Do O Estado de SP
Foto: Renato Araújo/Agência Brasília/Ilustração/Fotos Públicas
Um dos principais idealizadores do conceito de cidade de 15 minutos, o professor da Universidade de Paris Pantheon Sorbonne Carlos Moreno disse no Summit Mobilidade 2021, que países de todos os continentes estão de olho no modelo adotado em Paris, principalmente após o início da pandemia da covid-19. “O conceito está se tornando cada vez mais popular no mundo todo”, afirmou, referindose ao projeto de cidade em que moradores têm acesso a tudo o que precisam a apenas 15 minutos de caminhada de suas casas.
Segundo ele, a ideia de uma cidade mais descentralizada, solidária, ágil e sustentável foi abraçada pela prefeita da capital francesa, Anne Hidalgo, ainda na campanha municipal de 2019. Agora, o governo local já prepara o anúncio da segunda fase do programa para junho, com vigência de três anos. “É uma jornada fascinante que se transforma todos os dias, pois o conceito ambiciona mudar radicalmente o nosso estilo de vida”, diz Moreno, que é conselheiro especial da prefeitura. Na prática, uma região com menos carros, mais parques e áreas urbanas coletivas – uma mudança que ainda precisa chegar às extremidades da cidade.
Na avaliação do pesquisador, a popularização do cidade de 15 minutos ganhou ainda mais projeção a partir do ano passado, momento crucial em que se entrelaçaram duas crises: a climática e a sanitária, com a maior pandemia do século. “A covid-19 alerta para que os legisladores desenvolvam uma nova narrativa urbana. Ela serve de oportunidade para repensar os espaços comuns e as crenças e valores territoriais”, defende.
Entre os interessados em replicar os benefícios da mobilidade ativa, e implementar serviços públicos próximos dos habitantes e a recuperação ecológica, está o grupo C40 Cities – Climate Leadership Group, que já buscou articulação para trabalhar a cidade de 15 minutos no período pós-pandêmico, conta Moreno.
Temporalidade. A ideia que deu origem à cidade de 15 minutos veio do descontentamento de ver pessoas no mundo inteiro “aceitarem o inaceitável” e para “mudar a relação com o tempo”, diz Moreno. “Percorrer longas distâncias para acessar serviços, congestionando a cidade, usar transporte público em condições precárias, a predominância de carros individuais e a poluição do ar, além de colocar a saúde em risco” são alguns dos comportamentos listados por ele.
Como resposta a tudo isso, juntamente com outros especialistas, partiu para uma proposta que devolvesse aos cidadãos a posse do seu tempo e mudasse o estilo de vida, reduzindo a velocidade e as distâncias percorridas. “Nesse modelo, três ideias convergem: o crono-urbanismo (um novo ritmo para a cidade), a cronotopia (uso diferenciado de um lugar de acordo com a temporalidade) e a topofilia (apego ao lugar).”
Na proposta de transformação urbana, Moreno afirma que o objetivo central é maximizar os usos e a presença de seis funções sociais nas proximidades das pessoas: acessar o trabalho, a casa, a comida, a saúde, a educação, a cultura e o lazer. “Temos de reconquistar espaços públicos, jardins, praças e desenvolver cidades com baixa emissão de carbono, promover o empoderamento dos cidadãos”, diz.
No caso de São Paulo, porém, o diretor do Instituto Urbem, Gustavo Partezani Rodrigues, aponta que a conjuntura atual da capital paulista impede a aplicação do conceito em sua totalidade, principalmente, nas bordas do Município. “Olhando para São Paulo, não dá para imaginar uma cidade de 15 minutos na periferia. Não há emprego, muito menos ofertas de serviços como na região central”, diz.
“Temos de reconquistar espaços públicos, jardins, praças, desenvolver cidades com baixa emissão de carbono e empoderar os cidadãos” – Carlos Moreno, Professor da Universidade de Paris Pantheon Sorbonne