Da CBN
Foto: Fabio Arantes/Secom
Gastos da Prefeitura com concessionárias de ônibus podem ficar 74% acima do previsto no orçamento. Aumento de repasses se deve à queda de passageiros durante a pandemia
O trabalho em casa e o medo de contaminação fizeram muita gente diminuir ou eliminar o uso do transporte público sempre que possível.
Mesmo morando perto da estação Praça da Árvore do metrô, na zona sul da capital, a funcionária pública Thaiza Torlai, que passou a trabalhar em casa, prefere usar o carro para outras atividades:
“O que eu tenho visto é que o transporte público está bem lotado. Então eu fico mais segura. A minha preferência sempre foi para evitar usar o carro, mas eu voltei a usar o carro para as coisas mais distantes, como ir ao supermercado, ir ao médico, quando necessário, farmácia e tal, eu tenho utilizado o carro.”
Segundo a SPTrans, a demanda nos ônibus da capital está em 51% do que era antes da quarentena.
Com menos dinheiro de passagens, a Prefeitura de São Paulo foi obrigada por contrato a aumentar o repasse para as concessionárias de ônibus.
A previsão de gastos com compensações tarifárias em 2020 é de R$ 4 bilhões: R$ 1,7 bilhão ou 74% a mais do que estava previsto no orçamento.
No fim de julho, a queda de receita no metrô foi o que motivou a tentativa de redução de salários e a consequente paralisação parcial dos metroviários.
Especialistas preocupados
O economista Leonardo Bueno, consultor em economia urbana, teme que a crise desorganize o transporte público, incentivando a clandestinidade:
“Ou você repassa esses custos para a população, aumentando a tarifa, o que seria péssimo, ou você reduz a oferta, o que também é problemático porque as pessoas precisam ir trabalhar. Então é um grande dilema. E há um risco de que o sistema quebre. Aí que o nosso receio da desregulamentação apareça.”
O problema, que já existia antes da pandemia, abre espaço para inovações, como os ônibus sob demanda, já em testes em algumas cidades do Brasil.
O professor de administração pública Ciro Biderman, da Fundação Getúlio Vargas, aponta também o caminho da cobrança por congestionamento, para ele, erroneamente chamada de pedágio urbano, para financiar o transporte público:
“Se você está num local sem nenhum congestionamento, você vai pagar zero ou um centavo, muito pouco por quilômetro. Se você está em áreas cheias em horários cheios, você vai pagar muito mais. Isso seria um ótimo financiamento para o transporte público e inclusive seria um desincentivo a você usar o seu automóvel.”
O sistema de cobrança por congestionamento é adotado, de diferentes formas, em cidades como Londres, Estocolmo e em Singapura.