Artigo: Impactos econômicos associados ao ônibus elétrico

Do Jornal O Estado de S. Paulo
Por Edgar Barassa*
Foto: Divulgação (Scania)

É possível afirmar, com base em estudos e dados comprovados cientificamente, que os ônibus elétricos contribuem, significativamente, para a redução nas emissões no setor de transportes. Os atributos da tecnologia elétrica não somente ajudam a reduzir as emissões dos gases do efeito estufa como também contribuem para uma melhor saúde pública da população. É imperativo a implementação de tecnologias alternativas ao transporte público, no Brasil, que deem resposta e contorno a esses desafios.

Outro ponto desse debate refere-se aos potenciais impactos econômicos associados a esse setor, como geração de emprego e renda. Para pavimentar uma discussão estruturada baseada em dados e números concretos, em abril de 2022, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) publicou o estudo Oferta de ônibus elétrico no Brasil em um cenário de recuperação econômica de baixo carbono, desenvolvido e executado pelos consultores associados da Barassa & Cruz Consulting.

Verificou-se, com base nas simulações geradas via metodologia matriz insumo-produto, que, quanto maiores os investimentos, no Brasil, na expansão do setor de elétricos a bateria, maiores seriam os efeitos econômicos. Em cenários de penetração de mercado moderado e ideal, como foram construídos no estudo, os impactos econômicos seriam maiores.

O potencial volume a ser investido na expansão do setor de elétricos a bateria pode contribuir para a recuperação econômica brasileira. Por exemplo, cerca de 280.318 novos postos de trabalho podem ser gerados, no cenário ideal, entre 2021 e 2030, e 70.218 novos postos, no cenário moderado.

Retomada de crescimento: Em termos de impactos sobre o PIB, o cenário ideal apresenta um incremento na ordem de 0,04%, ou R$ 3,1 bilhões, por ano. Considerando todo o período analisado, entre 2021 e 2050, a contribuição anual se elevaria para 0,14%, dado os volumes de investimento realizados para manter a expansão, juntamente com a renovação da frota.

No cenário moderado, os impactos sobre o PIB seriam menores, mas, ainda assim, com potencial de contribuir para a retomada de crescimento da economia brasileira: incremento de R$ 1,1 bilhão, por ano, em média, entre 2021 e 2030.

A renda gerada pelos investimentos em capacidade produtiva local, infraestrutura de recarga e produção de ônibus elétricos, no cenário ideal, seria de R$ 128,3 bilhões, em termos acumulados em 2050. Entre 2021 e 2030, a renda acumulada seria de R$ 13 bilhões. No cenário moderado, a renda gerada seria de R$ 25,8 bilhões, em 2050, e de R$ 4,7 bilhões, entre 2021 e 2030, também em termos acumulados.

Em termos de geração de impostos, a expansão do setor de elétricos teria muito a contribuir, dada a atual situação de deterioração fiscal pelo qual passa o Brasil, já incluindo os efeitos negativos sobre a arrecadação em decorrência da redução da produção de ônibus a diesel. No cenário ideal, a arrecadação acumulada em 2050 seria de R$ 44,3 bilhões, com R$ 4,7 bilhões entre 2021 e 2030. No cenário moderado, a arrecadação acumulada seria de R$ 9,3 bilhões em 2050, com R$ 1,9 bilhão entre 2021 e 2030.

Os resultados indicam que os impactos econômicos, em termos de PIB, emprego, renda e geração de impostos, seriam positivos, mesmo no cenário mais conservador. No mais otimista, com expansão mais agressiva do setor, a escala maior de produção local possibilitaria a internalização de grande parte dos componentes, que atualmente são importados.

E uma forma de vislumbrar esse caminho é desenhar políticas industriais, para o País, e implementar ações estratégicas dentre os mais diferentes stakeholders para fortalecer e ampliar o posicionamento da cadeia produtiva de ônibus, no Brasil. Afinal, conta-se, aqui, com um diagnóstico que dá sustentação à força que a cadeia produtiva local representa e que pode construir novas competências e se aproveitar das condições já existentes para alcançar as novas oportunidades evidenciadas.

* Edgar Barassa é fundador da Barassa & Cruz Consulting e Otsmah, Recursos Energéticos Sustentáveis.

** O texto que você acabou de ler não reflete, necessariamente, a opinião do UNIBUS RN, sendo de total responsabilidade do seu autor.

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