Etanol brasileiro polui menos do que se pensava, diz estudo

Do Valor Econômico
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O etanol brasileiro produzido a partir de cana-de-açúcar é ainda mais sustentável do que se imaginava, segundo um estudo coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais. Pesquisadores do CNPEM, em parceria com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), desenvolveram um novo modelo de cálculo do chamado carbono equivalente que considera características próprias do solo dos canaviais do país.

Hoje, para o cálculo das emissões de carbono equivalente, utiliza-se o padrão proposto pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC). Esse modelo baseia-se em dados coletados em solos de clima temperado, diz o pesquisador João Carvalho, do CNPEM. “Já houve muito debate sobre o fato de os solos tropicais emitirem menos do que os de clima temperado”, disse ele ao Valor.

Carvalho e outros pesquisadores organizaram mais de uma década de informações de diferentes fontes para criar o cálculo que considera as diferenças de solo. O trabalho, revisado por pares, foi publicado na revista “Renewable & Sustainable Energy Review”.

Para o cálculo, os cientistas brasileiros consideraram um novo fator de emissão de óxido nitroso (N2O). Pouco citado quando se fala em gases de efeito estufa, o poluente é 300 vezes mais nocivo à atmosfera que o dióxido de carbono. Mesmo com emissões em volume reduzido, o N2O responde por cerca de 50% da pegada de carbono do etanol, diz Carvalho.

Para comparar os dois modelos de cálculo, os pesquisadores consideraram uma usina da região Centro-Sul do Brasil com capacidade de processar 4 milhões de toneladas de cana por ano. No padrão do IPCC, a usina emitiria 176,5 milhões de toneladas de CO2 equivalente. Já o modelo do CNPEM resultaria em emissões de 145,2 milhões de toneladas, o que representa uma redução de 19% entre um padrão e outro.

O uso do etanol para substituir a gasolina diminuiria em 73,3% as emissões de carbono equivalente por ano, de acordo com o padrão do IPCC, ou 78,1%, quando considerado o modelo dos cientistas brasileiros. Isso geraria US$ 320 mil adicionais em Créditos de Descarbonização (CBIOs) para uma usina desse porte.

Carvalho acredita que o novo modelo daria impulso adicional ao mercado de CBIOs, que integra o programa Renovabio, de redução das emissões. “Até pouco tempo atrás, uma pessoa nos perguntaria ‘o que eu ganho com isso? Estou gastando mais dinheiro para ter essa sustentabilidade, e meu negócio é econômico’. Agora, ela tem um adicional que paga essa conta”, destaca o pesquisador.

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