Em Natal, ônibus perdem 20 milhões de passagens em quatro anos

Em quatro anos, foi registrada uma queda de 20 milhões de passagens nos ônibus de Natal. O período observado é de 2014 (que registrou um total de  113,9 milhões de passagens), a 2018 (com 93,6 milhões), representando o volume global de tarifas, entre pagas e as meias passagens e gratuidades. O mesmo período coincide com um aumento de R$ 1,30 no preço da tarifa, na tentativa de manter as receitas das empresas que fazem o transporte público. Mas acontece exatamente o contrário: uma pesquisa nacional feita pelo Conselho Nacional do Transporte (CNT) em 2017 mostra que o preço das tarifas, considerado alto pela maioria dos brasileiros, é a segunda maior causa para o abandono do ônibus por outros meios de transporte. Somente a “falta de flexibilidade dos serviços (rotas e horários)” é mais comum.
Foto: Ilustração/UNIBUS RN
Um trabalho realizado pelo professor universitário Rubens Ramos, especialista em transporte, reafirma a tendência em Natal. Rubens analisou a relação entre aumento de tarifa e número de passageiros em seis anos, de 2012 a 2018. Entre o primeiro ano e 2013 não houve aumento na tarifa, e o número de passageiros se manteve. A tarifa aumentou nos anos seguintes e o número de passageiros caiu progressivamente. O maior aumento foi em 2016 (18%), com uma queda de 4% na demanda.
Esse estudo foi apresentado pelo Sindicato das Empresas de Transporte Urbanos (Seturn) no dia 19 de março, durante uma audiência pública na Câmara Municipal de Natal. O Seturn é o principal agente para o aumento da tarifa de ônibus anualmente, alegando aumento de despesas e diminuição na arrecadação. Neste ano, eles defendem diminuir os impostos sobre a tarifa para não haver aumento real do preço.
“Como ficou demonstrado que a solução não é aumentar a tarifa, não queremos isso porque baixa a quantidade de passageiros, que já vem acontecendo há alguns anos”, afirma Nilson Queiroga, técnico do Seturn. “Mas o aumento das despesas acontece para nós, então defendemos uma diminuição dos impostos para que não seja necessário o aumento”.
Para Clodoaldo Cabral, secretário-adjunto de mobilidade urbana de Natal, a principal razão para a queda dos passageiros é o surgimento de novas alternativas de transporte, como os aplicativos e melhoria no sistema de trens. “O trem tem subsídio do Governo Federal e manteve o mesmo preço, então existe essa migração”, argumenta. E o preço da passagem, também é motivo para a queda de passageiros? “Pode até contribuir”, respondeu Clodoaldo.
Foto: Ilustração/UNIBUS RN
As tarifas de ônibus são divididas em duas categorias: as inteiras e os benefícios (meia passagem para estudante, gratuidade para idosos e deficientes, oficiais de justiça, motoristas rodoviários). O modelo atual para garantir os benefícios é do primeiro grupo (inteiras) cobrir as despesas do segundo. Entretanto, a sustentabilidade do modelo tem se tornado cada vez mais difícil porque a queda nas tarifas é praticamente nas passagens inteiras.
Estatísticas da Secretaria de Mobilidade Urbana de Natal (STTU) mostram queda de 72,2 milhões de passagens inteiras em 2014 para 53,5 milhões em 2018, significando 18,7% de queda. Por outro lado, o número de beneficiados praticamente se manteve no mesmo período (41,7 milhões para 40,1 milhões). “Isso significa que quem paga o benefício é o passageiro”, avalia Nilson Queiroga.
Um modelo sugerido por empresários e aceito em outras capitais do Brasil são os subsídios públicos para benefícios. A cidade mais conhecida pelo modelo é São Paulo, com R$ 2,6 bilhões reservados para isso somente este ano – mesmo assim, a tarifa teve aumento de R$ 0,30 centavos no início deste ano. 
Em Natal, existe o plano de criar um fundo para subsidiar as gratuidades, previsto na lei de licitação de transportes sancionada no ano passado pelo prefeito Álvaro Dias. As receitas do fundo serão provenientes de multas relativa aos serviços de transporte público, implantação dos estacionamentos públicos rotativos (em licitação), convênios, contribuições do setor público e privado, créditos suplementares do orçamento municipal e verbas publicitárias dos veículos.
Números

Passageiros
2014
113,9  milhões de passageiros em 2014
72,2 milhões de pagantes
41,7 milhões de benefícios
2018
93,6 milhões de passageiros em 2018
53,5 milhões de pagantes
40,1 milhões de benefícios
Motivos que provocaram a  substituição do ônibus por outros modos no Brasil (2017)
Falta de flexibilidade dos serviços (rotas e horários):  30,3%
Preço elevado da tarifa: 29,5%
Pouco conforto:  29,2%
Elevados tempos de viagem: 25,4%
Baixa confiabilidade (atrasos):  20,1%
Insegurança/violência:  20%
Mudou o local de trabalho: 15%
Dificuldade de acesso (forma de solicitação do serviço): 10,8%
Mudou de endereço: 5%
Falta de integração com outras linhas de transporte público: 5%
Cobertura restrita do sistema:  3,4%
Opções limitadas de pagamento: 3,4%
Falta de informações sobre o  serviço: 1,8%
Outros: 12,6%
NS/NR: 2,6%
Fonte: Conselho Nacional dos Transportes (CNT)
Tribuna do Norte

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