Anfavea e BCG apresentam estudo sobre descarbonização do transporte no Brasil

Do PORTAL UNIBUS
Foto: Divulgação (NTU / Via O Estado de S. Paulo)

Um novo estudo realizado pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) em parceria com o Boston Consulting Group (BCG) detalha os desafios e caminhos para a descarbonização do setor de transporte no Brasil. O levantamento aborda os impactos do processo em toda a cadeia da mobilidade, incluindo governo, produtores de biocombustíveis e fornecedores de carregadores para veículos elétricos.

O estudo é uma atualização de uma análise anterior divulgada em 2021, que traçava cenários e projeções sobre a descarbonização no país. Segundo Luiz Carlos Moraes, vice-presidente da Anfavea, desde então o setor avançou significativamente em termos de novas tecnologias, biocombustíveis e regulamentação. “Chegou a hora de revisitar o tema, pois o cenário mudou com a chegada de novas soluções”, afirmou Moraes.

A pesquisa, apresentada por Masao Ukon, diretor executivo do BCG, delineia quatro cenários que combinam dois principais vetores: eletrificação e biocombustíveis. No primeiro cenário, uma transição gradual para a eletrificação faria com que, em 2040, os veículos eletrificados representassem 35% da frota de veículos leves e 15% da de pesados. No cenário mais acelerado, esses números subiriam para 42% e 19%, respectivamente.

Além disso, o estudo prevê um aumento gradual na aplicação de biocombustíveis, como a elevação da mistura de etanol na gasolina de 27,5% para 30% até 2040. O biodiesel passaria de 14% para 21% no diesel, e o biometano seria incorporado ao GNV (gás natural veicular), subindo de 0% para 3%.

Com essas iniciativas, a emissão de CO2 pela frota brasileira teria uma variação que vai de um aumento de 5% até uma redução de 8%, dependendo do cenário adotado, medido no ciclo completo de “poço à roda”. Henry Joseph Jr., diretor de sustentabilidade da Anfavea, explicou que, embora o crescimento da frota aumente as emissões, a introdução acelerada de novas tecnologias e biocombustíveis pode evitar a emissão de mais de 280 milhões de toneladas de CO2 até 2040.

A análise também faz projeções sobre o impacto no mercado automotivo. No cenário de crescimento gradual, a venda de veículos leves elétricos poderia atingir 1,8 milhão de unidades (44% do total de vendas). Em um cenário mais acelerado, esse número chegaria a 2,4 milhões (61% do mercado). No segmento de veículos pesados, as vendas variariam entre 45 mil (23%) e 57 mil (29%).

Moraes alertou para a necessidade de investimentos no parque industrial brasileiro para atender a essa demanda, ressaltando que um aumento nas importações de veículos elétricos poderia prejudicar a balança comercial. Ele também destacou a importância de desenvolver uma indústria de baterias no Brasil e de promover avanços em toda a cadeia de produção, incluindo fornecedores de etanol e empresas de energia.

A descarbonização também exigirá aumento na produção de biocombustíveis e energia elétrica. A demanda por eletricidade deve crescer em 50 mil GWh por ano, o que representa 8% do consumo atual do país. Já a mistura de etanol na gasolina exigirá 15 bilhões de litros adicionais de etanol, enquanto o biodiesel demandará mais 9 bilhões de litros até 2040.

Para avançar nesse processo, Moraes defendeu a criação de um programa de renovação de frota, aliado à inspeção veicular obrigatória, como forma de retirar de circulação os veículos mais poluentes e reduzir ainda mais as emissões.

O estudo foi entregue ao governo e será apresentado aos ministérios envolvidos nas próximas semanas, com o objetivo de discutir as demandas necessárias para a descarbonização do transporte no Brasil. O relatório completo está disponível no site da Anfavea.

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