Operários da Renault, na França, colocam chefia no cativeiro

Do O Estado de SP
Foto: Fred Tanneau/AFP/Getty

O país que criou o comitê de salvação pública e deu ao mundo revolucionários como Maximilien Robespierre e Denis Diderot levou a outro patamar a mobilização operária com a invenção do “bossnapping”. O termo vem da fusão de duas palavras inglesas, “sequestro” e “chefe”, e caracteriza uma forma de protesto cada vez mais comum na França: trancafiar o patrão.

Na terça-feira, trabalhadores mantiveram sete gerentes em cativeiro por 12 horas para tentar impedir a venda de uma fábrica de peças da Renault, em Lorient. Todos foram libertados no início da madrugada. Um representante do sindicato, Mael Le Goff, membro da Confederação Geral do Trabalho (CGT), disse que os operários soltaram os chefes porque eles não queriam dialogar – e é inútil tentar negociar com quem não quer se esforçar, segundo Le Goff.

A Renault condenou “veementemente” o sequestro coletivo e disse que está tentando encontrar um comprador para a fábrica para “manter a atividade em Lorient e preservar empregos” – a empresa tem hoje por volta de 350 funcionários. A fábrica permanece fechada, com trabalhadores fazendo piquete na porta, exigindo que a montadora não venda a instalação. “Ainda aguardamos uma solução para o problema”, disse Le Goff.

O hábito do “bossnapping” se difundiu durante o governo de Nicolas Sarkozy, em 2009, com um reflexo desesperado da crise financeira global do ano anterior. Primeiro, Sarkozy pediu educadamente o fim dos protestos. Depois, perdeu a paciência e ameaçou dar à polícia poderes especiais para reprimir os sequestros corporativos.

Um dos mais dramáticos aconteceu em janeiro de 2014, quando trabalhadores de uma fábrica de pneus da Goodyear, em Amiens, detiveram dois executivos da empresa por quase duas semanas para impedir o fechamento da linha de montagem.

Em 2015, funcionários da Air France, revoltados com o plano de demissão de 3 mil trabalhadores, invadiram a sede da empresa, nos arredores de Paris, e perseguiram vários executivos da companhia. Muitos tiveram as roupas rasgadas. Um foi deixado sem camisa, apenas de gravata. Três empregados foram indiciados e condenados e penas que variam de três a quatro meses de prisão.

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