Brasil pode liderar a produção de hidrogênio verde

Do Valor Econômico
Foto: Ilustração

Com cerca de 80% da sua matriz energética renovável, o Brasil tem condições de se tornar protagonista na produção e exportação do chamado hidrogênio verde, um mercado que deverá atingir globalmente US$ 2,5 trilhões em 2050, respondendo por cerca de 20% de toda a demanda de energia no mundo, segundo estimativas do Hydrogen Council.

Importante para descarbonização da economia – ou seja, aplicação em larga escala e em setores diversos de alternativas neutras em carbono (CO2) -, o hidrogênio verde é obtido sobretudo por processo de eletrólise que usa apenas água e eletricidade de fontes renováveis como hidrelétrica, solar e eólica. Contrapõe-se ao chamado hidrogênio cinza, mais produzido e mais competitivo atualmente, mas obtido por meio de combustíveis fósseis com significativa emissão de CO2 na atmosfera.

“A exemplo do que está acontecendo na Europa, é fundamental inserir o hidrogênio verde como componente estratégico na matriz de energia brasileira, além de criar mecanismos de apoio e incentivo para viabilização da tecnologia no país em toda a cadeia do hidrogênio”, diz Paulo Alvarenga, principal executivo para América do Sul da Thyssenkrupp, conglomerado alemão presente em 60 países.

A empresa vislumbra potencial de aplicação em quatro principais áreas: hidrorefino do petróleo para transformação do óleo mais pesado em produtos de maior valor agregado (gasolina, diesel) e retirada do enxofre dos derivados de petróleo, fertilizantes hidrogenados (amônia e ureia), diesel verde produzido pela hidrogenação de óleos vegetais como de soja e mamona, e hidrogênio puro. “No Brasil há também o desafio de aproveitar momentos de sazonalidade das energias renováveis, como a eólica. Esse excedente de energia pode ser utilizado localmente para produzir hidrogênio verde.”

A Thyssenkrupp ostenta cerca de 600 projetos no mundo com potência total instalada de 10 gigawatts (GW). A empresa participa do desenvolvimento da maior planta de hidrogênio verde do mundo, que deve entrar em operação em 2025 na Arábia Saudita. Também selou contrato recente para instalação de planta de eletrólise da água de 88 megawatts (MW) para a canadense Hydro-Québec, entre outros projetos.

Na Siemens Energy, André Clark, gerente-geral da operação brasileira, diz que a empresa já negocia no país com indústrias interessadas em ser pioneiras na utilização de hidrogênio verde, e deve anunciar “em breve” os primeiros projetos-piloto. “Ainda é novidade, é uma tecnologia de ponta, mas acreditamos que o hidrogênio assumirá papel importante na transição energética sustentável e no acoplamento dos setores no país e, por isso, decidimos alocar nosso hub para atender a América Latina no Brasil”, diz Clark, que prevê utilização dessa tecnologia sobretudo nos segmentos de geração térmica, aço, papel e celulose e transportes.

A tecnologia da Siemens Energy para geração de hidrogênio verde é o eletrolisador Silyzer, cuja nova geração, com lançamento previsto para 2023, atingirá capacidade instalada de 100 MW – contra 0,1 MW em 2011 e 10 MW em 2018. A previsão da multinacional é iniciar em 2030 pesquisas em cooperação com a indústria química para geração da ordem de 1000 MW.

Entre os projetos da Siemens Energy no mundo, Clark destaca contrato na China com a Beijing Green Hydrogen Technology Development Co. para fornecimento de hidrogênio para o transporte público. No Chile, projeto-piloto com a Porsche e outras empresas produzirá a primeira planta comercial integrada do mundo em escala industrial para a produção de combustíveis sintéticos com impacto neutro no clima. A Siemens Energy também anunciou em janeiro investimento de € 120 milhões para criar turbina eólica comercial offshore que produz hidrogênio por eletrólise.

Para Jonathan Colombo, gerente de relações institucionais para América Latina da Vestas, produtora global de turbinas de energia eólica, o Brasil ainda precisa investir em infraestrutura de desenvolvimento e projetos em parceria com empresas interessadas na aquisição de hidrogênio verde. “O processo ainda é mais caro do que os dois outros tipos de hidrogênio, o cinza e o azul, mas os custos de produção estão caindo e atraindo a atenção de investidores”. Como projeto de destaque, ele cita o consórcio H2 Sines, formado em Portugal pela Vestas em parceria com EDP, Galp, REN e Martifer para instalação de 10 MW de eletrólise, com meta de avançar para 1 GW de capacidade de eletrólise alimentada com até 1,5 GW de capacidade de produção de eletricidade renovável até o fim desta década.

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