A ANTP (Associação Nacional de Transporte Público) divulga nesta quarta-feira (25) estudo sobre o impacto que a eventual migração de passageiros de ônibus para os carros de aplicativos, tais como Uber e 99, poderia trazer a São Paulo.
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil – Ilustração |
A entidade reúne especialistas de empresas públicas e privadas do sistema de transporte, incluindo viações de ônibus. Entre os efeitos destacados estão aumento dos congestionamentos, da emissão de poluentes, dos acidentes e da tarifa dos ônibus (ou da necessidade de elevar o subsídio, bancado pelos impostos).
Os aplicativos que atuam em São Paulo dizem que o efeito deles é ajudar na mobilidade.
O estudo reflete a crescente preocupação do setor de transporte publico com a atuação dos apps.
Recentemente, outra pesquisa, da Quest Inteligência com um grupo de pesquisa da USP, indicou que 62% dos usuários da Uber Juntos (viagens com compartilhamento do mesmo automóvel) disseram que se locomoviam por outros meios de transporte público antes de usarem essa modalidade de carro.
O estudo da ANTP tentou medir o impacto que a troca dos passageiros de ônibus pelos carros levaria a São Paulo sob três cenários: migração de 10%, 20% e 30% da demanda.
Um dos primeiros efeitos seria o aumento dos quilômetros rodados por carros (de 19% a 57%). Este fenômeno causaria uma maior emissão de poluentes (de 12% a 43%), de gases causadores de efeito estufa (de 21% a 78%) e de acidentes com vítimas (3% a 8%).
Com maior trânsito, cresceriam também os custos operacionais das empresas de ônibus (de 11% a 33%).
Com a queda do número de passageiros, o sistema de ônibus também sofreria com uma diminuição da receita.
Segundo o estudo, a defasagem deveria ser bancada pelo aumento da tarifa ou do subsídio da prefeitura. Se o custo recaísse apenas sobre o passageiro, o aumento da tarifa estimado é de 31% a 141%. a depender dos cenários.
“Os aplicativos tratam de um negócio que interessa a algumas pessoas, não ao sistema como um todo”, defende Luiz Carlos Néspoli, da ANTP Segundo ele, os aplicativos se desenvolvem em deslocamentos mais rentáveis. “Se os ônibus perdem parte da demanda no filé mignon, nos trechos mais rentáveis o casteio do restante do sistema tem que ser bancado pelo passageiro que mora em rotas menos rentáveis”.
As empresas de ônibus de São Paulo chegaram a pleitear à prefeitura que fossem autorizadas a fazer serviço de transporte sob demanda, mas o projeto não prosperou. Em Goiânia e no ABC paulista já existem experiências do tipo.
Juciano Rodrigues, do Observatório das Metrópoles da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), afirma que é cedo para compreender se os aplicativos capturaram passageiros do transporte público. Ainda assim, o modelo de ônibus sob demanda pode ser uma chance de recuperação de passageiros que possam ter migrado.
O argumento geral dos aplicativos é de que seus serviços não competem com o transporte público e que auxiliam o passageiro a deixar seu carro em casa e ter mais acesso a grandes terminais de ônibus ou estações de metrô e trem.
Para a 99, a pesquisa da ANTP não tem base científica, uma vez que, nos últimos anos, os ônibus perderam passageiros, em grande parte, para a expansão do metrô e melhora dos trens e não por causa dos aplicativos.
A Uber diz que a hipótese do aumento dos congestionamentos não condiz com a queda do índice de lentidão nos últimos anos em São Paulo.
FOLHA DE S. PAULO – SP