiros estão entrando e saindo o tempo todo, e em muitas oportunidades você será forçado a ficar a menos de dois metros de estranhos.
Dependendo da configuração do vagão, há quem se sinta mais à vontade na ponta oposta ao banheiro, pois não está arriscado a ver passar a seu lado alguém que precise usá-lo. E, para quem se incomoda com a proximidade dos outros passageiros que cruzam o corredor, o negócio é pedir um assento à janela.
“Não podemos nos esquecer de que os operadores também estão se arriscando para manter o transporte ativo e eficiente. O negócio é pensar em adotar essas medidas não só para se manter protegido, mas também para zelar por eles”, conclui Purnell.
Sarah Firshein/2020/The New York Times