Do Valor Econômico
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A direção da Volkswagen Caminhões e Ônibus percebeu, este ano, a necessidade de reforçar investimentos no Brasil, única forma de conseguir acompanhar as tendências de eletrificação e conectividade dos veículos. Ontem, a empresa anunciou o plano de R$ 2 bilhões para o período de 2021 a 2025. Ao contrário do que acontece com os carros, grande parte do desenvolvimento de caminhões elétricos e, no futuro, autônomos, será feita no Brasil.
Além do novo ciclo de investimentos, o segundo maior fabricante de caminhões e ônibus do país anunciou a abertura de mais 550 postos de trabalho na fábrica de Resende (RJ). Segundo o presidente da empresa, Roberto Cortes, os novos trabalhadores vão ajudar a “suprir a uma demanda que se mostra bem mais positiva do que o projetado em junho ou julho”.
Para conseguir autorização da matriz do grupo para um plano mais robusto que o anterior – foram R$ 1,5 bilhão entre 2017 e 2021 -, Cortes teve de tomar algumas providências. “A Alemanha queria previsibilidade”, diz. Uma das medidas foi negociar com o Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense.
No acordo com os trabalhadores foi acertada redução no valor da participação dos resultados e reajuste salarial sem aumento real durante a crise, entre outras medidas para flexibilizar os contratos. A Volks e os fornecedores instalados dentro da fábrica de Resende (RJ) empregam 4,1 mil profissionais.
Para garantir o aval da matriz para o novo investimento, Cortes também conversou com fornecedores e concessionários para ter certeza de que todas as partes trabalham para a saúde financeira de seus negócios.
Os recursos do novo investimento serão obtidos, na maior parte, por linhas de financiamento, como do BNDES e instituições internacionais. “As taxas de juros no Brasil estão interessantes”, diz.
Ao contrário dos investimentos do passado, que, em grande parte, se voltavam à renovação de linha de produtos e atendimento à legislação de redução de emissões de poluentes mais simples, desta vez, a companhia tem de dar passos mais largos.
O transporte de cargas mais limpo passou a ser exigência dos clientes das transportadoras, sobretudo multinacionais. A Volks já tem um modelo elétrico – o e-Delivery, idealizado para entregas urbanas. Agora, a empresa precisa investir de forma mais pesada para desenvolver os próximos projetos de caminhões e ônibus elétricos e híbridos.
A primeira empresa a testar o elétrico da Volks foi a Ambev, que já encomendou 1,6 mil unidades do modelo para os próximos três anos. O primeiro lote, de 100 veículos será entregue à cervejaria a partir de junho de 2021.
Os executivos do setor acreditam que o Brasil tende a se destacar no desenvolvimento de veículos de carga na era da eletrificação. Ao contrário dos automóveis, usados de forma mais ou menos parecida em todo o mundo, caminhões são ferramentas de trabalho com características diferentes em cada região. O tamanho da carga é uma delas.
“Enquanto na Europa os caminhões transportam até 40 toneladas, em média, no Brasil chegam a 75”, afirma Marcos Saltini, diretor de relações institucionais da Volks Caminhões. “Isso implica em diferenças em estruturas de longarinas, resistência das cabines e também na infraestrutura das estradas”, destaca.
Para desenvolveu o projeto do seu primeiro caminhão elétrico, a Volks fez uma parceria com empresas como Siemens, Weg, Eletra e Baterias Moura.
A indústria se mobiliza, agora, para buscar incentivos para estimular o uso dos caminhões elétricos. “Não queremos subsídios, mas talvez linhas de financiamento diferenciadas possam ser um caminho”, afirma Cortes. “Na Europa existem vários incentivos, como a liberação de algumas áreas de estacionamento”, diz.
Em 2019, o BNDES chegou a criar um programa voltado à chamada mobilidade de baixo carbono. Mas, segundo Saltini, a dificuldade para esse programa ir adiante é a falta de fonte de recursos.
Se os planos da Volks derem certo, a ideia é estimular a produção de caminhões elétricos – para entregas em áreas urbanas inicialmente – até fazer com que o preço desse tipo de veículo se equipare ao de um a combustão. “Quando isso acontecer e o transportador perceber que não precisa tocar o óleo ou filtro de ar e que a lona de freio não tem o mesmo desgaste ele vai querer o elétrico”, afirma Saltini.
Como as demais montadoras, a Volks Caminhões também tem enfrentado falta de peças por conta dos efeitos da pandemia. Segundo Cortes, a “ineficiência” provocada pela disseminação da covid-19 na indústria provoca mudanças na rotina do trabalho. Para manter os operários das linhas de montagem em distanciamento seguro, a Volks tem feito em dois turnos de produção o que, antes da pandemia, fazia com uma única turma.
A falta de componentes tem provocado desajustes na produção. “É um pinga-pinga num quebra-cabeças de uma cadeia logística complicada”, diz Cortes. Segundo ele, enquanto o mercado de caminhões caiu 14% a produção recuou 25%. “Todo o mundo se programou para uma queda maior”.