Do Mobilize Brasil
Foto: Júnior Mendes/Ilustração
Iniciando a retomada de atividades públicas após setenta dias de isolamento social, cidades brasileiras começam a enfrentar seus desafios para a adequação do transporte público ao novo cenário da saúde pública.
Alguns cuidados são básicos, como o uso de máscaras, a oferta de álcool em gel, a colocação de barreiras para proteger os operadores dos sistemas de transportes e a manutenção – limpeza mais frequente – de veículos, estações e equipamentos sanitários. O maior desafio, porém, é a definição de uma lotação máxima para os veículos de transportes coletivos, ônibus, trens e barcas.
Máscaras já se tornaram parte do vestuário cotidiano, mesmo que o uso e manipulação desse equipamento nem sempre seja feito em acordo com as recomendações. Álcool também tem sido ofertado em ônibus, metrôs e trens.
Já a limpeza e desinfecção está sendo realizada apenas em alguns sistemas de transportes, em especial nso metrôs das maiores capitais. O metrô paulistano, por exemplo, opera com turmas de limpeza no início e final de cada viagem: seguradores, portas e estações dos operadores são limpas com produtos a base de cloro. Outras estratégias estão sendo tentadas, como os “túneis de desinfecção”, para eliminar vírus dos passageiros e sistemas de higienização com radiação ultravioleta, como está sendo feito em trens, ônibus e metrôs em Nova York e em São Paulo.
Mas os ônibus, que são maioria no transporte coletivo brasileiro, continuam circulando com a conhecida camada de sujeira que impregna suas estruturas após algumas semanas de uso. Vidros também continuam marcados por névoas geradas pela respiração dos passageiros. Não custa lembrar que já em março passado os infectologistas sugeriam a limpeza profunda a cada viagem realizada em ônibus, trens, barcas, teleféricos etc.
Distanciamento social
Mas, provavelmente, o maior desafio será a manutenção do distanciamento dentro dos trens e ônibus. Em Sidney, na Austrália, por exemplo, as autoridades estabeleceram que os ônibus tipo padron, que normalmente transportam 70 pessoas sentadas, terão sua capacidade limitada a 12 pessoas, enquanto os vagões de trens e metrôs, que comportam 120 pessoas sentadas, levarão apenas 28 passageiros. Trata-se de uma cidade com cerca de 5,3 milhões de habitantes. Já em Meddelín, Colômbia, com sua população de 2,5 milhões de pessoas, a meta é manter a lotação em 35% da capacidade do metrô (42 pessoas) e ônibus (24 pessoas), conforme uma diretiva do governo nacional colombiano.
Londres, com cerca de 9 milhões de moradores, tentou retomar a “normalidade” no início deste mês, mas o desafio foi duro para o metrô, que viu as estações e trens lotados logo no 1º de junho, apesar das ações dos governantes para que a volta às atividades fosse feita gradualmente e que as pessoas evitassem os horários de pico.
Especialistas consultados pela BBC apontaram que é “extremamente difícil” controlar a lotação em sistemas de metrô ou de trens urbanos. As medidas mais comuns têm sido a sinalização de solo nas estações e trens – para que as pessoas mantenham a distância entre si – e o bloqueio ou sinalização de parte dos assentos. Mas esse tipo de orientação somente funciona com o apoio de equipes de orientação e segurança circulando por todo o sistema, ação que se mostrou impossível para a Transport for London (empresa que opera os transportes em Londres) simplesmente porque parte importante de seus funcionários adoeceu e muito morreram pela Covid-19.
A página principal da TfL mantém mensagens orientando as pessoas para que trabalhem em casa e que, se possível, prefiram caminhar ou usar a bicicleta em seus deslocamentos, utilizando as faixas criadas especialmente para este momento de crise.
A mesma estratégia foi adotada em cidades da Espanha e da Itália, mas nesses países, o retorno ao trabalho está sendo monitorado pelas autoridades, com prioridade, inicialmente, apenas para alguns serviços considerados essenciais.
Ante o novo cenário, alguns operadores começaram a testar soluções para ao menos reduzir os contatos nas estações. Por exemplo, criar circuitos de sentido único para acesso e saída dos passageiros, tal como já fazem alguns sistemas de metrô aqui no Brasil. Outras alternativas envolvem sensores de presença ou de peso, para detectar os vagões mais lotados e bloquear a abertura das portas desses carros, solução impensável para um metrô que funciona acima de seus limites, como é o de São Paulo, por exemplo.
Rio de Janeiro
No Estado do Rio de Janeiro, o governo estadual iniciou no sábado (6) a flexibilização da quarentena com a retomada parcial transporte intermunicipal de passageiros em trens, barcas e ônibus. Entre as restrições, estão a lotação máxima de assentos disponíveis nos ônibus intermunicipais e nas barcas que fazem a ligação com o Rio, ficando proibidas as viagens em pé. Para trens e metrôs, ficou definido que esses sistemas só poderão transportar 50% do número de passageiros. Todos os passageiros e funcionários das empresas concessionárias deverão utilizar máscara e deverá ser ofertado álcool em gel ou outro produto desinfectante aos usuários. As informações são da Agência Brasil.
Em Recife, na segunda-feira (8), primeiro dia da retomada gradativa das atividades, o que se viu foram ônibus lotados e muita espera pelo transporte público. Com a frota operando em 54% – cerca de 120 ônibus -, de acordo com a apuração da jornalista Roberta Soares, do Jornal do Commercio, a promessa do governo de Pernambuco para evitar aglomerações não foi possível ser cumprida. “Quando ônibus chegava, era uma correria. Dentro do veiculo, uma cena tão comum no dia a dia, mas que não deveria acontecer, principalmente em tempos de pandemia do novo coronavírus, todos os assentos estavam ocupados e muitas pessoas em pé”, relatou a reportagem da TV Jornal. Roberta Soares explicou que “apesar de o plano manter ônibus-reserva em 16 dos 26 Terminais de Integração, havia momentos, nos horários de pico, em que os coletivos não davam conta das longas filas de passageiros concentrados. Com a frota operando com apenas 54%,a promessa de evitar aglomerações foi, mais uma vez, difícil de cumprir”.
Na Região Metropolitana de Florianópolis os ônibus que ligam a capital aos municípios vizinhos voltaram a funcionar nesta semana, porém com restrições ao embarque. Em Palhoça, por exemplo, os passageiros não têm acesso ao terminal central e o ingresso no ônibus só ocorre nas paradas intermediárias. Já em Biguaçu o prefeito do município, Ramon Wollinger (PSD), falou sobre a retomada gradativa do transporte no município, como um teste. “Foi importante os três municípios (São José, Biguaçu e Palhoça) liberarem o transporte para corrigir os eventuais problemas, antes da abertura em Florianópolis, onde está a grande demanda”, avaliou o mandatário. O prefeito alertou que, se não houver “apoio” da população, a circulação dos coletivos pode ser novamente suspensa.
Belo Horizonte
O governo de Minas Gerais está tentando conciliar a retomada de setores da economia com o controle da Covid-19 e para isso planeja mudanças em um dos locais de maior risco de contaminação: o transporte público. A intenção é fazer adequações no sistema para evitar aglomerações e proteger principalmente os trabalhadores do chamado grupo de risco, no caso, idosos e pessoas com doenças crônicas, como cardíacos. “Estamos monitorando quando os grupos de risco estão usando o serviço, procurando escalonar os horários…”, disse o chefe de gabinete da Secretaria de Estado da Saúde, João Márcio Pinho, durante entrevista coletiva nesta segunda-feira (8), dia em que novas atividades foram liberadas para funcionamento pela Prefeitura de Belo Horizonte. As informações são do jornal Estado de Minas.
Belém
Com a retomada das atividades em alguns setores da economia em Belém no início de junho, o sistema de transporte público também passou por ajustes. De acordo com a Superintendência de Mobilidade Urbana (Semob) a frota nas ruas subiu para 65% e houve a ampliação do horário de pico das linhas, que passa a atender ao novo horário do setor de comércio de 9h às 17h, como determina o decreto municipal. Antes da pandemia, o sistema era utilizado por 1 milhão de passageiros por dia, demanda que chegou a cair 72% antes da quarentena e, durante o lockdown, atingiu a maior queda para 80%. Para se adaptar a essa redução de passageiros e desestimular a circulação de pessoas,a frota chegou a reduzir em 50%, e no lockdown baixou a 40%. Com o fim do isolamento, a determinação da Semob foi para que as empresas voltassem a ter como base os 50% da frota para observar como se comportaria a demanda. As informações são do site G1.
São Paulo
A prefeitura de São Paulo determinou que, a partir desta semana entrem em circulação mais 784 ônibus para garantir o cumprimento das medidas para reduzir a disseminação da Covid-19 no transporte municipal. Entre as orientações está a de que os coletivos não devem exceder a capacidade de passageiros sentados. Os motoristas estão autorizados a não parar nos pontos de embarque quando os veículos tiverem atingido a lotação. A informação foi divulgada nesta segunda-feira (8) pela TV Globo.
Com a inclusão desses ônibus nas linhas, a população passa a ser atendida por 71,62% do total da frota disponibilizada antes da quarentena. São 9,2 mil veículos em circulação que deverão fazer o transporte da população neste período de flexibilização da quarentena. O protocolo para o transporte coletivo municipal prevê ainda o uso obrigatório de máscaras dentro dos ônibus e nos terminais e a marcação no chão para sinalizar a distância entre os passageiros durante a espera nos locais de embarque.
Ainda em São Paulo, o prefeito Bruno Covas (PSDB) deu um ultimato ao secretário municipal de Transportes pedindo uma solução para o problema dos ônibus lotados na capital. Em entrevista coletiva, ele disse que Caram tem até a próxima sexta-feira para conseguir que as empresas ofereçam mais coletivos nesse período de retomada de atividades em São Paulo. Caso contrário, o secretário será substituído, disse Covas. Segundo reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, a meta da Prefeitura é fazer com que os ônibus circulem apenas com a capacidade de passageiros sentados, mas o que se viu na primeira segunda-feira depois da reabertura de concessionárias e escritórios foi passageiros em pé em pelo menos 5% das linhas, segundo o próprio prefeito, o que coloca em risco a saúde dos passageiros.