Por BBC Brasil
Foto: Juraj Varga (Pixabay)
À medida que o coronavírus se espalha, as pessoas procuram tomar precauções em relação a viagens de avião e ao uso de transporte público.
Em geral, todos os vírus que afetam o trato respiratório são transmitidos pela via aérea ou pelo contato das mãos com a boca ou com os olhos — respirando no mesmo ambiente, tocando algo que uma pessoa infectada tocou, por exemplo. Até agora, a grande maioria dos casos do novo coronavírus registrados foram transmitidos entre pessoas com contato próximo, como familiares ou amigos e profissionais de saúde.
A definição de contato próximo do Ministério da Saúde brasileiro é “estar a dois metros de um paciente com suspeita de caso por coronavírus, dentro da mesma sala ou área de atendimento (ou aeronaves ou outros meios de transporte), por um período prolongado, sem uso de equipamento de proteção individual. Ou trabalhar, visitar ou compartilhar uma área ou sala de espera de assistência médica”.
A BBC ouviu especialistas para esclarecer dúvidas sobre os riscos de voar, fazer um cruzeiro ou usar transporte público.
Aviões: É comum as pessoas pensarem que é mais provável ficar doente em um avião, porque os passageiros respiram um ar “velho”, que não é fresco.
Mas, na verdade, o ar em um avião pode muito bem ser de melhor qualidade do que em um escritório, por exemplo — e quase certamente é melhor do que um trem ou um ônibus.
Embora possa haver mais pessoas por metro quadrado em um avião cheio, o ar está sendo trocado de forma mais rápida.
O professor Quingyan Chen, da Universidade de Purdue, que estuda a qualidade do ar em diferentes veículos de passageiros, estima que o ar em um avião seja completamente substituído a cada 2 a 3 minutos, comparado a uma taxa de 10 a 12 minutos em um prédio com ar-condicionado.
Isso ocorre porque, enquanto você está em um avião, o ar que você respira está sendo limpo por um instrumento chamado filtro de ar particulado de alta eficiência (Hepa, na silga em inglês). Este sistema é capaz de capturar partículas menores do que aquelas que são capturadas pelos sistemas comuns de ar condicionado, incluindo vírus.
O filtro aspira ar fresco do lado de fora e o mistura com o ar já existente na cabine, o que significa que em determinado momento metade do ar é fresco e a outra metade não. Muitos sistemas comuns de ar condicionado apenas recirculam o mesmo ar para economizar energia.
Infecções como o coronavírus podem ser transmitidas ao tocar superfícies contaminadas (seja a mão de uma pessoa ou a maçaneta de uma porta) ou ao respirar gotículas de alguém que tosse ou espirra e que tenha o vírus.
A bioestatística americana e pesquisadora em saúde pública Vicki Hertzberg, da Universidade Emory, coletou amostras de superfícies em 10 voos transcontinentais em 2018 e descobriu que “pareciam sua sala de estar”. Ou seja, não há nada de muito diferente nas amostras colhidas no avião em comparação com os testes feitos em prédios e outros tipos de transporte, segundo ela.
No entanto, é difícil generalizar sobre os riscos em qualquer forma de transporte, porque existem vários fatores que aumentam ou diminuem as chances de pegar um vírus. Por exemplo, em um voo longo, os passageiros podem se movimentar mais dentro do avião e, se tiverem o vírus, correm o risco de espalhá-lo ainda mais.
A orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que a área de maior risco são as duas filas na frente, atrás ou ao lado de uma pessoa infectada. Porém, durante o surto de Sars em 2003, em um avião que transportava uma pessoa infectada, 45% dos que pegaram a doença estavam sentados fora da zona de duas fileiras de distância.
O conselho que vem sendo repetido sempre se aplica: a orientação é lavar as mãos, limpar as superfícies sempre que possível e espirrar ou tossir em um lenço de papel.
A principal preocupação sobre as viagens aéreas é como ela pode transportar pessoas potencialmente infectadas de uma parte do mundo para outra.
No Brasil, o Ministério da Saúde informou que podem ser considerados como casos suspeitos da covid-19 “todas as pessoas que chegarem ao Brasil de países da América do Norte, Europa e Ásia, e tiverem sintomas como febre, coriza, tosse, falta de ar”.
Antes, de acordo com o governo brasileiro, os casos suspeitos eram classificados apenas a partir do histórico de viagem para alguns países com transmissão local da doença.
Trens e ônibus: Grande parte do risco potencial de infecção em trens e ônibus depende de quanto esses transportes estão cheios, o que varia de acordo com cada cidade, cada rota e horários.
Em linhas de metrô onde há uma densidade extremamente alta de pessoas nos vagões, pesquisas anteriores ao novo coronavírus já indicaram uma ligação entre o uso desses transportes e a probabilidade de contrair doenças respiratórias.
São Paulo tem três das dez linhas de trem e metrô mais lotadas do mundo, segundo pesquisa do Google Maps feita com a avaliação de usuários da plataforma de outubro de 2018 a junho de 2019 durante o horário de pico (6h às 10h). Aparecem no ranking a linha 11 (Coral), a linha 8 (Diamante) e a linha 9 (Esmeralda).
Uma pesquisa de 2018 feita em Londres pela especialista Lara Gosce, do Instituto de Saúde Global, mostrou que as pessoas que usavam o metrô regularmente eram mais propensas a sofrer sintomas semelhantes aos da gripe.
“A pesquisa mostrou que os bairros servidos por menos linhas de metrô — onde os habitantes são obrigados a mudar de linha uma ou mais vezes — têm taxas mais altas de doenças semelhantes à influenza, em comparação com os passageiros que chegam ao seu destino por uma viagem direta”, disse ela.
Se você estiver viajando em um trem ou ônibus relativamente vazio, os riscos mudam. Também são fatores importantes o grau de ventilação dos veículos, a limpeza pela qual eles passam, e quanto tempo você passa dentro deles.
Gosce diz que “é importante limitar o número de contatos próximos com indivíduos e objetos potencialmente infectados”.
“Em termos de viagem, evite os horários de pico, se possível”, diz ela, sugerindo, sempre que viável, que os passageiros escolham rotas que envolvam apenas um meio de transporte.
David Nabarro, consultor especial de coronavírus da OMS, disse à BBC que, embora o transporte público seja uma coisa importante a se observar, as evidências sugerem que o tipo de “contato breve” que as pessoas têm quando viajam juntas não parece, até agora, ser a “fonte mais importante de transmissão”.