Como a pandemia está transformando a mobilidade urbana

Por Deutsche Welle
Foto: K. M. Höfer (Imago Images / Deutsche Welle)

Após semanas de medidas rigorosas de confinamento, em muitas partes do mundo estabelecimentos comerciais e escolas estão cautelosamente começando reabrir suas portas. As ruas se enchem novamente de carros, ao som do noticiário radiofônico de tráfego de cada dia.

Algumas cidades esperam tirar vantagem da pausa forçada pela pandemia para lançar novas formas de mobilidade positivas para o meio ambiente, visando reduzir as emissões de gases do efeito estufa e ao mesmo tempo ajudar quem se desloca para o trabalho ou escola a manter a distância física.

Bruxelas iniciou a primeira fase de suas medidas pós-confinamento em 4 de maio, rapidamente expandindo em cerca de 40 quilômetros sua rede ciclística. A autoridade regional Bruxelles Mobilité apelou aos cidadãos para que deem preferência a bicicletas para viagens breves e “evitem congestionar o transporte público”.

As novas ciclovias são isoladas com marcas de estrada e barreiras de concreto. “Grande parte da infraestrutura ciclística que estamos instalando veio para ficar”, explica o porta-voz da Bruxelles Mobilité. Ainda vai haver alguma “sintonia fina”, mas as medidas temporárias estão alinhadas com a estratégia urbana para a próxima década, lançada pela coalizão socialista-verde do governo local.

Outras cidades estão aproveitando o estado de exceção ditado pela pandemia para experimentar alternativas aos automóveis. Em Londres, os atuantes da área de saúde receberam acesso grátis temporário a bicicletas elétricas, como cortesia dos vendedores de bicicletas e companhias de mobilidade partilhada.

Em Milão, metrópole no norte da Itália especialmente atingida pela covid-19, as autoridades pretendem converter 35 quilômetros de ruas em mais espaço para ciclistas e pedestres, com limites de velocidade mais baixos, ciclovias improvisadas e calçadas mais largas.

Algumas mudanças provisórias já acarretaram reformas permanentes. Depois que ciclovias mais largas começaram a aparecer em Berlim e outras cidades alemãs, o governo federal introduziu regras em âmbito nacional proibindo que motoristas estacionem em ciclovias e tornando obrigatório o espaço de 1,5 metro entre carros e ciclistas.

Vancouver, Denver, Budapeste, Nova York, México, entre outras, também fecharam ruas ao tráfego automobilístico e criaram ciclovias temporárias. Especialmente ambiciosa é a rede de Bogotá, que acrescentou mais de 100 quilômetros de vias marcadas por cones de tráfego, a fim de tirar a pressão do sistema de ônibus expressos Transmilenio.

Expandindo os limites do possível: Embora essas medidas pós-confinamento sejam sinais de esperança para os ativistas do ciclismo urbano, continua difícil implementá-las no Hemisfério Sul, especialmente nas megacidades em rápida expansão na África e Ásia, onde bilhões dependem ou do transporte público superlotado, ou de mobilidade partilhada, em táxis ou veículos privados.

Em Abuja, capital da Nigéria, as medidas ditadas pela pandemia incluíram reduzir a capacidade dos ônibus e suspender os serviços da Uber. No entanto, um projeto de pesquisa mostrou que isso resultou em transporte mais caro e restrito, deixando alguns passageiros “encalhados” e vulneráveis, especialmente mulheres.

Em Singra, Bangladesh, riquixás elétricos vieram preencher a lacuna deixada pela redução do transporte público, inclusive suprindo bens de primeira necessidade, num sistema de entrega a domicílio. O projeto é apoiado pela Transformative Urban Mobility Initiative (Tumi), um grupo de mobilidade sustentável que inclui a agência alemã de cooperação internacional GIZ, e que atua também em Lviv (Ucrânia), Hoi An (Vietnam) e Addis Abeba (Etiópia), entre outras cidades.

Em 7 de maio, um grupo de prefeitos de todo o mundo declarou em comunicado que iniciativas de ação climática, incluindo patrocínio para o transporte público e a expansão de redes de ciclovias, poderiam “ajudar a acelerar a recuperação econômica e fortalecer a igualdade social”. Os governantes integram a força-tarefa C40 Covid-19 Recovery Task Force, que representa 750 milhões de cidadãos em cidades de todos os continentes.

“Nossa meta é construir uma sociedade melhor, mais sustentável, mais resistente e justa, a partir da recuperação da crise de covid-19”, prossegue o comunicado, alertando que os efeitos sociais e econômicos da pandemia serão “sentidos por muitos anos”.

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