Do PORTAL UNIBUS
Foto: Mauricio Tonetto (Secom / Governo do RS / Via Fotos Públicas)
As mudanças climáticas já figuram entre os maiores desafios à operação e sustentabilidade do transporte brasileiro. É o que mostra a “Sondagem CNT de Resiliência Climática do Setor de Transporte”, realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) em parceria com a Ambipar. O estudo aponta que 70,6% das empresas registraram perdas financeiras provocadas por eventos climáticos extremos nos últimos cinco anos.
Os dados foram apresentados nesta sexta-feira (14), durante a COP30, em Belém (PA), na Estação do Desenvolvimento — espaço do Sistema Transporte na Zona Verde do evento. A pesquisa ouviu 317 empresários de todos os modais e regiões do país entre junho e julho deste ano.
De acordo com o levantamento, quase um quarto das empresas acumulou prejuízos iguais ou superiores a R$ 1 milhão, enquanto 9,9% superaram R$ 5 milhões. As principais causas foram enchentes, secas, deslizamentos, vendavais e ondas de calor. Além das perdas financeiras, 74,6% das companhias tiveram impactos operacionais, como interrupções no transporte, escassez de insumos e, em casos extremos, demissões.
Entre as empresas afetadas, 72,2% precisaram interromper atividades, e 9% ficaram paralisadas por um mês ou mais. A CNT destaca que o setor é duplamente vulnerável: sofre com a deterioração da infraestrutura e enfrenta o aumento dos custos logísticos para manter as operações.
Setor em alerta
Durante a apresentação, a diretora executiva da CNT, Fernanda Rezende, afirmou que “os eventos climáticos extremos não são mais algo distante”. Segundo ela, “quando uma rodovia é bloqueada, quando um rio deixa de ser navegável ou quando falta energia para mover um metrô ou ônibus elétrico, toda a cadeia logística e a mobilidade das pessoas ficam comprometidas”.
O subsecretário nacional de Sustentabilidade do Ministério dos Transportes, Cloves Benevides, reforçou a necessidade de adaptação das vias e modais. “A adaptação já não é uma escolha, é uma necessidade. É o que vai reduzir impactos e proteger pessoas, cargas e serviços essenciais”, disse.
Diferenças entre os modais
A sondagem mostra que os impactos climáticos variam conforme o tipo de transporte. No rodoviário, que representa 84,5% das empresas ouvidas, o calor extremo provoca deformações no asfalto, enquanto chuvas e enchentes danificam pontes e rodovias. As enchentes no Rio Grande do Sul, em 2024, por exemplo, destruíram trechos inteiros da malha, com prejuízos estimados em R$ 18,9 bilhões.
Nas ferrovias, deslizamentos e flambagem de trilhos em dias muito quentes são os principais problemas, além do aterramento de lastros em períodos chuvosos, que eleva o risco de descarrilamento. No transporte aquaviário, a estiagem histórica da Amazônia, em 2023 e 2024, reduziu drasticamente a navegabilidade de rios, interrompendo o acesso a comunidades e portos. Já o modal aéreo sofre com tempestades e nevoeiros, que aumentam o número de atrasos e cancelamentos.
Custos crescentes e falta de apoio público
Os efeitos das mudanças climáticas também elevaram significativamente os custos das empresas. Entre as afetadas, 63,4% tiveram gastos extras com reparos e manutenção, e 47,9% registraram perdas logísticas. A maioria (76,9%) precisou recorrer a recursos próprios para cobrir os prejuízos, enquanto apenas 7,7% receberam algum tipo de auxílio governamental.
A CNT ressalta que os resultados evidenciam a urgência de políticas públicas voltadas à adaptação climática e à modernização da infraestrutura, com foco em planejamento de longo prazo, prevenção de desastres e resiliência operacional para o transporte brasileiro.





