Da Agência AutoData
Foto: Divulgação (Scania)
O ano em que a Scania celebra seis décadas e meia no Brasil, apesar dos problemas trazidos pela escassez de semicondutores, é marcado por avanços em novas tecnologias de propulsão. Embora ainda não comercialize no País veículos eletrificados unidades movidas a bateria já estão em testes na fábrica de São Bernardo do Campo, SP.
O CEO da Scania Latin America, Christopher Podgorski, foi enfático ao reconhecer que, antes de iniciar a comercialização por aqui, é preciso que a tecnologia faça sentido, principalmente do ponto de vista financeiro, uma vez que seu preço é bastante elevado frente a caminhões e ônibus movidos a combustão interna, o que também depende do aumento da oferta de infraestrutura.
“A ideia é que a gente se acostume a manter e a operar esses veículos. Trata-se de um animal completamente novo.”
Além disso o elétrico europeu precisa ser adaptado às condições locais: “Veículo elétrico europeu trabalhando com muita poeira e altas temperaturas, com vias de pavimentação irregular, certamente terá outro desempenho. Então, antes de apresentarmos aos nossos clientes qualquer nova tecnologia, estamos validando em testes”.
No fim do ano passado a Scania trouxe da Suécia um ônibus elétrico que tem realizado o transporte de funcionários dentro da unidade do ABC, composta por onze prédios, interconectando-os.
Recentemente foi a vez de importar um caminhão a bateria, que está sendo integrado ao sistema logístico da unidade, ao conectá-la ao novo centro logístico, inaugurado em fevereiro do ano passado, distantes 5 quilômetros. O espaço anterior, na vizinha Mauá, era distante 37 quilômetros e o transporte feito exclusivamente por veículo a combustão.
Segundo Podgorski esses exercícios diários são uma forma de entender características do veículo e de desenvolver competências para posteriormente lidar com isso em uma escala maior.
Sobre quando ele deve ser ofertado ao mercado brasileiro o executivo argumentou que ainda não há data definida: “Será no seu tempo. Tem que fazer sentido, porque ele tem preços muito mais altos do que um veículo de combustão interna: custa em torno de duas vezes e meia a mais. E para fazer sentido que alguém pague tanto mais ao longo da sua vida é preciso que ele ofereça custo operacional menor. Hoje não vemos essa conta fechar, por enquanto. Mas sabemos que o produto vai se desenvolver, as baterias serão mais leves, com maior capacidade de carga, o que dará mais autonomia ao veículo, hoje de 250 quilômetros. Aí a conta começará a fechar”.
Quanto aos modelos híbridos, em sua segunda geração na Europa, a relação de preço em comparação ao movido a combustão é de 1,6 para 1, citou o executivo. São alternativas também mas, por enquanto, ainda não têm prazo para aportar no País. Da primeira para a segunda geração a autonomia expandiu de 15 quilômetros para 50 quilômetros.
“É interessante porque não depende de infraestrutura. Só traz e opera. Mas mesmo neste caso também tem que fechar a conta. O veículo já é testado e provado. E a combustão interna pode ser movida por combustível renovável, como biodiesel, HVO, diesel orgânico tratado com hidrogênio, enfim, algum biocombustível.”
Caminho natural: O CEO da Scania Latin America sempre acreditou que o processo de eletrificação da empresa no País começaria pelos ônibus urbanos, pelo fato de terem rotas menores e mais definidas. Ele contou que a Scania tem participado de processos licitatórios, a exemplo do da Prefeitura de São Paulo. A SP Trans tem realizado concorrência para adquirir quinhentos veículos a bateria.
Sobre a relação com a quase vizinha Eletra, que está investindo R$ 10 milhões para ampliar sua produção de ônibus elétricos em São Bernardo, em sua nova sede, Podgorski afirmou que é uma concorrente, mas que pode ser parceira novamente, como no passado. E lembrou que os 150 trólebus que rodam Capital paulista são Eletra com chassi Scania, sem o motor a combustão.
“A jornada de sustentabilidade se dá a partir de parcerias. A receita de bolo como sempre foi não existe mais. E temos inúmeras delas em curso, mas com cláusulas de confidencialidade que não me permitem dar mais informações.”
De acordo com o executivo a Scania detém tecnologia e capacidade para a eletromobilidade, e que sabe que a sua solução será vencedora primeiro na Europa, onde há subsídios e incentivos pesados para a produção de elétricos: “Lá é bem diferente. Temos uma alavanca muito forte para virar a chave. Aqui vale a força do mercado, que trabalha com a conta econômica e financeira”.