Do PORTAL UNIBUS
Foto: Divulgação (Caio Induscar)
O avanço das discussões sobre a adoção da tarifa zero ou de modelos de transporte público com custo reduzido ao usuário tem se concentrado principalmente em aspectos econômicos, como custos operacionais, fontes de financiamento e impactos fiscais sobre os municípios. No entanto, especialistas apontam que o debate ainda precisa considerar os efeitos sociais e de saúde pública dessa política. Segundo o diretor de transportes públicos da SA Trans (Santo André Transportes), Rodrigo Ageu Padoveze, a gratuidade no transporte “dá dignidade e melhora a qualidade de vida das pessoas”, conforme afirmou em entrevista ao jornal “Diário do Grande ABC”.
Para Padoveze, o aumento da oferta de ônibus e a consequente redução do uso de automóveis trazem ganhos diretos à mobilidade urbana. “Com mais ônibus circulando e menos carros nas ruas, o tempo das viagens é reduzido. Com isso, os passageiros descansam mais e chegam mais dispostos ao trabalho”, destacou.
Com deslocamentos mais rápidos e acessíveis, a população também ganha em bem-estar. O tempo economizado pode ser direcionado a atividades de lazer, descanso, convivência familiar e cuidados pessoais, fatores que influenciam diretamente na saúde física e mental.
Além dos benefícios sociais, a gratuidade pode contribuir para a segurança viária. Um levantamento publicado pelo “Diário do Grande ABC” em agosto mostrou que o número de mortes no trânsito envolvendo motocicletas nas sete cidades da região cresceu 66% em seis anos. De acordo com dados do InfoSiga, sistema de monitoramento do governo estadual gerenciado pelo Detran-SP, foram registradas 63 vítimas fatais entre janeiro e junho de 2025, contra 38 no mesmo período de 2020. “Têm acontecido muitos acidentes. Sou a favor do diálogo, mas se não tiver regra, acho que deve proibir”, afirmou Padoveze ao podcast “Política em Cena”.
Para o pesquisador Daniel Santini, coordenador de projetos na Fundação Rosa Luxemburgo no Brasil e Paraguai, a tarifa zero é também uma política de cuidado social. “Quando uma mãe consegue levar o filho à escola sem pagar duas passagens, quando um idoso pode ir ao posto de saúde ou ao parque sem se preocupar com o valor da tarifa, estamos falando de uma sociedade que cuida melhor de si mesma”, afirmou.
Essas discussões estarão no centro do “Arena ANTP 2025”, promovido pela Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), de 28 a 30 de outubro, no Transamérica Expo Center, em São Paulo (SP). O painel “Tarifa Zero, Saúde Pública e Trabalho de Cuidados” propõe ampliar o debate sobre a gratuidade, destacando seus impactos sobre a saúde urbana, a redução das desigualdades de gênero e a consolidação do direito coletivo à mobilidade.