Do Jornal O Globo (RJ)
Foto: Divulgação (Jornal O Globo)
Você pode até já ter feito longas viagens de ônibus para algum estado mais distante, ou até mesmo cruzado fronteiras internacionais desse jeito. Mas imagine encarar uma viagem rodoviária de 70 dias, passando por 18 países, e percorrendo cerca de 20 mil quilômetros? Essa é a proposta da Bus to London, uma excursão prevista para partirá de Nova Délhi, na Índia, para Londres, no Reino Unido, em maio de 2021 — a depender, é claro, das condições de controle da pandemia do novo coronavírus até lá, e das restrições de viagens impostas por cada um dos países do roteiro.
Chamada por seus organizadores de “a viagem de ônibus mais longa do mundo”, é a recriação de um roteiro rodoviário que muitos aventureiros encararam nos anos 1950 e 1960, que conectavam Londres a Calcutá, na Índia, e passavam por França, Itália, a antiga Iugoslávia, Bulgária, Turquia, Irã e Paquistão. Os chamados magic busses, meios de transporte escolhidos por jovens em busca de “viagens espirituais” carregavam em média 20 passageiros. Esse é o número de poltronas que o ônibus desta nova jornada terá. E as semelhanças param por aí.
Ao contrário dos veículos do século passado, que eram de modelos convencionais, usados para roteiros muito mais curtos, o ônibus que será usado na Bus to London pode ser considerada uma versão de luxo. As poltronas, bem mais confortáveis, contam com mais espaço lateral e para as pernas, monitor para entretenimento de bordo individual, tomadas para carregar celulares e cortinas para garantir alguma privacidade. A disposição é 1-2, ou seja, um corredor que separa uma poltrona individual de duas que vão lado a lado. O coletivo será equipado também com Wi-Fi e ar condicionado.
O roteiro também muda significativamente. Se antes o traçado privilegiava o sul da Europa e parte do Oriente Médio (com um Irã ainda governado pelos xás, por exemplo), o proposto agora dá um giro ainda maior pela Ásia e corta a antiga União Soviética, um território que não costumava ser muito aberto a visitantes da Europa Ocidental durante a Guerra Fria.
A viagem será dividida em quatro pernas. A primeira cruzará parte da Índia, Myanmar e Tailândia. A segunda será toda dentro da China, com direito a encontro com pandas em Chengdu e a parada na Grande Muralha, perto de Pequim. No terceiro trecho, o ônibus atravessará as estepes e montanhas da Ásia Central (Quirguistão, Uzbequistão e Cazaquistão), até entrar na Rússia.
Moscou marca o início da reta final da viagem, já em território europeu, riscando as estradas de Letônia, Lituânia, Polônia, República Tcheca, Alemanha, Holanda, Bélgica e França, até atravessar o Canal da Mancha sentido Reino Unido, para a parada final, em Londres. A metrópole inglesa, aliás, é o ponto de partida da viagem de volta, que fará, em ordem inversa, o mesmo caminho, até chegar a Nova Délhi. Este roteiro está previsto para acontecer no verão do Hemisfério Norte.
Será possível embarcar na capital indiana e saltar na capital britânica ou fazer os trechos separadamente. O bilhete para a viagem completa custará 350 mil rúpias, ou 3,7 mil libras esterlinas, algo em torno de R$ 25 mil. Para se ter uma ideia, os quem embarcavam na excursão The Indiaman pagavam 85 libras em 1957 pela passagem de ida e volta. Em valores corrigidos pela inflação, o custo seria hoje de cerca de 1,7 mil libras. O valor do pacote inclui hospedagem em hotéis, passeios e atividades em cada parada e a documentação de viagem, como vistos e outras taxas.
Dupla acostumada a longas jornadas: As passagens ainda não começaram a ser vendidas, mas os interessados podem entrar em contato com os organizadores para uma pré-inscrição ou para obter mais informações através do site oficial do projeto. A empresa que está por trás da empreitada é a Adventures Overland, especializada em longos roteiros terrestres, dentro e fora da Índia.
Seus fundadores, os indianos Sanjay Madan e Tushar Agarwal, são entusiastas de road trips de longa data. Os dois são detentores, por exemplo, do recorde mundial, reconhecido pelo “Guinness Book”, de viagem de carro mais longa num país estrangeiro, quando cruzaram, sozinhos, 17.107 quilômetros na Austrália durante 28 dias em 2013. Essa aventura, aliás, foi parte do projeto The Great Indian World Trip, no qual a dupla dirigiu por 90 mil quilômetros em 50 países de seis continentes.
Desde 2010 eles organizaram viagens de carro entre a Índia e o Reino Unido, com os turistas dirigindo os automóveis. Dessa experiência veio a ireia de reunir os clientes num veículo maior, mas sem perder a essência da viagem.
“Há muitos turistas que querem vivenciar essas jornadas de atravessar países, mas não querem dirigir. Então, tivemos a ideia de colocar essas pessoas juntas em um ônibus onde podem se sentar confortavelmente e percorrer longas distâncias”, explicou Agarwal ao canal de notícias americano CNN.