Do PORTAL UNIBUS
Foto: Andreivny Ferreira (PORTAL UNIBUS)
O professor da UFRN e ex-vereador de Natal, Robério Paulino, acusou a Câmara Municipal de ser cúmplice do cartel que controla o transporte público da capital potiguar, ao blindar os interesses do Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Natal (Seturn). Em entrevistas recentes, ele apontou um cenário de colapso estrutural, abandono da população periférica e omissão do poder público diante da degradação do sistema.
Robério criticou duramente a qualidade dos ônibus que circulam em Natal. “Boa parte da frota é composta por veículos usados, vindos de outras capitais, reformados aqui e sem ar-condicionado. Em uma cidade quente como a nossa, isso é inaceitável”, afirmou, em entrevista ao jornal Agora RN. Para ele, o modelo atual serve exclusivamente ao lucro das empresas, sem qualquer compromisso com dignidade, eficiência ou acessibilidade.
Durante seu mandato como vereador, Robério tentou avançar com propostas como a criação de uma empresa pública municipal de transporte, mas enfrentou resistência da base governista. “Riram da proposta, como se fosse impossível. Mas há exemplos reais no Brasil de cidades que implementaram esse modelo com sucesso”, comentou em participação no programa De Volta Pra Casa, da rádio 105 FM.
Segundo ele, a falta de licitação, a supressão arbitrária de linhas e a ausência de fiscalização configuram um cenário de abandono institucional, no qual a Câmara atua como “escudo político” para os interesses do Seturn. “As empresas fazem o que querem. Cortam linhas sem avisar, deixam bairros isolados e mantêm a população viajando em ônibus superlotados, como latas de sardinha”, disparou.
A Zona Norte foi citada como um exemplo crítico dessa precariedade. “Tem morador que chega do trabalho à noite e precisa caminhar mais de um quilômetro até em casa porque a linha foi cortada. Uma jovem que estuda na UFRN, depois de um dia de trabalho, ainda precisa enfrentar isso. É desumano.”
Robério também fez uma comparação direta com outras capitais: “Em Porto Alegre, que é fria, todos os ônibus têm ar-condicionado. Em Natal, as pessoas nem têm abrigo nas paradas. Esperam sob sol ou chuva. Isso mostra o retrato da desigualdade e da omissão política”.
Em sua visão, não há vontade política para enfrentar o “esquema”. Ele diz que tentou promover audiências públicas, dialogar com especialistas e rever a política tarifária, mas todas as iniciativas foram ignoradas ou barradas. “Eles preferem manter a cidade engarrafada, atrasada e submissa aos empresários do setor”, concluiu.