Cidades inteligentes: como o futuro passa por aqui

Helsinque – Assim caminha (quase toda) a humanidade: celular na mão e medo da violência urbana, música na plataforma digital durante horas no engarrafamento e a espera do fim do mês para pagar as contas. E aí vem a pergunta: há saída? Em Helsinque, a capital finlandesa de 624 mil habitantes – o país nórdico tem 5,5 milhões, pouco acima da população da Região Metropolitana de Belo Horizonte – a resposta é “sim”, com uma enormidade de exemplos práticos sem perder o foco no alvo: qualidade de vida, redução de custos e desenvolvimento sustentável.
Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
Considerada a cidade mais “inteligente” do mundo, com destaque em economia circular (ciclo produtivo sem gerar resíduos) e, principalmente, avanços tecnológicos e formas de neutralizar as emissões de carbono, Helsinque se tornou referência em inovação e preservação ambiental. Nos últimos anos, abre as portas ao mundo para mostrar seu valor e os frutos da parceria entre municipalidade, universidades, setor privado e população. Em resumo:(smart city em inglês).
“Por que não dividir os espaços de trabalho, no sistema coworking, ou ajudar a melhorar o transporte público com iniciativas igualmente compartilhadas? E pagar menos pela energia elétrica, com soluções econômicas?”, questiona o especialista em comunicação Juha Jäppinen, do Forum Virium Helsinki, que atua em 40 projetos, um deles no Bairro Kalasatama (antigo Porto dos Pescadores). Nesse local, já está em fase experimental o protótipo de um ônibus robô, elétrico, sem motorista. “Helsinque se tornou cidade-laboratório, com várias frentes de trabalho e atraindo empresas com base em nossos programas-piloto”, resume o profissional da companhia que planeja “o futuro” da capital.
O conceito de propriedade está caindo por terra quando se trata de serviços públicos. “Em vez de comprar um carro, vamos pagar pelo deslocamento, usar o celular para chamar o motorista ou preferir carros elétricos”, afirma o especialista com base em pesquisa que mostra a maioria da população da capital totalmente favorável a resolver urgências e outras demais pendências pelo smartphone. “Temos muitas ilhas na Finlândia, então, para se chegar a algumas delas, onde não há serviço de barco, vamos usar aplicativos digitais. É o Uber para barcos”, acrescenta Jäppinen.
Bem longe do Mar Báltico, que banha Helsinque, e do Oceano Atlântico, entre Brasil e Europa, Belo Horizonte se adapta aos novos tempos e adota práticas da cidade inteligente. “Esse é o futuro”, define o subsecretário municipal de Modernização de Gestão e secretário adjunto de Planejamento, Orçamento e Gestão da Prefeitura de Belo Horizonte, Jean Mattos Duarte. Na capital, moradores se posicionam sobre mobilidade, qualidade do ar e uso da tecnologia para melhor a vida da população. O sentimento é de que há muito para ser feito. “Se não melhorar o transporte público, não há futuro”, diz uma gerente de restaurante.
Com projetos financiados também pela União Europeia, Helsinque faz do conceito cidade inteligente uma bandeira para resolver as urgências urbanas, em especial a mobilidade, “tornando a vida na cidade mais fácil e deixando os serviços em bom funcionamento”. As evidências, algumas bem simples, estão visíveis ao visitante, como ocorreu recentemente quando um grupo de jornalistas latino-americanos participou de ciclo palestras sobre smart city em Helsinque, a convite do Ministério das Relações Exteriores. No espaço ao lado da sala da primeira palestra, os repórteres se surpreenderam ao ver muitos bebês, o que foi logo explicado: tratava-se de um prédio de múltiplas atividades, incluindo acolhimento das criancinhas enquanto os pais trabalham.
“Há muito para ser feito em BH, principalmente quanto ao transporte coletivo. Se não mudar, não há como falar em futuro” Simoní Rodrigues de Jesus, gerente de restaurante e moradora do Bairro Nova Cintra
Se a meta da Europa é neutralizar o carbono (dióxido de carbono) até 2050, Helsinque quer acabar com as emissões consideradas vilãs do aquecimento global até 2035. Por isso, todos os aspectos da cadeia produtiva são levadas a sério, especialmente no tocante ao transporte, qualidade do ar e energia. Dessa forma, são desenvolvidos sensores em edifícios para reduzir o consumo de energia com mais eficácia e, na sequência, baratear o custo. Os técnicos estimam que Kalasatama, hoje com 3 mil habitantes, terá 25 mil em 2035, sendo necessárias, portanto, ações para frear a descarga de poluentes na atmosfera.
Como a capital finlandesa tem invernos rigorosos e apenas três meses de sol por ano (com 20 horas de luz solar por dia, no verão), os pesquisadores estudam as formas de manter as baterias dos veículos elétricos em funcionamento no frio e planejam estações para recarga dos ônibus robôs, que têm velocidade de 15km/h e circulam em caráter experimental. O certo mesmo, adiantam os técnicos, é investir em soluções para dar resultado e fazer a integração dos ônibus robôs com o transporte público, destaca Ulla Tikkanen, gerente de projetos do Forum.
Um dos pontos importantes está na população, que responde positivamente às iniciativas “inteligentes”, inclusive na destinação do lixo doméstico: apenas 1% dos resíduos descartados em Helsinque não são reciclados. Guardadas as devidas proporções (população, volume de lixo etc.), vale a comparação: em BH, apenas 35% do lixo doméstico recolhido tem potencial de reciclagem, e, desse total, 18% são reciclados, sendo 3% por parte da prefeitura e 15% a cargo de empresas particulares, associação de catadores e outros.
Momento crucial de mudança
Certa de que o conceito de cidade inteligente significa assunto novo para grande parte do planeta, Helena Sarén, responsável pelo setor de Energia Inteligente da Business Finland, agência vinculada ao governo do país para financiamento de pesquisas, explica que o mundo se encontra num momento crucial, no qual a energia é “a pedra angular”.
Para o especialista em economia circular e neutralização de carbono Ernesto Hartikainen, da fundação finlandesa de inovação Sitra, se a fase é de transição, torna-se imprescindível a reeducação das pessoas. Lembrando que as inovações geram emprego e, pensando na coletividade, Hartikainen lembra que, com os avanços tecnológicos, ninguém deve querer ser dono de tudo, como de veículos, mas compartilhar. “O transporte público tem que ser um direito humano.”
“Não há como falar em meio ambiente, sem pensar nos filhos e se preocupar com eles. A gente ainda aguenta, pois está mais velho, mas as crianças…” Sérgio Henrique Lopes de Oliveira, a mulher, Franciele, e os filhos Guilherme e Gabriel
Em Espoo, com 285 mil habitantes e distante 20 minutos da capital, 94% dos serviços são digitais, do fornecimento de energia à segurança pública. Nessa cidade, fica a sede da Nokia, que vem investindo em tecnologia para segurança pública. Numa mesma antena (protótipo), por exemplo, há sensores para monitorar o meio ambiente, segurança e trânsito dentro do projeto LuxTurrim5G, específico para smart city. Com moradores de mais de 50 nacionalidades, o inglês virou a língua oficial, diz a gerente de desenvolvimento da prefeitura local, Valia Wistuba.
“As mudanças no país ocorreram principalmente a partir da Rio-92, com o cumprimento das determinações”, diz a arquiteta e especialista em ecocidades Carmen Antuña Rozado, para quem todos os aspectos devem ser considerados numa cidade inteligente, entre eles o patrimônio cultural edificado, pois muitas têm estrutura dos séculos 18 e 19 e problemas do 21. 
Lições postas em prática em BH
Certa de que o conceito de cidade inteligente significa assunto novo para grande parte do planeta, Helena Sarén, responsável pelo setor de Energia Inteligente da Business Finland, agência vinculada ao governo do país para financiamento de pesquisas, explica que o mundo se encontra num momento crucial, no qual a energia é “a pedra angular”.Para o especialista em economia circular e neutralização de carbono Ernesto Hartikainen, da fundação finlandesa de inovação Sitra, se a fase é de transição, torna-se imprescindível a reeducação das pessoas. Lembrando que as inovações geram emprego e, pensando na coletividade, Hartikainen lembra que, com os avanços tecnológicos, ninguém deve querer ser dono de tudo, como de veículos, mas compartilhar. “O transporte público tem que ser um direito humano.”Em Espoo, com 285 mil habitantes e distante 20 minutos da capital, 94% dos serviços são digitais, do fornecimento de energia à segurança pública. Nessa cidade, fica a sede da Nokia, que vem investindo em tecnologia para segurança pública. Numa mesma antena (protótipo), por exemplo, há sensores para monitorar o meio ambiente, segurança e trânsito dentro do projeto LuxTurrim5G, específico para smart city. Com moradores de mais de 50 nacionalidades, o inglês virou a língua oficial, diz a gerente de desenvolvimento da prefeitura local, Valia Wistuba.”As mudanças no país ocorreram principalmente a partir da Rio-92, com o cumprimento das determinações”, diz a arquiteta e especialista em ecocidades Carmen Antuña Rozado, para quem todos os aspectos devem ser considerados numa cidade inteligente, entre eles o patrimônio cultural edificado, pois muitas têm estrutura dos séculos 18 e 19 e problemas do 21.
A capital mineira está comprometida com os marcos globais de desenvolvimento e promove o monitoramento dos indicadores dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU), explica o subsecretário municipal de Modernização de Gestão e secretário adjunto de Planejamento, Orçamento e Gestão da Prefeitura de Belo Horizonte, Jean Mattos Duarte. “A cidade inteligente é o futuro. O objetivo é reunir a sociedade para construção de uma cidade moderna e inclusiva”, afirma.
Em BH, o programa, em consonância com os indicadores da ONU, está dividido em cinco eixos: governança e serviços ao cidadão; desenvolvimento econômico e urbanismo; cultura tecnológica e inclusão digital; mobilidade e segurança; e meio ambiente, sustentabilidade e cidadania.
O secretário dá alguns exemplos da cidade inteligente: mais de 180 mil lâmpadas de iluminação pública sendo substituídas pelas de LED, incluindo 26 mil com telegestão; instalação de mais de 1 mil pontos de acesso gratuito à internet sem fio (hotspots) até 2020; 1,5 mil câmeras de videomonitoramento; biofábrica, em que são criadas joaninhas para auxiliar no controle de pragas; e Sonho Delas, com curso gratuito de programação para mulheres a fim de qualificá-las para o mercado da tecnologia da informação, que foi finalista de um prêmio internacional na categoria Cidades Inclusivas e Compartilhadoras, em Barcelona, na Espanha.
E mais: criação do PBH APP, que conta com mais de 40 serviços para os cidadãos, implantação de plataforma chatbot e outros processos de modernização dos canais de atendimento do município, criação do estacionamento rotativo digital (inclusive com a tecnologia Blockchain, algo inédito no Brasil), e aumento de 7% da quantidade de faixas fiscalizadas eletronicamente (31 equipamentos com 72 faixas), implantação das primeiras agroflorestas urbanas da capital mineira às margens do Ribeirão do Onça, no Bairro Ribeiro de Abreu, na Região Nordeste, e o Centro Integrado de Operações, com compartilhamento de imagens para o monitoramento dos espaços urbanos. Duarte destaca que o sistema de fechamento da Avenida Vilarinho, quando há inundação, também faz parte de ações da cidade inteligente.
* O repórter viajou a convite do governo finlandês, via Ministério das Relações Exteriores/Departamento de Comunicação

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Pular para o conteúdo